segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

À deriva

A primeira vez que se viram foi acidental. A última vez também. No meio, por acidente: paixão. Sem querer ("ai") um filho. Rotina, várias reuniões de família e até, vejam só, fé, assim displicentemente.

Eram tão e amar era tão corriqueiro que se amavam esquecidos

da energia que se gasta,
da atenção que se devota,
da memória que fecunda.

A última vez que se viram: acidental.
Um faca. O outro sangue.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Na eterna véspera

Engraçado como amar é presença. Amar não deveria ter nada a ver com os fósforos Fiat Lux, nada a ver com ponto de ônibus, nada a ver com odiar a chuva. Percebi que amar está em todo lugar e que tudo pode ser propício. Engraçado como a vida é maleável e relativa quando se fala de amor. Você existe em função de uma dimensão interna de si mesmo, que jamais se prometeu possível, que não deveria ter lugar no tempo. Interessante como assim, sem menos, as coisas escolhem ser outras coisas dentro de nós e com isso o dia se torna uma imensa coletânea de momentos instáveis, sem vínculo. Ainda assim, o amor consegue preencher todos eles. O amor. Que linha estreita é essa que costura tão acertiva todos os retalhos incomunicáveis da rotina? De que infinitos para cima ou para baixo vieram esses líquidos, esse fluidos impassíveis do amor que penetram em mil camadas sem pudor nem erro? Que grande besteira ou falácia é essa sentença incorrigível, quem enviou, quem decidiu? Amar assim, por ser tão oni, tão sempre e essas palavras tão totais, jamais se explica por dentro.

E olha só, tudo já foi dito, é desesperador e ao mesmo tempo reconfortante.
Estamos todos juntos e sós.

(sem luta, com pudores)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Este ainda não escrevi

Estreito é meu rio, por onde navego, meu rio magro, meu desejo mais profundo.

Estranho é meu rio, meu pedaço de nunca-mar. Nado por ele todos os dias e a vida me consome nele como se algo no fundo pudesse ser maior do que sua majestosa extensão. Não há nada no fundo, descobrirei mais tarde, não há nada lá. Esse rio é só a envergadura dos seus dois braços. Esse rio que corre por si só dentro das minhas veias, fora das minhas garras, esse rio está estragando toda a minha vastidão,

ele secou meus inteiros, assoreou.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

cama

eu viro pro lado e sempre abraço travesseiros.
faço pra descurvar melhor as dores no ombro e pra amar mais.

Nucas de algumas mulheres

A vida me fode todos os dias. Mas penso na conjugação estupidamente bela entre vinte anos bem feitos e os pescoços falantes de tantas mulheres se dobrando e deitando e se coçando e perfumando, numa dança que movimenta o mundo há milhares de anos em Goiás ou Istambul pela fresta dos olhos de quem se deleita e por isso canta.

As nucas delas hão de redimir as marcas, os ombros furados pelos sutiãs, os desgostos, a secura. Elas vão nos fazer andar de costas, amar de costas, fechar os olhos. As nucas são suaves, sempre virgens, bem casadas com mãos, com línguas, com tinta. Amigas de pelinhos frágeis, narinas sedentas, vermelhos e roxos. Que bela contra-capa dos lábios, a nuca. Que sensibilidade estreita, contínua, com duplas raízes, para cima e para baixo.

Às vezes, quero só nucas. Nem quero seios, nem beijos, nem palavra nenhuma, não. Quero dias inteiros me cansando na preguiça impregnada nesses eixos.

Cabelos deslizam jogados pra cima, descem e cobrem esse pudendo permitido. Se eu te viro agora, penso, e me alegro: há de haver um sorriso no verso.

sábado, 27 de novembro de 2010

a cavalo

nas poucas e cobradas visitas, sinto que aqui tiro minhas tripas pra você como se fosse num café, olhos perdidos, tête à tête.
que seja breve o encontro na cidade-mãe

sinto e sinto

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

ª (º)

meu deus, eu penso, por que nasci tão forte?



-desaba a casa, eu fico mais alta

-acaba o dinheiro, eu fico rica

-acaba a paciência, eu corro

-acaba a memória, eu choro



meu deus, ganho de você numa mesa de bar

sábado, 20 de novembro de 2010

Lúcifer

Filho,

um dia o papai olhou pro Sol e amou.
um dia o papai tava sentado assim, vivendo bem, sabendo que era assim que se vive, olhou distraído pro Sol, sem saber do poder imenso que tem o Sol e descobriu tudo.
Filho, um dia o papai olhou pro Sol e viu que tudo só podia vir dali, era imenso demais todos aqueles líquidos que saem do Sol e se derramam nos concretos brancos de Brasília, filho, o papai nem sabia se fugia, se entrava no bloco, subia as escadas, fechava as persianas. Acho que o papai não podia, porque nesse dia em que o papai olhou pro Sol ele viu absolutamente tudo. E o papai percebeu que se as coisas são assim tão cobertas pelo Sol, tão violadas por sua indecência incandescente, tão estupradas por seu brilho, se as coisas são assim, o papai pensou que tudo só podia vir dali e era então como se o papai entendesse que na verdade o Sol era terra, terra fértil que rendia tudo de nós, e era a Terra que iluminava o Sol porque eram por direito os primeiros amantes possíveis, e nesse amor de cuidados que o Sol nutria pela Terra, ficava cativo de uma outra luz em troca. Por isso tantos presentes, filho, por isso tanto brilho, tanto verde no verde solar, tanto azul no azul que amanhece. Filho, um dia o papai olhou pro Sol e viu você, meu Deus, como viu. É bonito assim, é simplesmente bonito, por isso cansa, por isso irrita, filho, como te escrevo. Mas não. Está tudo lá, a história e a História.

Filho, um dia o papai olhou pro Sol e nasceu.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Tentando ser como eles foram

Eu não sei.
- O que é poeta?

Eu o indago.
- O que é, poeta?

Eu o vejo.
- O que é poeta.








(mas já se foram e eu vivo)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

6

Somos brasileiros. Às vezes nem me lembro.
É aí que penso como é estranha a relação que opõe a espera de Deus ao samba. O samba que nós, brasileiros, sabemos bem (os refrões).

terça-feira, 9 de novembro de 2010

5

Que bordel imenso em que vivemos, Raiz. Cada novo dia é parir um filho pra morrer no amanhã.

Digite um ponto, um pontinho.

domingo, 7 de novembro de 2010

4

amar sem recíproca é ainda melhor.

sábado, 6 de novembro de 2010

3

Quando eu passo por desconhecidos no corredor fico pasmo com o eco, com o oco que existe entre a minha indiferença à existência dessa pessoa e meu amor imenso pelo mundo e pela raiz da raiz das coisas que eu nunca vou saber sobre tanta gente.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

2

É preciso brigar, assim como é preciso perder.

É preciso, porque um dia nunca garante o outro.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

1

Estou de volta com os números pra dizer que só hoje entendi que pule é um anagrama para lupe.

Bom reler nossas cartas antigas.

