terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Invento

Toda beleza segue oculta pela velocidade das coisas. Só me resta fé.

- Oi, meu amor. Eu acabei de o parir e a primeira coisa que eu vou lhe dizer é que: todas as boas sensações são passageiras.

Imagine sair de baixo dos seus cobertores direto pra'o mundo, sentar pra tomar um café na avenida central, pra digerir a noite seguida da noite. Olhar para os prédios velhos, entorpecido de amar. Fora do cotidiano arrastado das outras pessoas. Sem elo algum com carros, crianças, os preços, os barulhos.
Um mundo de horas e gente, carregando consigo a imensa frivolidade das coisas sem amor.

- Oi, meu amor! Não faremos um filho. Nem em você, nem em mim.

Pestanas longas à volta dos olhos de não-sei-quê, bonitos como não-sei-quê-mais. Tão bonito que até sinto um... E a impossibilidade de discernir carência e paixão, atração e vontade, piedade e admiração me faz ficar mergulhado nessa caldeira imensa e fervente de amar de par em par nas estações: uma sim, outra não. A velocidade das coisas, os dias perdidos, os dias sem ver o sol. Quanta ignorância.

- Oi, meu amor. Últimas palavras, prometo. Enquanto eu falo, a confiança vira ódio e eu vou tentando dar a forma final às coisas que eu senti, deixando-as no estado em que se instalarão na memória, no peito e na masturbação. Olha, ficou tarde pra falar de tudo que não gostei, agora me sinto meio humilhado. Mas continue assim, tá ótimo, tudo ótimo, tô com um pouco de pressa... bem, seja feliz e... sei lá... felicidades.




(no epílogo, quem vai embora fraqueja as pernas na calçada, depois de descer as escadas com rosto confiante e bater a porta. Olhando pra cima, vê a janela do apartamento, onde tudo fica. Fraqueja e cai na guarita do prédio seguinte, chorando escondido. Ridiculamente natural.)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Você não para de chover













e eu rezo: sei quão bom é ensolarar-se.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

do verbo latêjo'

aqui minha boca está seca e meus braços de lado,

peço ao diabo pelas noites que ainda tenho que ferir, aprendo que arde.

seus cigarros são ainda "um" por dia?

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Decompositores

Estou suspenso em março, para que me colhas.

Enquanto isso, sou paz de bom caminho. Sou de tomar café, cerveja, música latina. Chegando em casa penduro as meias em par no varal, prevenido e sóbrio.

Me preparo pra você me colher na anistia, na volta, abre a garganta pra eu cuspir dentro. Nojento! Eu venho cheio de feridas pra você lamber.

Estou cá nesses buracos novos. Gentil! (Você?) Que orgulho vais ter quando me tomar de atraso, embora humilde, já que rebocado. Ausente, virei leveza de sonho.

Não ando distraído, não me pergunte sobre. Estou derramado de amar, sequinho de leite, esquecido pra encontrado. Ardiloso! Vem. Vem com os dias contados, ouço sua voz confusa.

Venho ensaiando, vem.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Zéfiro


Traça o caminho contrário do sol, contorna a terra entardecendo em duplo tempo. Rega os descoloridos pastos quase no abismo da nuca, no cativeiro escuro, no esquecimento breve que mandei sê-la. Volta a percorrer mesmas estradas: a memória.

Cospe-se: é úmida palavra. E então falo de você e de vocês pra os outros e uns, quando de repente: os reconstruo. Com tudo e com todo. Trago-os de volta do estado de ansiada germinação, saco-os dos caracóis, dos cascos, do fundo de cem gavetas, onde é que estavam?
Reabro-os e os releio.

Quanta intimidade.
Memória bem vinda.
Estúpido dom de lembrar.
Patética insegurança.

Eu quero morrer vertendo lágrimas das coisas que vivi, vi, vivi, vivi, vi, vi, vi, vi, vivi, vivi...

