quarta-feira, 29 de abril de 2009

No caso de eu morrer bem cedo,

não chorem.

Quis dias mais bem feitos, goles mais doces, mas não me amem nos retratos mais do que nesses poucos abraços. Não me entendam, não cantem um falso acorde que recorde meus sonhos. Não teçam histórias belíssimas, não endeusem meus feitos, não canonizem meus dias.

A vida é um gole só de tanto ser. Coisa de pele que não respeita o seu dinheiro excessivo e o meu pouco amar. Vida vazia em bares que nos fazem falar. Desejos verdes, soltos, escondidinhos nos ossos, um eternamente quis te beijar, um dia na chuva e o outro na cama. Tanto não de se fechar por dentro. Saudade que mata e não leva, a vida em letras borradas, o peito que arde, o amigo que dói, meus pais tão tiranos num altar que não cai. Incomplitudes sem fim... e morro.

Desculpe, meu bem. Deixei tanta coisa espalhada na casa.

Apague a lareira, responda minhas cartas.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

me acompanha?

eu quero um suco, um surto de surdez, sinto um desespero uma inquietação. quero abraçar quem me acorda e tudo sem açúcar, por favor.

domingo, 12 de abril de 2009

Nós, em vida

Portas fechadas em dias de festa. Um beijo negado. Caixa das cartas pra esquecer.

Somos eternos privados do gosto, escravos do torto, dolorosos amigos, gente sem jeito, fala amarrada, vida vazia, segredos em casa, cegueira. A vida, meu bem, está sempre a um palmo de nós. Tecemos nossos tapetes belíssimos, engenhosos cuidados com aquilo que não se viveu, e não pisamos neles.

Essas coisas de pele resgatam o fôlego uma vez ou outra pra gente brincar de amar, como jovens idosos que somos, a face sorri num gesto forjado pra ganhar alguns novos amigos: ninguém vive sozinho.

Matamos tudo que brota fresco no peito, que era pra se viver com glória, como numa manhã amarelinha de domingo, pra trocar por umas poucas migalhas de medo e tempo-que-passa,
sempre e sempre, mais um pouco.


(repito)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Em si.

Reinar absurdamente nesses sonhos não é vivê-los cheirosos no dia seguinte. Sei desses abraços tão doces, sei daquilo que queria que fossem meus amados amigos, mas choro ao vê-los concretos.

A vida vai corroendo alegremente esse envelhecer com graça que não ocorre e felicidades são furtivas demais pra poetizar.

Aprendo saudade, terra, cegueira e nojo.

Quero alguém que me abrace como quem morre.