Meu dia

Acordei tarde. Ela em cima da minha cama, mas na de cima. Tarde. Não deu pra almoçar. Voltei pra cortar o cabelo. Fiquei uns anos mais novo e mais limpo. Não deu ainda pra dar uma resposta pro espelho. Meu amigo chegou. Ele nunca veio aqui. Eu também estou aqui há pouco. A casa nova já é uma bagunça. Nunca vou ser organizado. Saí pra comer a comida que ajudei a comprar. Comi bem. Falei sobre viajar. Visitei a pensão. A dona continua velha e madrinha. Gosto do café e de seus hábitos. Fumamos. Ela fuma muito. Será que morrerá disso? Será que antes de mim? Fumamos outra vez. Estamos fumando em cigarros separados. Deve ser a separação. Choveu. Choveu o dia todo. Pensamos na noite. A noite é sempre uma atribuição desnecessária. Nos dá preguiça, mas somos seus entusiastas frustrados. Voltei. Não queria subir, nem ficar. Meu primo estuda bastante agora. Engraçado como isso tem tudo a ver com arte. Ele é sereno e meio corcunda. É um menino bonito. A casa estava uma bagunça. A culpa é também minha. Desci. Encontrei uma nova vizinha que me lembrava alguém. Quem sabe sejamos amigos. Aprendi que nunca se sabe que. Vim ver um filme que comecei a ver ontem. O filme é um duelo. Sempre um duelo. Não dá pra ficar no filme e sair da vida. Nem o contrário. Às vezes dá vontade de tocar qualquer coisa que está perto. Só pela proximidade, que é meio imã. Ainda desenvolvo uma teoria sobre isso. O filme acabou. Eu desci pra fumar. Fumo muito por causa da pensão. Na verdade, sempre quis fumar muito. Não é possível que isso vai me matar também. Fiquei fumando e andando com frio. Quando chove, a fumaça é mais grossa e precipita. Parece que estou pensando mais, mas é só um estímulo visual maior. FIAT. Aparecia FIAT. Nunca tinha reparado que o A é mais torto. Alguém pensou nisso e eu duvido que alguém já reparou. É impossível fugir da vida, dos carros e dos fatos. O mundo é notícia. Meu dia é curto. Eu penso. E penso que penso. Acho que não vou ter um carro antes dos 30. Não vai ser por falta de dinheiro. Subi. Tenho as meias nas canelas. Ser feio. Sentei pra escrever, porque já pensava em escrever. Quando escrevo, leio o que escrevo, totalmente afetado pelo tom da narrativa do filme. Ela é linear e seca. Não tem tom. Cada ponto é um fim de frase modorrento. Ninguém vai entender. Eu me sinto imensamente confortado por isso. Eu sou maior do que tudo que já vivi. E, de repente, tudo isso pode ser verdade. Pai, eu nunca vou ser você, porque você nunca me foi.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ídolo

Ele era daqueles que encantava uma mesa inteira de bar com discursos sobre amar, liberdade, meus avós falidos, nosso futuro de esplendor.
Sorria à revelia, mas quando chegava em casa era ainda mais doído saber o quanto a roupa da noite fedia a seus próprios dotes corruptos.

Pr'além

Sempre senti que precisava de grandes coisas na vida. Fui uma criança (que frase estranha) muito intuitiva, muito atenta ao mundo. Me lembro que sentia reações na pele de acordo com o que ia vivendo, lembro especialmente da boa sensação de estar acolhido, naquela cabaninha de lençois que eu e metade do mundo já montamos no quarto (será que aprendemos todos nos filmes ou toda criança tem a mesma ideia genial?).

Sempre senti tanto que ia viver muito, muita coisa. Mas nunca imaginei que chegaria até aqui. Esses momentos de silêncio, essa vida que se pensa, esse eu.

Ele não errou: Isso de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além.


Neste momento explodo. Pr'além.

domingo, 31 de outubro de 2010

E há a vida?

O velho era bege e fazia umas esquisitices enquanto caminhava pela garagem. Ele tremia quando se pretendia estático. Ele fedia esporadicamente, quando se pensava sozinho.

O velho era terrivelmente vivido, foi à Londres, matou jacarés, comeu haggis, fez dois partos.

Ele ficou lá com a boca atolada de respostas, mas ninguém perguntou.

E há a vida.

Ela odiava trabalhar e também odiava faltar ao trabalho.
Resolveu tudo com um sutiã mais apertado


no pescoço.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

, (fico)

porque preciso.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

cartas e raízes

se for assim, que essas barras sejam pista livre. que a última bala seja cega, como nós dois, raiz.

minha

cre

vida

sce

está

ndo

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Amar II

É como no meio de uma bolha, ela é vermelha e enorme, uma bolha enorme, elástica, talvez ela seja até de borracha, mas eu não sei, porque nunca toquei sua superfície interna, ela é milhões de vezes maior do que eu, eu estou aqui, no meio, de novo, aqui, eu conheço aqui, não tem gravidade e eu giro quando me movimento e parece meio como nadar e não importa pra onde eu me mova estou sempre no centro e não toco em nada, não há onde tocar, eu nem me lembro o que é isso, a superfície é distante e aqui é vermelho e imenso, parece até ter uma luz que ilumina, vem lá de fora, quem sabe sombras, quem sabe vozes, meio surdas, e eu me movo, com elegância, com desprezo, ai! eu queria tanto encostar nessa bolha!! ela também sou eu, mas estou preso, no meio do nada, no meio de um ar, de um diâmetro infinito, estou preso aqui nesse núcleo, aqui é vermelho e quente, às vezes parece morno e eu me encolho, me dobro inteiro, e a sensação de não ter um apoio me lembra um pouco como estar nu e é então que sinto um frio esquisito, meio vergonha e tristeza, alguma coisa que me faz dormir e quando abro os olhos estou ali tão longe daquele plástico, daquele tecido das paredes que nunca toquei, até que um dia eu vejo longe lá longe, talvez por baixo ou talvez por cima começa a subir uma coisa, vai engolindo as laterais de dimensões terríveis dessa minha bolha, vem chegando e eu vou fugindo pro lado contrário, é água, vem subindo uma água e eu vou deixando entrar os meu pés, afinal pode ser bom, são só pés e joelhos e não faz mal entrar um pouco, já estou cansado de ficar nesse meio eterno, nesse centro sem tato, afinal está aqui na cintura, qualquer coisa é só sair, é até bom, vem cobrindo meus ombros e eu me sinto até bem, será que metade? será que tudo? e não custa nada dar um mergulho, quem sabe eu fico por aqui e vvvvvv... por aqui é melhor eu vou nadando e até parece que nem é mais vermelho, é meio roxo, mas eu esqueci, esqueci que quando quando essa água toda me engole é tão mesmo quanto nadar no ar e espera.. rrrr espera, eu não consigo respirar e aí já não dá pra subir ou será por baixo ou, aaaa espera, eu não queria entrar, eu só queria as paredes, eu queria tocar lá, sair desse centro, dessa ação tão sem prumo, gggggg, que suave sou eu nesse centro, sufocado e morto, sufocado e morto, ai, ai, ai.