Aura (Beatriz)

Temo ir me aproximando porque nos sinto estupidamente novos e esse praonde em que fomos parar é bom demais, é sorte demais, ond'é será que ainda iremos errar? Vocês me trouxeram de volta a minha mãe, e quando os escuto me sinto em casa. Vocês são loiros e matemáticos e desejos perniciosos em duplas camas de casal. Vocês são grandes olhos tão diferentes dos meus, ai, que comoventes. Vocês nos são, três a três, os conheço desde sempre. Vocês valem poucos centavos daqui, o frio em que me hão de abrigar e a tenebrosa impressão que os começos me lançam e que me afligem profundamente porque imagino os dias desfiando alegrias e junto o meu futuro brumado se desfazendo em tedioso cotidiano. Eu me apaixonei por vocês, por esta casa e estas pedrinhas e esse começo me assusta porque tudo é de um tudo maior do que a possibilidade mundana das coisas. Eu me desconsolo, porque a verdade de cada um dos seus rostos é de um contato íntimo e provocador: eu os amo. Eu me esfolo de vontade de saber o que viveremos e de medo do nosso futuro de velhos e dos vinte anos que passaremos sem nos ver. O que eu vou fazer com essa paixão insana? Eu os criei pra mim, nessa casa de chão liso de madeira, meu deus, tudo é novo e absurdamente liso nessa casa. Nossas histórias nem sequer aconteceram, subitamente já deixaram de ser. No há-de-ser, se assentam no foi.

Nós já crescemos e fodemos e rimos e ainda nem se passaram sete sóis.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Baiano quem

(cantante, Dorival, doravante)

O nome do meu pai era Amaral.
O nome de minha mãe, não sei de cor.

O-nô-me-do-meu-pai-e-r'A-ma-ral
eo-nô-me-de-ma-mãe: já's-que-ci!

jusqu'ici, já.
Jái'squeci.

domingo, 13 de novembro de 2011

Prosa de pijamas


Eu levanto-me da cama no meio da noite pra tomar um copo d'água. Nunca fiz isso. Passo pelo corredor das três portas: sala, banheiro e entrada. Está aberta, a luz do hall acesa, alguém acabou de subir. Ninguém faz barulho na casa, não foi ninguém daqui. Esqueceram a porta aberta. Não sei se é o suficiente pra sentir medo. Não senti nada, só achei bonito mesmo. A porta... a porta, a luz entrando recortada, aqui tem chão de madeira e só Deus mesmo explica esse meu amor por pisos de madeira... e a luz sobre ele. Amarela e quente. Tranquei a porta. Devagar, quase cênico auscultei pela madeira qualquer movimento que viesse de fora, mas estava só: o hall silencioso em madrugada. Só o barulho da luz se apagando. Me afastei do olho mágico como uma velha senhora, as mãos no peito fechando a camisola. Sou cênico, excessivamente cênico, performático, esquizofrênico. Nem mesmo no meu entre-sono eu me comporto. Saí arrastando os chinelos até a água (da torneira), vá! Dizem que é boa... calcária e o escambau.

Mesmo na cozinha encenei uma ceninha comigo mesmo, a luz branca e o barulho de vento. Olhei pra fora pela sacada o céu roxo do Porto, lembrei que descobri encantado, hoje mesmo, que estamos em frente à Nova York, reto em frente depois da queda bruta do horizonte: Nova York..! É pateticamente encantador. Não aproxima, mas encanta.

(...)

O frio é um pesadelo latino, pensei (pensei!), pareço um velho sem libido, ando cheio de olheiras... a umidade invadiu minhas gavetas. Cuecas geladas e mais um obstáculo intelectual.

(...)

Acordo do delírio, sardônico e irônico comigo mesmo: - vamos dormir, idiota! Falta luz do dia pra caber reflexão?
Me flagrei numa produtividade inoportuna, não gosto disso. Fiquei possesso: mais uma deixa pra encenar (claro!). Mas tenho funcionado muito nas horas inoportunas. É como ser criativo quando e enquanto assiste a algo criativo. No escuro do teatro, no meio da conversa. Uma ansiedade corrosiva, parece vontade de mijar (também no meio da conversa). É normal, mas é também terrível e egoísta. Porra! Que tristeza... uffff... quem aguenta tanto...? Me proibi de ter um bloquinho nessas horas. Me proibi de pensar, anotar registrar... acabei, obviamente, sem ideia nenhuma. Só simpatia. Sobra tempo e um eco retumbante na cabeça.

