sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Nucas de algumas mulheres

A vida me fode todos os dias. Mas penso na conjugação estupidamente bela entre vinte anos bem feitos e os pescoços falantes de tantas mulheres se dobrando e deitando e se coçando e perfumando, numa dança que movimenta o mundo há milhares de anos em Goiás ou Istambul pela fresta dos olhos de quem se deleita e por isso canta.

As nucas delas hão de redimir as marcas, os ombros furados pelos sutiãs, os desgostos, a secura. Elas vão nos fazer andar de costas, amar de costas, fechar os olhos. As nucas são suaves, sempre virgens, bem casadas com mãos, com línguas, com tinta. Amigas de pelinhos frágeis, narinas sedentas, vermelhos e roxos. Que bela contra-capa dos lábios, a nuca. Que sensibilidade estreita, contínua, com duplas raízes, para cima e para baixo.

Às vezes, quero só nucas. Nem quero seios, nem beijos, nem palavra nenhuma, não. Quero dias inteiros me cansando na preguiça impregnada nesses eixos.

Cabelos deslizam jogados pra cima, descem e cobrem esse pudendo permitido. Se eu te viro agora, penso, e me alegro: há de haver um sorriso no verso.