Amar I

Assim no meio de uma sala, uma sala braaanca, branca, imensa, eu no centro e de longe eu via as paredes distantes enormes, por todos os lados, essa sala sufocante, esse fim, paredes distantes e brancas e eu sabia que havia chão, porque me tocava e sabia que havia teto, porque longe lá longe, nos cantos distantes das paredes eu enxergava os vértices, como mudanças duvidosas de sombra e eu no centro, num centro eterno, e pra onde quer que eu andasse era centro, não importava porque se caminhasse mais um pouco pros lados, pros cimas, pros baixos, permanecia no centro, era sempre centro, tão longe eram essas paredes e eu me sentia eterno e lento e era um pouco bom, mas sem sentido, era terrível às vezes, eu via aquelas paredes e eu sabia que eram paredes e não teto e eu entendia que eram minhas e eu queria tocá-las, mas por que não descia ao chão? por que não descer e tocá-lo? por que não sentar? mas não, eu queria encostar, assim , em pé com um encosto, e me sentia assim sem amparo, não dava, eu andava, eu andava, eu andava, e estava sempre no meio, no branco, no nada, no não.

sábado, 2 de outubro de 2010

Nós, sujeito.

Se as poucas vezes que disseram que se amavam foram pensadas, não sei se a cautela era por se amarem demais e quererem luz sobre os êxtases ou por temerem cair nas redes decrépitas dos excessos da sinceridade. Eram talvez, nem casal. Eram só unidos, atados como que por acaso ou desespero. Quando se deram conta de que o cotidiano é por vezes amargo e os ritos de passagem são frágeis e sem sentido, perceberam que esse gozo furtivo de ser feliz só poderia estar guardado em coisas de uma serenidade inerte, como imagens dentro dos olhos, que assistiam deitados, um em frente ao outro, calculando a imensidão dos cílios, os poros da pele, o frio desse silêncio em que bocas parecem olhar umas pras outras.

Talvez fosse amor, mas seria tão bobo dizer que era. Fazia muito pouco sentido, tanta sincronia, tanto embate. Havia uma vontade imensa de superação, se atropelavam nas revoluções um do outro, forte, grande: e se anulavam. Duas tempestades imensas que juntas eram brisa. Não era amor, porque simplesmente era muito e pouco, aquém e além da palavra hermética, eram fluidos demais, muitos toques, de mãos, de olhos, os rostos colados pelas buchechas, tão mornos.

Acabou assim, sem mais. Você sabe como acaba, como começa, você conhece esta história, essa de não dar nome às coisas. Estou falando de nós, de nós dois, nós todos. Todos vivendo as mesmas histórias, as mesmas coisas. Isso é mais que identificação, menos que mediocridade.

Você sabe, vai doer. Eu sou você.

A inutilidade de dizê-lo

Eu enxergo cada detalhe dessa nossa comunhão unilateral, sou só mais um dos que te ama, sou só mais um que estuda e brilha e chora e reclama do corpo. Mais um que morre e fuma (nessa ordem), sou mais um entre tantos e isso vai me enlouquecendo gradativamente. Não fui eu quem inventou estas letras nem estas palavras, tudo estava pronto. Tenho que duvidar de tudo: do que sinto, do que escrevo, da lógica interna (quase um líquido) que escorre por mim enquanto penso no que falo. Nada disso é meu. Quem sabe se eu teclasse assim uns ashesnklcs,s sduilwçklaslllsslsl assim ao sabor do meu humor e talvez fosse algo de uma linguagem mais pura, mais minha, e eu acreditaria que sairia de mim na direção mais certeira, uma direção que não teve outros autores, inventores, só eu que teclo desenfreadamente, crendo que tudo o que sinto e tudo o que teclo só podem ter uma relação de algo tão íntimo com algo tão íntimo que não podem ser menos do que: EXPRESSÃO. Mas não. Tenho que escrever. No meu português, com letrinhas em fila (alguém me disse que isso também era como sentir). É por isso que escrever nunca enxuga a enxurrada do mundo, porque são pontos e vírgulas e regras de uma constituição que tinha tudo pra falir com nossos ardores, com nosso tudo! kljçasjlksljk, queria dizer de outra forma: sinto tal, sinto isso, sinto aquilo. Escrever assim, legível, compreensível, literário, me faz e fará algum dia ser isso: um mais. Mas se eu hei de batucar no teclado uma canção do meu ritmo próprio, sem ordem na fila, sem ordem na ideia. Oh! kjjkskljaslwlsdklj\ezlkaleo, você escutaria? Você entendeu?

porque precisamos ter mais atenção, disponibilidade e carinho, como com flores.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Desilusão

O mundo inteiro e seus subúrbios estão bem guardados nas rugas secas das minhas tias.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O amor são dois ou mais

Às vezes, sem mais, parava pra pensar e me assustava: meu Deus! meu Deus... será que algum dia você teve alguma noção do quanto eu te amei?

E o mundo nessa sua cabeça poderia ser qualquer coisa que eu jamais entenderia.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Chacina

As questões talvez nunca mudem, ainda que respondidas.

Vale a pena talvez ir matando pouco a pouco alguns exemplares tiranos da perfeição. Vale a pena matar todos os europeus e sua maldita boa vida, praças no verão, prédios históricos, os telefones e o metrô impecável. Todos os mitos, as vilas, os postes. Vale a pena matar poetas e mais poetas, lançá-los em vala comum. Matar Caio Fernando, Gabriel García, os sustos de Lispector. Aniquilá-los! Desgraçados! Nunca vou conseguir ler toda essa dor. Vale a pena ir matando os talentosos, são tantos! Designers moderníssimos, traços, balões em lugar de cabeça, muito sexo explícito, trangressões sem sentido, nonsense com sentido. Com certeza vale a pena matá-los. São uma praga, nós sofremos por eles. Vale a pena assassinar o café, o cigarro, a página amarelada, a fotografia amarelada, o namoro em Paris, o batom vermelho. O batom. Vale a pena destroçar todo e qualquer mochileiro, as trilhas da América Latina, suas veias abertas, Machu Picchu, o deserto de sal. Mataremos a China e a nova onda budista. Os sorridentes. A beleza do cerrado, o céu de Brasília, a casa de Cora. Vamos destruir tudo! Maceió, Bariloche, os alpes suíços, os Jardins de Sabatini, o Everest! São apenas sonhos amargos! Vamos destruí-los! O surrealismo, tão longe, tão longe... Vamos rasgar Limite, esquecer Caetano, o álbum branco dos Beatles e o Dark Side of the Moon. No lixo, no fogo! Vamos trucidar as morenas e as loiras e o queixo de Marlon Brando, todos os Oscars, Golden Globes e joias de família. Todo o dinheiro, títulos e posses, Tudo! T U D O! Tudo o que sei e quero, todos os meus desejos e vísceras. Todo o meu incompleto, meu infinito, meu inalcançável! Todas as minhas questões e medos!! Todo o meu futuro distante, o meu passado aleijado. Tudo o que se arrasta sobre mim e corta. Vamos queimá-los! Matá-los! Nunca poderemos alcançá-los. E se o mundo for belo em vão?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

À meia-noite

Amar pode ser uma grande mentira, pode ser só abstinência. Eu vim andando por essa terra toda, essa poeira brasileira de estrada, é tanto sol e verde e mais poeira que não faz sentido algum perder tempo com o amor. Somos feios demais pra amar, essa troca sem fim de carícias até a pele virar uma crosta, os olhares se cansam, a virília se cansa, e se não tiver todo esse jogo de entrar e sair, amigos também cansam. E é correria demais sobreviver na latrina em que nos botaram pra viver, não existe tempo pro amor! Pelos deuses, não há tempo pra cheiros, não são tempos de beijos! São tempos de cuspes, mais cuspes e escarros pra gente nadar! Não vale a pena entrar nesse filme a essa altura de nós, tanta gente nascendo e arrancando os ossos e assassinando os pais, amar pra quê? Estamos loucos? Estamos pelo menos loucos?