Voltei caminhando no corredor. Quatro da manhã no relógio de parede e a lentas passadas vou pensando o melhor de mim, quando tudo me ignora. Sinto cada impulso e pulso: vivo demais pra essa vigília furtiva (era só um copo d'água! Fuck!). Não bastava a toada, ainda parei pra espiar o hall pela porta grande, - linda, pensei. Já me ia encaminhar pra uma outra reflexão a altura, mas... Chega! Vamos dormir... dormir! Que fora de hora... que prolongamento!

Deitei na cama sob os roncos dos meus. Inválido pensante, o amanhã não há de usar esse material da caminhada pelo copo d'água, a própria água há de escorrer pelo bom dia de pau duro. Dorme-se, porque não há quê. Dormi de volta na acolhida do retorno, nunca pensei que fosse tão bom abandonar a cama pela volta, mas na volta não pude crer que já o havia feito. Tudo muito bem, breves momentos e já roncava em sinfonia, metendo-me logo com outros absurdos. O cérebro costurando as inutilidades da loucura, e daí a porta, a água e delirantes eus me construindo pro amanhã.

Tudo que penso em silenciosa serrapilheira fecunda.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

- sua filha vai ser puta

- como assim?
- ué, não sei, só acho

chega ela e já é sol quente. tira o salto e, pisando de fininho, foge logo pro seu quarto.

- mas de onde você tirou essa idéia?
- já disse que não sei, foi uma coisa que me veio do nada, mas esquece isso e presta atenção no trânsito
- agora não adianta, não vou esquecer assim do nada, caraca...

chupa ela o carona pra sua casa. abre o zíper devagar e lambe.

- que filha da puta esse cara da moto, porra
- você estava na faixa errada
- não estava, sempre faço isso
- olhe a sinalização! o motoqu
- caralho, é mesmo, hahahahhaha

muito bebe e muito fuma ela com amigos de mesa e um ou dois da vida. celebram e choram por dentro a cada gole, cada um no seu mundo, dividinho segredos e flechas a cada trago, um momento sincero de carência e fuga. fecha sempre o bar preferido, fica ela e os homens. as meninas já foram e ela ainda sente sede.

- e você? seu filho vai ser gay?
- isso ele decide
- mas minha filha também pode "decidir" não ser puta
- claro, ela não vai ser do tipo saia curta e meia calça no frio pra sobreviver, ela vai ser free
-
nossa, tomara que seu filho seja gay pra você parar de falar que a filha dos outros vai ser PUTA!
- tomara mesmo e pode ter certeza que o primeiro cú da vida dele será o dela.

domingo, 16 de outubro de 2011

Rua do professor

Na minha rua começam as pedras fluindo pra norte, onde já nos perdemos. Um jipe azul fica parado na porta do número 70, duma cerquinha baixa e insegura de madeira, envolvendo as plantinhas da Dona Isabela, todos os dias regadas com o tempo que a excede. A minha rua tem a cara das cidades em que lá nunca fui, em que lá nunca irei. Acho que poderia até ter um nome de um país ou de uma flor: rua hortência ou rua Holanda, sei lá. Que besteira. Tudo porque quando a vejo, vejo que a minha rua já viu você que me , e que, porque pode ser que me leia, me cobra outro fôlego, oferecendo novos apertos. A minha rua já nos viu beijar e me viu descendo trôpego nos primeiros dias daqui... passados, passadinhos remotos. Ela é bonita e contém a minha casa, a terceira ou quarta das que já amei na vida. estão. Esta minha rua, esta minha casa e este você: os terceiros ou quartos dos que já amei na vida.



(tudo tão bobo, tudo tão bom)

sábado, 8 de outubro de 2011

revolução

sublimei alma, agora tô mordendo carnes

"canta coração, que essa alma precisa de ilusão"

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Desapaixonar-se

Subitamente desinteressar-se. Murchar-se, final de rua, constrangimento insuportável. Doença, dor de garganta com saliva. Afastamento que alivia, saudade sem forma, memória inconsistente. Ácido que não corrói, cômica incompatibilidade, vontade e coragem pra morrer. Desapaixonar-se: emergir, eclodir, desabrochar. Voltar a ler, comer, dormir, sonhar com dinheiro. Desapaixonar-se, forrar-se, polir-se até parecer que nem foi. Enlouquecer-se, enfurecer-se, foder-se, foder à pala, reinventar o amor, despudorar-se, mais e mais e mais. Mentir-se, sobretudo isso: mentir-se! A si, aos outros e com outros. Beber-se de engano e de burrice, desapaixonar-se entornando, abrindo, arregaçando, desautorizar-se, dez mil vezes desatar-se, sem fim, sem meios, freios, desapaixonar-se de amor, enlouquecidamente encontrar-se: desesperar-se!
Choro encolhido na cama, rasgando tecido: desapaixono-me e encharco-me, gozo-me, desminto-me,

DE-SO-RI-EN-TO-ME.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Primavera chegou antes de mim

e o verão foi-se embora e eu fiquei.