Lânguido

Escute os gritos. O mundo está trepando e isso o move há milênios.


terça-feira, 31 de agosto de 2010

M(eu)

Percebo, meu caro, que se entrasse vagarosamente no seu peito, deslizando cuidadoso pelas redes enrijecidas dos seus tantos corações, arrancando a matinha velha, o caldo que não se escarra, escutando a boa canção dos vazios. Se eu entrasse nesse seu peitinho moleque, meu caro, se eu entendesse a ritmia cansada da sua juventude, se eu reprogramasse seus ânimos difusos. Se fosse entrando irresponsavelmente e recortando as telas imensas do seu imaginário mavioso, me vendo nessas angústias e gozos, reconhecendo seus amores de assuntos passados. Se eu fosse caindo sem volta na bruma incerta dessas suas conclusões de aqui-agora, nesse seu olhar às vezes sem alma, às vezes vulcânico. E se eu entrasse e abrisse e fechasse portas e mais portas atrás de mim destas salas de ocos e abarrotados, de desfalidos, de datas perdidas, perguntas duplas e seus pais e irmãos num corredor enorme e mais gente deitada nos leitos pelos cantos dos cômodos, querendo palavras de afeto, pouquinhas palavras sem peso, pouquinhos olhares. Iria correndo, pro fundo, profundo, pra sempre, correria e entraria, vermelho, nebuloso, estrondoso, imenso, meu caro, que abismo, meu caro. E se chegasse a um fim, ou me cansasse e portanto chegasse, chegaria a você, acuado num cantinho, num meio, no alto, desnudo, perdido. Só assim. Só assim o amaria sem medo, meu caro, meu filho. Se entrasse, lhe juro, o arrancaria dessas suas raízes ressequidas, dormentes, e me plantaria tão suavemente nesse seu lugar, nesse transe. Traria você pra este mundo imenso que você nunca viu e voltaria também pra onde na verdade e sempre, sempre eu de fato estive.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Deste (meu) tempo

Eu acredito que vou suavemente renascer. Retomar meus gestos duros, reconstituir a postura estreita, reanimar meus ânimos, resgatar meus valores, reatar os laços das minhas incomplitudes, ressignificar estas dores, reorganizar os delírios, retardar ansiedades, repetir o mantra, relevar as pirraças, reavaliar os castigos, recobrar as forças.

Sendo que nunca os tive inteiros.

sábado, 28 de agosto de 2010

Uma dedicatória

Posto que gostaríamos de ser nós mesmos se não fôssemos o que somos, nós somos nós?

Entender

A dureza dos muros que me impedem de ser outros que não eu.

Amar algo que seja um segundo olhar, longe dos meus mundos de delírio.

Sofrer como quem goza. Faz parte.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Meus melhores amigos morreram.

No fim da noite estou sempre só e insatisfeito.

E só. Solidão tem mais peso, sou eu quase que peço pra tê-la. É um segundo o limiar da noite, quando se esgota o humor de fala solta que rege nossa romaria de bar. É de repente, se morre. Mas é também bom, e confesso, matar um por um, face por face, aos poucos e muitos. Até o sono chegar sem remédio.

Viver pode ser diferente

Eu me sentei ali embaixo desse bloco soviético mais uma vez. Sento lá às vezes pra me sentir fora de casa, nunca consigo me sentir tão longe. Estamos indo sempre pra casa.
Tenho uma sensação muito forte ao entardecer, uma metáfora cruel de tudo que desvanece, eu que sou tão perecível, tudo me escapa tão simplesmente. Me sinto vivo e ávido quando encaro o contorno das árvores e a luz cortando as copas, as folhas vão mudando de cor e eu sigo pensando como é pesado ser mais um no filão de tantos que foram engolidos por essa beleza embriagante de viver. Preciso escrever. Preciso escrever mais sobre minha rotina atômica, minhas perguntas incessantes, meu devir excêntrico. Precisamos, Raiz, viver também destas migalhas, quase imperceptíveis. Fico à espera das narrativas grandiloquentes de ser-estar e me engesso na filosofia das minúcias, dos pequenos abraços pensados, beijos tão cotidianos, desejos impetuosos de lua cheia, mitos em que quero acreditar cegamente. Quero ser místico e fluido. Tudo pode ser agressivamente, infinitamente, leve até que eu me afogue.


ler lava. (que eu me lembre)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Em mim

Depois da quarta vez que bateu na porta e aquele de dentro não respondia, resolveu que ia arrancá-la dali num só golpe. Abreeeeeeee. Ia se espalhando num refluxo inevitável a atmosfera de obscenidade da intimidade tempestuosa dos dois. AAAAAAAAAAbraaaa. Chorava quente de queimar o rosto, viver poderia ser bom quem sabe até pros vizinhos que ouviam, aquilo era uma lógica interna, internalizada, um universo sem remédios de dores e gozos extremamente particulares. Aquele de fora ia empurrando a porta com os ombros, depois pegou uma cadeira velha e correu uma pequena distância no apartamento apertado, explodiu a fechadura e caiu dentro do banheiro mergulhado na penumbra. O mundo ali dentro era desmontado e ardente, o de fora pensou que poderia ter evitado chegar até ali, e dessas coisas que se pensa sem querer, pensou no primeiro dia, a criação, se arrependeu de novo. Pega! Prova! Toma! gritava o de dentro, ou era o de fora, ou ambos, ou apenas esse vazio oco que criaram e em que entraram pra sempre e se perderam pra sempre e sem fim.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

carta perecível

Faz tempo que eu não venho aqui nem lá.
Ando perdida, ando silêncio.
Não sei o que acontece por seus bares e os meus estão cada vez mais sem sentido
Não sou mais a atriz de antes, desaprendi a escrever.
Sou um melindroso vira-lata travestido de mulher, sempre fui.
Ainda percorro as mesmas esquinas investigando inutilmente a pluma que pousa desatinada no lado de dentro.

Durma bem, leãozinho. Não se esqueça de perdoar seus pecados,
sinto.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

(sem assunto)

Existe, deve existir este instante tenebroso em que as coisas despregam do eixo a que normalmente deveriam se ater e se tornam então tudo isso que nos consome. A angústia de viver é um peso. E são tantas as definições, os julgamentos, tantas bocas me dizendo que é algo entre uma ingratidão adolescente e a má alimentação. Mas é tudo. São leituras e conversas, e mergulhos ingênuos pra dentro de mim. São saltos em que ignorei a dureza do impacto. Eu não pensei onde poderia chegar, meu deus, sequer considerei a força dessa noite escura em que ia entrando fugazmente. Quão alheio ao poder da vida e à correnteza elétrica dessa linfa que escorre fui.

Eu acredito no castigo dos destemidos e dos ingênuos. Eu acredito. Que lucidez tardia.

sábado, 7 de agosto de 2010

Uma revolução de um só.

E é necessário que como numa condolência a mim mesmo, eu entenda que a pior das amarguras dessas contradições é essa sede de querer que apesar do incêndio, amanheça e que adoeça (eu) sempre, sempre. Nessa beleza de estupro que é viver em mim.

Como me colocar no mundo com os meus sonhos

Repito com a voz deitada, essa da orquestra das minhas repetições: viver é bom, viver é bom, meu mantra ridículo, minha redenção.

Chega-se, eu vejo, num ponto em que é o fim do poço, bem alto, tão alto. Sem volta. A mesma ladainha dos infortúnios vai se enrolando na sujeira dos micro-problemas e se tornando um furacão enorme, zangado. Viver é bom, viver é bom. Então arrastar o dia é ter que ir mergulhando profundo em pequenos goles de alienação, tapar o corpo todo, até a cabeça, sem deixar nem a boca pra respirar. Que ironia mais materna. Mas aí a gente vai voltando. Sem querer, tem algo que desperta, tem algo que nos chama... viver é bom / E ainda que eu tenha conseguido chegar aos lugares em que sempre quis chegar, quando me percebo ali, no panteão dos meus sonhos, me sinto atordoado pelas mesmas eternas dores, eu as carrego no peito (deve de fato existir um peito, porque é mesmo ali que doi. Os anzois de que falava) eu conheço belas pessoas e tento me desligar, tento firmar meus olhos, sorrir sem pensar no meu reflexo / viver é b... / tento equilibrar meus humores. Eu já aprendi que é tudo tão banal, mas não consigo sair, não consigo deixar. Giro nessa consciência extrema dos meus movimentos, das minhas permissões, dos meus carinhos tão ornados. Parece uma leitura interminável, o desespero de pensar como bem dito: "às vezes não queria existir tanto".

terça-feira, 13 de julho de 2010

Mais um.

Essa linfa escorreita que nos preenche só se acalma quando caímos num senso sem tempo e justificativa, mas que vem de súbito e nos toma para fechar as fendas abertas. Esse sentido é algo de novo, algo que guarda os segredos de que a recíproca nunca é verdadeira, pra que entendamos que precisamos das pessoas muito, muito mais, do que elas de nós e vice-versa. Porque as coisas se dão em desnível, não há que se emparelhar. Cada vez mais, eu entendo que tudo convive e se mistura e que emoções sempre tão definidas não hão de existir. É por isso que quando me sento aqui pra derrubar umas linhas pra você lamber, sinto tanta dificuldade em falar em blocos. Sou genial e mudo. Tanto o que dizer, é cruel ainda ter que tentar dizê-lo de uma forma que ninguém jamais disse. Isso me leva à ideia de que devo assumir meus clichês e sempre, sempre, sempre falar, falar, falar.

A palavra nos há de curar.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

indo mais fundo

leaozinho, seu peixe está nadando nessas nuvens azuis de mar. fiquei muito disposta à anzóis e acabei sendo fisgada pra beber um pouco de sangue amargo. preciso desses gostos porque sou cada um deles, a dor dos exageros doces e azedos na mandíbula carne.
minha boca está melhor, minhas gavetas mudando de lugar e meu olhar solto resfria os abraços que eu ainda não te dei,
não me espere, vou voltar.

sábado, 10 de julho de 2010

Meus vinte anos não chegaram

Peixe,

tenho me encantado pela silhueta das coisas e o vazio das nossas conversas são tão tristes. Apesar de tudo, tomamos café às 3 da matina na rodoviária e (olha só!) você absorve a beleza que há num relógio de braço horizontal naquela parede jubilada. Ainda há que haver crença nos nossos coraçõezinhos.

Dizia o Petrus: Calma, coraçãozinho! Eu me vi um ano atrás e chorei, a busca não tem fim -



- será que sorria?

sábado, 3 de julho de 2010

Peixe

Não durma, peixe. Não durma, peixe! Morra! Mas não durma!

sábado, 19 de junho de 2010

The flow

Suddenly you realize that all the people you have to face in the world are those inside these thousands of mirrors. There are shadows below your eyes, and goodbyes above your hands. We are riding on a double road and both are terrible and they never end. Plants and news are raising from the ground and you want them to cover you while sleeping. They are warm and they bring out your secret wishes which are also secret dreams, we can never avoid them, we can never slaughter them. They are us. They are us.

That's why the roots are mistaken for lungs.

And I
...........can't
...................brea t.. h... e


...........................................................................yet.

Casulo

Estou aqui, e quando saio não voo.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Das Leben der Anderen

Caía uma chuvinha irritantemente fina, eles gritaram juntos, disputando sair pela mesma porta o mais cedo possível, na angústia de se acabarem um antes do outro. A porta em si havia sido um grande sonho. Três degraus que os levariam facilmente à rua e isso poderia ter sido um plano pra facilitar o abandono assim como a feitura do amor às pressas, a vida às pressas, ainda que ter para onde voltar seja sempre de um conforto vagaroso e envolvente. Ela saiu primeiro, por fim, eu de longe enxergava suas frases mudas sob a chuva, um pranto inquebrantável. Ele a puxava pela manga da blusa branca, sem roupa íntima pra cobrir os peitos sadios. Ele com aquela feição do desespero irreparável, tentando arrancar pedaços da vida dela, e espalhar ali pela calçada. Tudo feito sem nenhum plano, ela dobrada sobre si mesma, despejando os lábios sobre o queixo, destroçada. Antes essas faces do desapego me remetiam muito a sofrer. Hoje acho belo e explosivo. Ela foi desenrugando a roupa ensoupada em gestos de desprezo, praguejando ao avesso do fluxo do peito. Ele seguia seus passos decididos como se soubesse onde iam. Passaram por mim despercebidos enquanto eu trancava o meu carro pela terceira vez só pra que pudesse me manter ali, espectador da tragédia. Raios imensos de sopro e de fim tomavam meu corpo embriagado, era lindo! Era imenso! Ela se agachou quando atravessaram ingênuos o pandemônio na avenida. Havia um jardim do outro lado cujas árvores em círculo fechavam uma arena onde vinha morar o sol nas horas vivas do dia. Ela parou de repente como se sentisse que chegara. Éramos três nos molhando da mesma chuva. Ela chorava mais do que nunca e eu já rangia os ossos de júbilo, mordendo o forro fino da camisa, entortando os dedos no meu sadismo. Sorria. Ela quebrava-se toda em cacos imensos, eternamente engasgada, queria dizer. Ele a olhava implorando piedade, os olhos murchos e frescos. Olhando de perto, cortando seus corpos desnecessários, mirei a fragilidade das mãos trêmulas querendo ser tocadas, os braços estendidos e a coluna emborcada. Ela engasgada começou a falar. As melhores frases não vêm na hora mais densa, vêm ao fim do dilúvio, serenas e inadiáveis, pensei. Está perdido. Eu li em seus lábios finos, traduzindo aquela dor tão sincera no meu contentamento distante. Está perdido. E nada mais cruel e óbvio, que beleza nesta amargura! Que pureza nos meus impulsos! Entrei no carro e dei a volta, rodeando os dois, meu gran finale, minha panorâmica desértica. Eles estáticos e abandonados, tão fora do trilho, tão deformados. Olhei pras minhas próprias pálpebras embebidas no meu olhar de fascínio, fechei-as e mergulhei nessa lembrança doce, meu êxtase. O mundo gritava na aspereza dos seus acordes dentro de mim e eu sorria insanamente vivo.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Depois de sentar e cair,

há algo.