Outonizou, invernará (com doces amigos de lá pra cá) e eu chegarei de novo a ela de peito cheio e malas prantos, pronto pra abandoná-la em gratidão.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

In between (hálito no vidro)

... moments that pleased me in a certain way will surely flow forever impressed.



(riscou com o dedo, e eu quis chorar enrolado na roupa de cama imunda: morrendo de medo das incumbências do tempo)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Portília

Lá o céu é amplo, extenso e sempre lindo. Aqui o céu tem cores cínicas, magistrais (e é sempre lindo). Lá as vias são longilíneas e tudo flui quando e quanto se pode. Aqui as ruas transam em resultados de adaptações seculares. E é lindo também. A sacada do duzentos e dezenove se desenvolve num "L" proibido e prostituto e aqui a do segundo-e é discreta num simples "P", de poltrona. Temos uma poltrona na sacada daqui, o que seria agradável de termos lá, mas lá chove sempre aquela chuva de varreduras que cuida das limpezas que não fazemos jamais. Aqui tudo é disforme e em Brasília tudo é forma se deitando pros olhos. E aqui é lindo. E lá também. Eu já mergulhei no Paranoá e no Mondego e vi o Douro e o Tejo, para além do qual há a América, onde fica este primeiro. Todos são lindos e minhas aldeias. Aqui se fala escavado e polido com as mesmas palavras com que ali não se faria igual tarefa, e aqui se rebola com o que ali se rolaria. Aqui tenho amigos furtivos e recentes sementes que me comovem como as cascudas árvores de lá. E são lindos e desejosos os dias que aqui tenho, como o são os dias que lá tive, tenho e terei. Aqui é meu tempo que sucede o meu tempo de lá e que o precede fatalmente. Lindos aquis e lás dos meus longos estares, sucessivos seres e venceres: se falas com 'tu', que sou 'eu', que vivo em ambos e que em mim vivem. Lá são segredos, aqui debocho. Aqui são banais o que ali são luxos. Aqui me desmorona e de súbito estou lá, que é meu fundo e profundo e que só é lá porque estou , já que assim, além de lindos ficam mágicos e de geografias passam a instâncias: dum tempo, dum erro e da sorte que tive de estar um ponto entre os dois extremos. Magnífica estrada que não convinha trilhar, mas (que coisa!): já trilho.

sábado, 3 de setembro de 2011

Grega (duas dívidas de amor)

Passei a tarde arrepiado com seus barulhinhos de sono, grega. Nem tive coragem de sair do quarto. Você ao meu lado, contando coisas da sua decepcionante história. Ainda estaremos nus em casa, sozinhos, subestimados. Começamos pelo meio e recomeçaremos certeiros: costas. Adoro costas. Conheci suas costas ontem e as achei tão merecedoras de mim. Costas, sua pele branca, seu sorrisinho de acalanto. Meu Deus, de onde você saiu, tão bonitinha, grega? Entra em mim. Me amarra com suas pestanas longas, quiméricas, ai (ais!). Como é que te posso chamar, grega? Como é que me aproximo, me torno íntimo? Eu te desejo com a força da fé que perdi no amor, quero destruir seu futuro, grega, me entende? Desconstruir. Rios de esperma por você, só desejo, (santa!), verdes olhos santos. Prostituta! Macho! Russa! Ai, ai. Seja feliz comigo por um dia, por essa tarde, por esse resto de sol, mas eu não posso poupar o mundo de você, grega. Volte pra lá, eu sei que você ainda quer muitas camas, muitos homens, você que é frívola e linda demais. Eu me contento com sentir seu cheiro, e brincar de falsos constrangimentos, sua pudica.