Zero

Esta vida dividida em atas de 24 horas é um afluente que suavemente vai se incorporando ao nosso curso: suave, maliciosa e lentamente. Daí em diante é muito difícil abrir mão dos números, dispensar previsões. Me sinto ridículo quando entendo que já conheço a silhueta dos nossos erros mais básicos, mas as últimas vezes acabam sendo ainda mais naturais que as primeiras. É suave, suavemente assustador, como um dia beija o outro e tudo é belo e cíclico e sem sentido. A segurança prova ser algo muito efêmero para minha natureza de náufrago. Além de tudo as epifanias vão perdendo fôlego, uma refuta a outra, e parecem, cada vez mais, balões enchidos por pulmões cansados. O fato é que, muito claramente, tentando ser sincero, eu não entendo para que rumo tenho ido e isso também me soa repetitivo. Existem referências e precedentes pra tudo que eu queira argumentar comigo mesmo. Eu lamento muito ver que eu preciso de um ponto no fundo, no fundo do fundo pra ir navegando cegamente até ele.

Ai, que aperto. Eu leio o que eu escrevia há mais de seiscentos dias atrás (são seiscentos sóis!!!!) e me sinto ao mesmo tempo distante e repetitivo. Devo me sentir um fracasso? Ao mesmo tempo (assim como quem gosta de repetir e na verdade está confuso) penso: são apenas 18. Em julho serão 19, em julho de 2019 serão 28! Não sei porquê exatamente me sinto uma garota deitada de bruços quando penso isso. É uma forma de menosprezar o que eu muito cientificamente tenho pensado ser um 'problema de pesquisa' na minha vida. Aliás, tudo mentira. Aliás... seiscentos e tantos dias atrás eu me sentia dizendo tanto em/e tão pouco.

Ai, Raiz. Se escrever fosse pensar...

domingo, 23 de maio de 2010

O domingo

Amanhece esplêndido, manhã verdinha e amarela, copa do mundo, copo de leite.

O domingo é bossa nova pura, amar é cotidiano e prazeroso.
O domingo vai nos ajudar com a questão da seca, da secura, das vaginas.

sábado, 22 de maio de 2010

in

é quase sempre assim, quando eu acho que estou seca me afogo.



sinto muita falta

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Dói e não se sente

Andei através de campos abertos inteiros, quilômetros incontáveis, até entender que zilhões das nossas torções internas são intraduzíveis ou desditas, deformadas, se assim insistirmos na tentativa de arrancá-las de seu útero auto-justificável.

É incrível como novos horizontes se dissolvem sutilmente numa borrada aquarela abstrata, abóbora, merda.

Ilusões são manjares servidos em pratos limpíssimos, porcelana de perfeitos vomitórios.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

9

Tudo é uma questão de tempo e hormônios. Não são crises. Nada seria tão bem dividido ao ser narrado. Eu, por exemplo, sei do caráter subjetivo [quase medíocre] que às vezes imponho a tudo que escrevo, mas não posso negar que é tão natural como óvulos descartados.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

8

A ida pro trabalho tem sido mesmo meu nirvana.

Hoje tive uma outra clara e forte sensação, mais uma elucidação repentina que vem em pulsos inconfundíveis, extremamente claros e sóbrios. Percebi quão potente é essa minha capacidade de me envolver na minha própria falsa narrativa de amor e piedade. Não amo tanto quanto de fato penso que amo, na verdade sou um tanto mais egoísta do que a doçura escorreita do meu amor explícito parece denunciar.

Hoje me lembrei com saudade do meu hiato com o mundo. 90 dias que se perderam no tempo, não foram antes nem depois de nada, estão suspensos. Eu estava feliz e meus afetos eram contatos por dar continuidade a almas e almas e vícios e vícios e tédios e tédios, milhares de kilômetros além do oceano.

domingo, 16 de maio de 2010

07

estou pronta para a nova semana que vai começar amanhã muito cedo e vai até a minha morte.
meu domingo foi de muito sono e descanso (eu acho)
quero tentar recomeçar, desafogar coisas minhas, muitas.
amanhã começa tudo de novo, precisamos aprender mais sobre amores antes que sobre domingos e ressacas insuportáveis

hoje faz uma semana de abraços longes, ruminemos.

7

Me imagino na mão dupla: um funcionário público e minha mente um ovo quebrado sem qualquer resquício da vontade de ser que já fui.

sábado, 15 de maio de 2010

6

Estou elétrico. Viver é um prazer alucinógeno, eu aperto às pernas, obsceno, como disse Clarice, o que foi desperto pelo cego e não dorme. Como dizem que disse Clarice. Como dizem sem saber. Acontece! O meu mundo está desvirado, avesso, eu saio de casa e meu peito se afoga de amor pelo mundo, pelo tudo, eu abro o livro e deliro. Prazer demais. Eu vibro, surto, com coxas e peitorais, com almoços e jantares, sujos e líricos. Meu prato do dia é um desfeito, e lindo. Estou nadando no lixo, alegre ignorante, alegre duradouro. Meu prazer não se acaba, se encerra em mim, intransferível. Tudo é pensável, desdobrável, colorível, tudo se engendra e encaixa. Não passo ileso por nenhuma perturbação banal dos sentidos. Cheiro de moça velha no ônibus, gente sem dente, tarde da noite, cara feia de cobrador, moça de salto, descer, subir, ouvir, motor ligado, luz acende, não sou eu, desci, desceram, subi, pensei, cheiro de homem, raiva, pontos e pontos e pontos, para se parar e para se sofrer. Essa é a bola de plástico do dia, tudo enlatado e estático, a gente mal sabe onde colocar todo o capim ruminado o dia todo, cuspir ou digerir?

Cuspir ou digerir, pelo amor dos deuses!!!????

sexta-feira, 14 de maio de 2010

06

fase de se soltar,

pule, lupe,
pule.

05

eu não sei.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

5

Preciso me encontrar.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

04

Acordei cedo para taxiar minha mãe, voltei e dormi
Fiz um almoço guloso de tão bom!
Fiz planos de estudo mas não passei da regra número 1 (ok, foi um começo)
Fiz compras e organizei todos os armários da cozinha. Mudei muitas coisas do lugar, coisas que já estavam lá a MUITO tempo. Coisa boba que me deixou receosa, mas o fiz com vontade. Mudar museus é uma coisa que não se faz todo dia
A dor nos ombros veio e me curei com (vício) maçã
Reclamei pra mim mesmo a quantidade de livros caros que eu MUITO desejo
Pensei no tanto que eu quero fazer uma coisa depois de formar, no tanto que viver ludibriado torna TUDO caro, no tanto que sou um furacão simples e no tanto que o frio está seco, adoro quando ele vem, mas não estou sentindo o que geralmente sentia.

Agora vou

Te abraçar, ler algumas coisas, ficar em dúvida e ainda ter medo antes de dormir.