Eu não vou conseguir (se for assim, se não der jeito) (ou se você me vence, há de ser).

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Tem que ser

Desanstrato. Aparato. Desconstructo. Emotivo. Estupefacto. Elucido. Domperádoto. Competívoto. Coméçoco. Aperçôfoco. Acontécefo. Alentójeno. Catoncígeno.

Português.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

nem é saudade, você está em brasília, normal e incomum

continua aqui meu antigo vício por essas nossas perdas tão livres,
estrofe por estrofe, pulo e cavo,
virgulo, do verbo virgular e
pontituo, do verbo reticêncionar.

olho meu vô na mesa e penso se ele imagina que eu.
vou pro trabalho planejando férias.
nas férias eu tenho idéias mirabolantes pro trabalho.
sou aqui agora, mas amanhã viro suco.

a labuta humilha meu prazer de dormir depois do café da manhã, chega dói.

choro, mas é de sono.

sábado, 27 de agosto de 2011

Próxima paragem

Toda vez que eu estou por viver uma coisa nova, eis-me você: velho e atrasado. Presença sua, como unhas coçando as costas sobre o pano: sensibilidade indireta. Eu te sinto pelas beiradas, nas caras dos outros, nos ecrãs, te vejo deslocado nos sonhos, você vira meu primo, meu pai, um objeto de inércias ainda mais profundas que essas suas. Eu te encontro nas perdas, tais os extremos, nas vontades de envio que não envio. Te levo a passeio, olha lá, vai indo nem é mais você.

Fica maior do que tudo, fica idílico, desvanesce.

Eu vou te matando de amores, pra seguirmos vivos.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

tigum

sonhei que tinha te levado pro aeroporto em bh.

sábado aqui, domingo aí. beijos recebidos e reciprocados, te amo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Pinto de cima

Caminhos tortuosos do grande mundo. Marlene, chopp de um litro, piolho e tem que ser.

Acordo de uma vez para estar aqui.



Me desejo os melhores dias que já vi.

Um beijo, minha querida Raiz.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

derramados

lembra quando a gente riu na escada falando que ia morrer de felicidade, meu cérebro explodiu!

ao festejo do nosso vermelho de carícias e ao seu destino oPorto sem n de navio

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Festina lente

O amor é um fruto de susto: não há tempo pros planos.
O tempo é pras saudades, pros reumatismos...

No amor, tem-se pressa.

domingo, 14 de agosto de 2011

Décalage

Ergo-me de solavanco, sou forte quanto nem me lembro.

Sai dos meus poros, pouco do mundo.
Desaloja os meus recintos, pobreza.
Desocupa meu solo, desata.
Quero render alimento.

Sai, amor de engano, que polui meu canto com vão mistério.
Sai, amor errante, zombeteiro, nebuloso.
Quero cada letra, quero gritos. Sou homem.

Tenho missão, não me envenena.
Chora, comove: tu.
Quero amor a minha língua, quero meu lixo visto, sou fraco.

Fala por mim, corpo
(que eu sinto tantas coisas que tenho que contar).
Traduze meu abalo, meu universo.
Desabita-me, sucesso, logro.
Habita-me, sorrateiramente, arte.

Socorre minha memória, zelo.
Zela pelos meus pais e pelo meu desafeto crescente.
Perpetua meu sangue quando ferve de comoção por meu povo,
ei-lo: é um.

Salva do afogamento as lágrimas que verti de pureza.
Salva meu entendimento repentino,
salva meu delírio esclarecedor.
Os necessito.
Mesmo que o dia vire, salva-os.

Escapa do meu sonho, resto de cansaço, o tempo me esqueceu sentado aqui.
Me deixa operar, primo, construa comigo minhas casas, o amo.

Abre seus becos e bocas, rua, atende seu filho,
me encaixa gente viva na história, preenche-me.
Mata os difuntos acesos, meus excessos, minhas bestas erudições.

Toca-me, mundo, que és bonito.
Toma-me como parte, partilho.

Sofra comigo, levanto-me, curo-me.
Mereço ser homem novo,
Sou homem novo.