4

Hoje uma sensação que venho tendo há um tempo clareou na minha mente, ganhou corpo. Descobri que necessito, que é mais forte do que preciso, saber como anda a rotina das pessoas que amo e que, consequentemente, necessito fazê-las saber da minha também.

Tudo é um fluxo imensamente rápido, que tardes tão bonitas e fugazes, que detalhismos.

Essa cidade é um corpo sem alma, Raiz. Isso nos afeta e anestesia.

Sobre a sensação, me deixe saber mais e ver mais. Te abraço quando te leio.

terça-feira, 11 de maio de 2010

03

hoje foi bem mais produtivo que ontem e isso me faz bem. mergulhar nesse turvo rio exige muita paciência, não dá pra digerir tudo num gole.
se no fim do dia nada voltar ao normal conseguirei dormir antes das duas.

3

Eu ando escorrido por essa rotina de trabalho que parece me consolar, assim que vai me engessando numa estabilidade adulta. Ganhei meu primeiro salário e isso me fez sentir estranhamente superior. Um nojo.

Hoje, quando vivia minha jornada heroica dentro do ônibus, fiquei devaneando sobre os fios soltos da vida e aquilo em que não há como não se pensar, e se pensamos, faz parte de uma narrativa totalmente efêmera e esquecível.

Um burburinho de imagens, vi um outro ônibus vazio estacionar ao meu lado, pensei em solidão, surdos-mudos conversavam na minha frente, eu tenho sempre vontade de ler e uma preguiça gigantesca de abrir o livro. Penso sempre que quando for girar a catraca, algum breque repentino do motorista vai me fazer cair pra trás e ter que pagar a passagem duas vezes. Quando deslizo pelo corredor do coletivo, sempre miro as cadeiras mais altas que me recordam vagamente um passeio de infância. Sentar mais alto consiste também em não ter cabeças na frente, então vou lambendo as paisagens dessa minha capital sem jeito dentro de mim. Eu desço e continuo pensando, esse trajeto é um excesso de oportunidade pra se pensar. Eu quase me sufoco.

Hoje é um dia em que eu sei que amanhã posso ser exatamente igual.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

02

hoje sou um rio morto, um rio inconstante que borbulha parado.
Ando mais por dentro que por fora.

01

sobrevivi à br e chorei até chegar em casa. simplismente porque me deu vontade de explodir.

domingo, 9 de maio de 2010

2

"Tudo muda quando se reage a paixões."

Isso foi das coisas que você disse que mais me fizeram arder. Tudo muda. Hoje é um dia que a beleza do mundo me é uma incógnita, ela está aí e me chama, eu estou livre de tudo, eu sei que posso. Existe um trabalho secreto, silencioso, algo entre nós, um líquido que escorre entre nossas existências carregando consigo o sumo das nossas implosões, delírios, gritos mudos.

Hoje gostaria de deitar e me entregar a uma paz pesada, ao sono, que medo, que coisas tão duras de se viver.

sábado, 8 de maio de 2010

1

Minhas raízes,

eu lhe prometi rasgar meus novos diinhas dessa semana de recomeços e começo honrando minha palavra desde agora, que ainda lhe sinto perto.

Estou entre a calça-volume e o peito cheio. Supero dramas idílicos em segundos e essa sabedoria ainda vai me arrancar poucos gritos.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Meu cortiço

Nesses últimos dias todo rosto que me fita tem essa coisa amarelo-nada, um quê de coalhado. Eu sinto a pontinha afiada da agulha suja de merda, é uma faca, eu vejo, ou uma agulha mesmo, quem sabe, se eu não conseguir valer tanto.

Nesses últimos dias eu falei besteira demais, abracei gente que eu amo e que me desencanta num giro sem eixo, num amargo e doce desprazer de me ser.

domingo, 25 de abril de 2010

que venha bons ventos, por favor

Não sei se é falta de paciência, ou calor, ou só frustração mesmo, mas me sinto tão distante, tão dentro. Queria te ver aqui com um rosto de surpresa ao me ver voltar depois de tanto tempo. Na verdade, eu ainda estou longe pra te abraçar (como você disse sábado), ando muito frustrada, sozinha e descrente. Te escrevi um texto descrevendo tudo, mas perdí aqui e estou sentindo muita raiva nesse momento (muita mesmo).
Depois eu volto, eu preciso.

sábado, 10 de abril de 2010

Durma comigo hoje,

amar pode ser coisa do agora.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Eu me despoetizei e ainda sou

Raiz,

um dia você me mandou um postal com palavras que hoje lhe devolvo. A coisa aqui anda corrida, às vezes não vence a vontade de te ver e sugar, eu tenho agido como se a minha vida fosse morrer nos próximos trinta segundos, tudo de uma vez. Fiquei trancado fora de casa hoje e me alegrei tanto com o fato. Como bife bem passado, a semana vem gorda, estou tentando arranjar um emprego, tenho dois amores potenciais e um desespero sem medida em me ser, me achar, me falar. As coisas eram mais fáceis de se expressar, ando meio gestos calculados, às vezes lembro minha mãe. Preciso comprar roupas novas se quiser trabalhar no mundo real, quem sabe tirar meu brinco e não beber às quintas. Engraçado, tudo vem de uma vez só. Imagino que um dia vou pegar um papel em branco e só vou conseguir rabiscar números, meu novo código. Engraçado... agorinha mesmo estava começando com essa de escrever e viajar pra dentro e agora só tenho mais trinta segundos. Nada faz sentido, não consigo mais terminar uma fras

sexta-feira, 26 de março de 2010

Antes de pular, parecia alto.

Nada saiu como planejado. Nem ir nem voltar dos eixos para os eixos. Assim fui me reconstruindo em paz, sem nenhuma cobrança desse presente incrível que temos vivido, tempos de boca doce de café da tarde. Tudo que é nosso, doce, nosso, tudo vira passado sem mais nem menos. É quase uma maratona de ir vivendo e amando e nos intervalos mais febris lhe escrevo minhas cartas, me entrelaço nas suas raízes de sinta-se e seus beijos de mãe precoce. Ensopada de chuva, você veio escorrendo devagar até a porta da minha casa. E aí mal deu pra gente se (vi)ver, foi infinitamente rápido tocar esse sino, mal deu pra ouvir. Num minuto a vejo sentada sorrindo numa livraria acolchoada por relíquias de línguas do mundo, tiro uma foto sua dormindo na janela com flores atrás; noutro você já está aqui de novo dizendo que nunca, que sempre, que nós, que benção... eu vim de um eu que dizia que nada disso iria acontecer e enfrentar esse espelho é um desespero, tenho medo de que as coisas jamais façam sentido, que jamais se cumpram. Eu me lembro que assisti a um ou dois filmes que me deram muita vontade de viajar aos fins de semana, sol quente na estrada, sem camisa comendo alguma besteira no banco de trás e aí... 8 da manhã tenho uma reunião fictícia na casa dessa minha ansiedade... você talvez dirija, o sol pode até ir se pondo e a gente em quase nenhum lugar, só indo, só indo... eu deito nessa minha cama novinha, amanhã talvez tenha aula, quero arrumar o meu quarto pra que ele seja bonito e eu depressivo... a gente estaciona pra ver estrelas porque fazer isso sempre nos pareceu bonito, ora direis... por isso vou juntando referências artísticas e vontade de ler, pra que... dormimos assim, sem pressa de estar, tudo se mistura... tudo se misture.

Perdi.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Calma, sincera e severina

Miserável condição essa. Tenho medo de encarar o mundo, preciso do meu aconchego pra poder suavizar o peso do dia. E não ter essa calma é de morrer. Mas enfim, essa monografia está me fazendo pensar muito, Raiz. E agora? Corro atrás dos sonhos que fui destinada a sonhar ou corro do mundo num canto escondido? Isso fica matutando, matutando, matutando. Ainda tenho muito o que inventar pra não ficar louca jogada na rua.
Brasília sempre tem um efeito amplo em mim. Hoje quando eu saí do banho, me deparei com um sol tão rotineiro, mas que me fez pensar muito. Vou tentar correr atrás desses sonhos antigos pra tentar sobreviver, comprar o que eu gosto e o que eu preciso.
Preciso produzir, estudar o que eu aprendi a gostar e que agora eu amo. Preciso me tirar daqui.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Sobre criar e, logo, existir

Fico numa sede ininterrupta que é queimadura corpo afora, corpo adentro. É meu delírio inspirador, a gente dançou bêbados esquisitos, se beijou quase que num transe. Então é como usar óculos escuros na madrugada, casaco de pele nesse fevereiro infernal, é só mais uma válvula de escape. Somos inventivos, criativos, produtores, quando é que vamos parar de consumir??? Concordei comigo mesmo que vou estabelecer processos de desapego e pouco a pouco vou sair de mim, depois voltar quem sabe outro. Estou há 4 dias sem me olhar no espelho e agora já não sei se por compromisso ou por fobia, mas espero que sinceramente seja pelos dois ou por algo muito, quiçá muuuito pior. Preciso surtar e inventar, inventar, inventar. Me apaixonei pelo surrealismo um tempo atrás e depois me esqueci dessa paixão como me esqueço de tudo, tudo mesmo. Então, de repente, me lembrei! Assim como me lembro de tudo. Bem, enfim, portanto. Me mande seus potes, pinte com guache, com óleo, com beterraba ralada. Me mande suas obras, escreva com carvão, precisamos produzir, produzir, chorar, chorar, produzir! Ai, ai. Senão o mundo vai congelar nessa avalanche a 300 milhões de kilômetros por hora e nós vamos cair durinhos no chão, sem graças como sempre. Amém.

segunda-feira, 8 de março de 2010

sentir e ser

Parece que nunca vai deixar de ser um grande círculo, uma grande brincadeira e eu perdido na minha auto-consciência, tão lúcido, tão lúcido, meus deuses. Antes tudo era sem freio. A gente se coisava aí a noite inteira naquele quintal que era um bar da alegria criadora, um começo esplendoroso. E aí choveu várias vezes na nossa selva de pedra, a gente cresceu e foi parar atrás de outras mesas em capitais federais e estaduais e isso tudo ainda é um grande conflito dentro de mim. Eu leio seus olhos e seios e batons vermelhos, seu gozos e desgostos tão bem rasgados no seu sinta-se de peito aberto e quero tanto lhe alcançar, tão longe, tão alta e longe. E aí eu entendo que continuo nisso que agora mediocremente chamo de círculo, porque me parece circular. Entendi que ando caminhando numa estrada, numa busca eterna e eu sei claramente quem sou, mais do que nunca, Johnny, Johnny be good, eu sei, eu sei, e isso me coloca fora de mim. Eu... eu... eu... eu.

Finjo?

É como se eu me narrasse de fora pra dentro o tempo todo. Excesso de auto-consciência, não se vive desse jeito, eu existo demais. Cansei de existir, quero fluir! E aí? Quero me frequentar menos vezes, pra que tanto espelho interno, tanto realismo... enlouqueci, minha esperança mora aí! A gente volta de uma viagem pra dentro de si e reencontra com o (um) mundo de que a gente tanto falava, um sonho meio fotográfico, preto-e-branco, poético. Me dê 40 anos e eu estarei em algum outra ponto dessa tangente, querendo sair, querendo escapar,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,

AH!

ser e sentir

que daqui a vinte anos haja raízes e postais. frases soltas tintadas no braço numa noite onde até a mesa tagarelava um novo começo, "riu alto, chamei raiz". brindaremos esses envelopes gordos aos 40. Haverá.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Bobo

Eu colecionei dias inteiros de uma viagem comprida entre pracinhas e uma vegetação desconhecida penetrando no meu desatino, mas agora já posso dizer que sinto saudades.

Saudades-cachoeira.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

2 de fevereiro de 2010

Raiz,
Aqui no Brasil faz calor
beijo morno,

Madalena

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Telegram- -a

Na verdade nos sentimos perdidos todo o tempo, por isso os discursos soam repetitivos. Ainda assim, sinceros. Eu me mantenho aqui dando voltas e voltas, nao sei qual é a cor do que busco, qual a fundura do pote e se alguém jamais será capaz de entorná-lo todo. Fico anestesiado, prestando atençao no caminhar silábico dos idosos, que em dias nublados - é real - parece ainda mais parcimonioso e desgatado. Tomo café e me envolvo com outros adereços da estética da poesia, criada em alguma sala de reuniao de uma grande empresa, essas coisas já tem raízes tao fortes que de fato parecem naturais, indispensáveis. O mundo dá muito mais voltas nas nossas cabeças e todo sentimento parece ganhar dimensoes monstruosas e extremas, continuo sem saber qual é a cor. Mas cada perturbaçao dos meus sentidos, seja o relevo das calçadas ou o som das línguas tortas nesse idioma amarelo, me chamam para uma beleza seletiva, é uma questao de querer se encantar ou nao, uma oportunidade de efetivar a existência do , depois da chocante constataçao do aqui, ambos num ritmo indefinido e próprio.

Existem algumas coisas que descobri de pronto nessa introspecçao voluntária a que me propus. Meu humor e minha disposiçao sao refens do clima, passeios de bicicleta sao libertadores, fotografias mistificam lugares. Nao é fácil abrir a boca sem ser convidado a qualquer hora e em qualquer lugar como um Supertramp percorrendo sua rota da redençao. As curvas entorpecentes de García Marquez sao as culpadas da minha afeiçao por palavras, os dias medem o mesmo tamanho, bem vividos ou nao, cada meia noite vem embrulhar o rascunho diário e no fim das contas percebemos que nossas histórias vivem flutuando entre três versoes discordantes de fantasia, fato e esquecimento.

Como sempre, Raízes, percebo que tenho o hábito de narrar tudo que vivo, sussurrando em voz baixa o que seria um detalhado relato das minhas impressoes, mas que me perco na transcriçao, confundo os pormenores e a ordem de prioridades. Assim que falo por falar, quem sabe me sinta olhando nos seus olhos e discursando sem regras, como fazemos sem raiva, sem tempo, quem sabe por isso. Quem sabe.

sábado, 23 de janeiro de 2010

saudade,

encho meu copo azul cheio de coisas do passado até o topo pra tentar me esvaziar. alguns me perguntam o que, outros não estão nem aí. ando fumando mais do que sempre, me fazendo vítima de um silêncio esgoíta, me fazendo de bordel.
não se preocupe, não se preocupe comigo. sua falta me estranha mas eu sinto.