Escuta-me, coisa qualquer, espírito, que seja.
Falo, evoco, invoco,

me desconsolo:
sou abismo que me separa de minha própria existência.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Endoudei (ou Poema em linha torta)

Corpos mapeiam corpos,
entrepartidas,
entradas e saídas.
É a sinfonia do novo mundo impondo novas associações à ortodoxia dos sexos:
vão queixos roliços roçando virílias,
e pernas se fecham pinças nos troncos, nos falos e nos pescoços.
Boquinhas delicadas deglutem mensagens que o dia ainda não deixa ver.

Costumeiras transgressões.

Salve século vinte mil em um,
onde é que foram parar pudores, pastores e fogueiras?
tudo na cama dos coroinhas,
tudo nos ateliês dos desáineres, os paulistas, os multi-artistas.
Tudo é puta poluição e a palavra já não tem poder.
Tudo é choque, polícia e punição.
O cinema resolveu a falta de tempo,
a literatura resolveu o excesso.
Eis que estamos no limbo,
Delírio banal.
Eu faço o que quiser e (pena) não se fala mais nisso.

Afagos de um coração anoitecido

Ela, bonita ela, que se contrói em mim, penteia meus cabelos e me faz amar.
Recheada de porões, mas que tapa todos eles com dentes pra ninguém tentar.
Sobe embriagada pelas minhas pernas e se faz pecado no que posso lamber, sentir e negar.

Bebo pra sufocar a plasticidade de tudo, fumo pro tempo passar.
Cegos me interrogam pra saber o que há de mal, sem saber que distância entre meus olhos e suas bocas não passa de ar.
Vivo pra perdoar todos os meus pecados, simples, porque não nasci pra rezar.

Vou atrás dela, minha vida doce que se esvai nos dias sãos e que não espera a dúvida pra chorar.

ar, ar e ar. Bestial e já suficiente ar.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Alegria criadora é autóctone


a sinceridade aproxima, é flor virando fruta.

aquele começo e toda beleza ingênua que o suporta e autoriza dão lugar a um espaço de inquietação.
acho que isso sim, seja, talvez: começar.






foto: Guilherme Fraga

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Oitenta e sete

Sou um velho que abandonou a casa e ganhou a rua por conta de um delírio. Sequer tranquei a porta, senti que voltaria logo. Abandonei meus móveis, a compania inerte do ar assentado da casa, as canções ecoando repetitivas e insuportavelmente acolhedoras. Sou um velho em chamas que perdeu os pudores e por alguns dias visitou centenas de cidades imaginárias. Perdido e voluptuoso. Rompi com a moral dos meus remédios, chinelinhos e chás. Sou o velho dos monólogos de espelho e à parte: às paredes. Voltei. Enquanto meu amor foi correndo forte demais nas veias enrijecidas, de muitos anos cansadas, o chorume escorria na beirada das pás dos tratores, nos lixões, e soldados viravam fotos nas guerras. Eu só amava. Um país entrava em colapso, dona Fulana pisava no continente asiático, era a primeira viagem que fazia sozinha, a primeira alegria que sentia sozinha. Eu só amava. Daí voltei, quando um dia me disseram que fim. Voltei com meus cacos. Vestido de frívola sabedoria, voltei à casa velha. Meus móveis iguais, eu os reparo carinhosamente. Lentamente. Suave, vou me recompondo ao corpo: eu-casa. Estremeço só de pensar na saudade estrangeira que me habita. O silêncio é leveza, no coração sinto muitos apertos. (Sinto). A solidão me é tão mais familiar que o amor.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

pinto

algumas mulheres se travestem por ele, fingem por ele, se fodem por ele. depois estufam o peito e mostram força por terem um vibrador

algumas mulheres se travestem com ele, fingem com ele, se fodem com ele. depois reclamam

buceta, dinheiro e afins

quero saber e sei que um dia eu vou amar alguém pra morrer por ele como desculpa para meus apelos e colos.
vou ser igual, não no sentido negativo da palavra, vou beber e fumar pelo amor glorioso.
nossos corpos vão se fundir e a gente vai jogar cegamente, ter ciúmes e quem sabe um dia (enfim) morrer em paz.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

meus generosos olhos

fui olhando no olho. sentei-me no chão com a nádega vacilante. apoiei meu braço suavemente na lateral do seu corpo, nessa abertura entre o braço recostado e o tronco rente ao chão. desci na curvatura possível do dorso, dobrando coluna. deixei meu rosto na posição do seu estudo.

montado pro seu deleite.
cansado da discussão da hora. sobre teatro e teatro-quê.

feliz de entrega, tive tanta certeza da sua beleza que percebi que era levemente estrábico, meu amor.

bonito, ainda que estrábico.

movimento do mundo (cíclico)

estar feliz: uma deixa para estar triste.
estar triste: deixa pra feliz.



volta e meia: chão.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Verdades impublicáveis (quase obsoletas)

É difícil. Eu venho de tão longe. Eu vinha com imagens demais na cabeça e quando vi já colocava você nos entres das minhas convicções. Confuso, leviano: eu. Acho difícil, sabe. As coisas vão aparecendo ao longo do dia em que estou só eu e você, nossos encontros de meninos, tão íntimos. Aí eu vejo um filme, ouço qualquer coisa, troco de cidade por um dia: e a vida começa a pedir passagem (- onde estava? - aonde vai?). Vem e te derruba, vem e me questiona: será que eu te amo? Será que você sequestra meu tempo e me emburrece e me humilha? Será? E se você não sabe que eu penso tanta coisa... e se não sabe que eu sou rio e que sou perverso e que adoro nudez. Por vezes te achei patético e tive pena, desejei rasgar tudo (- onde, onde). Mil outras vezes pensei que não resistiria se você pensasse o mesmo de mim. Injusto. Sou egoísta, amor? Te traio, me traindo. Tão logo te machuco, sou eu quem se machuca. Eu sou bom. Eu sou tão bonzinho... nossa! Sou louco. Você é estranho, existe tão bem na inexistência. Minha presença te inibe, minha ausência parece até que te ativa. Mil perguntas que só ouço depois. Pra quê tanta pergunta? Depois de te ver eu fico fraco, passou da hora, não dá pra ouvir. Se não for olhando nos olhos, é fácil demais. Mas é quando você se lembra de me dizer as coisas: no depois. Por que não comigo? junto, partilhando... eu te amo, ué! Por que você não é de falar? Por que é que eu não aceito que é assim? (adolescente, adolescente: olha esse texto, que coisa, parece que não venci nada do que venci. É um desafio. Esqueci o futuro e escrevi.). Quero! Não quero! Produziríamos, discutiríamos, que alegria! Eu só queria te amar até vencer o prazo. Mas você se cansa, porra, você não cuida de mim. Você vai embora e eu não sei se é desprezo ou ignorância ou indiferença. Eu diria que não era sequer pra pensar nisso, e ser feliz de sexo e de joguinhos de ter vergonha de você. Só isso: eu olho, você olha, eu olho, você foge. Quem é você? É muito ou muito pouco? Eu sou grande, sabia? Tem gente que diz que treme ao me ver. Tem amores que eu desprezei, mas você: eu quis. Eu não quero! Eu quero! E... aí eu vejo: você também é isso tudo. Que merda, que coisa, que óbvio. Você é lindo e cobiçado e monstruoso. Queria te dizer: - quanta pretensão ou - quanta falta de pretensão. Seus dois maiores defeitos. Tanta boca na sua boca. Eu não ligo! Eu nunca liguei pra esse tipo de distância, só passei a me importar porque ainda não entendi quanto foi que regredi, a que estado nascente retornei. Quanto é que isso tudo me faz mal e bem (se fujo). Não... esqueça. Meu querido, meu bem, meu não-sei. Eu sou tão normalzinho, posso não ser nada disso amanhã, mas perder o medo é coisa que não posso fazer todo dia. Ai! Que doce mentira! Perdi o medo e te disse tudo que penso (ai! Será?). Esse é meu delírio mais carinhoso. Seria um crime se você não lesse cada palavra com a densidade devida! Ai! Não... nada a ver. Não tenho medo: você não vai nem responder, agora vou ficar por baixo, no baixo. Ou não! Quem sabe até incrivelmente soberano. Rei de nós. Eu só queria te dizer que não sei porquê ficar longe, nem sei porquê ficar perto. Ainda quero você perto-longe. Me fala coisas na cara, me olha feito um brutal conhecido (sempre!). Por favor! Nunca se envergonha de mim. Te coloquei tão dentro. Volte e não volte sempre que quiser, sem pudores, sem jeito. Isso é um abandono e um convite. Eu sou o mesmo que te escreve, seja em que via dos constrangimentos nos encontremos. Olhe pra dentro: lá estou eu. Dentro dos olhos: estou eu! Confia em mim. Uma tarde dessas vou beijar você suavemente e pensar, redundante: - que simples. (- eu sei)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

nada como um atrás do outro

febre, garganta;
tênis, portão;
videotape, calma;
pecado, pecado;
chiclete, suspiros;
dinheiro, gasolina;
saudade, londres;
vontade, estrada;
amor, não sou eu de novo;
menstruação, alívio;
eu, toneladas de pluma.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Adaptação ou pequenos prazeres

Janela grande e aberta
E sol que inunda a sala branca de férias
Cheiro de almoço madurando em fogo
Vento frio no corredor dos quartos

Nomes de coisas em que não pensava há anos
Santa satisfação com ideias próprias e geniais

Orgasmos com pleno ar nos pulmões
E desconhecidas canções com violinos singelos

Tempo com jeito de foto: impossibilidade da vida
Magia de conceber, desespero em traduzir,
desespero em ser, magia de agir.

Concreto que é concreto, se não é.

terça-feira, 5 de julho de 2011

e Raízes

somos

domingo, 3 de julho de 2011

des illusions, desilusão

E havia este homem que deslizava incessantemente pela superfície de um círculo. Pela parte de dentro, percorria toda a linearidade bidimensional daquele círculo de reinvenções. Vermelho. Quantas vezes já teria colecionado essa volta? Em que ponto havia começado? Ponto por ponto, encontrava as pessoas na encruzilhada possível dos ventres, as mesmas pessoas nos mesmos pontos. Minhas tias, Úrsulas cascudas, me ensinaram que se pode viver pouquíssimo com o pouco de si. Desenhar a vida em possibilidades cada vez menores é também uma garantia de vê-las sempre cumpridas. Meu mundo: meu quintal. Pelo menos o tenho sob a vista. Amei alguns dias desde abril e fiz piruetas maviosas com o corpo e com o espírito. Não sei dizer por onde passei. Sou aquele homem, deslizando na parte interior do círculo, a ponto de se fazer indiscernível se é ele ou o círculo que se move. Virão outros amores e outras dores, são poucas ideias, minhas tias já sabem. Quem nunca repetiu os erros, jamais enlouquecerá. Saibam, no entanto, que não há redenção sem loucura. Podem seguir rezando: não há.

(e tenho dito que por trás do círculo um imenso branco engole a dimensão do aro e envolve toda essa incerteza em imenso vazio fútil. A difícil estrada entre sabedoria e insanidade continua conjugando as vias. Ora seguir e seguir, ora seguir e voltar.)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Minas Gerais

o que foi isso que eu trouxe no bolso?
histórias, fotos, tristezas, gargalhos de felicidade, muito chão, frio e cafés.

vim e te trouxe uma foto, pensei tanto, tanto...
tem gente que fica mais que abraço,

demorei a postar e perdi a corrida de dar o cú, de nova à velha saudade

domingo, 19 de junho de 2011

Eu: determinante

Qual é a cor do mundo numa dimensão sem testemunha?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Quais livros ver, quais árvores ler.

As mentiras me ajudam a ser mais verdadeiro. O que é que estou fazendo todo esse tempo que ainda não li os clássicos todos, os simbolistas, os realistas, toda a geração de 30? Cadê eles todos em mim? Tenho vintinho na cara lisa, já li céu demais, rostinhos bonitos, já li com os dedos nos cantinhos dos corpos, leio, leio, leio, sem emagrecer. Leio e não fico forte. Quantas tardes desperdiçadas. Quantos não-mergulhos. Se o mundo se estabelecesse numa lógica identitária do não, ai dele. Eu sou tão não-fiz o que quis. E o que faço agora? Estou não-lendo, não-dando atenção à minha mãesinha, não-ajudando projetos e propostas das quais tanto não-duvido. Ai, meu português, uma lente vocabulosa do mundo, língua de articulações. Eu decodifico as árvores, a rachadura da parede, mastigo, rumino todas essas imagens e elas assim metabolizadas se transformam em paisagens dentro de mim, meus mapas, carregados de história. Quem vai me dizer que não li ou que não-li? Eventualmente, aos 50, um colega de intelectualidade, outro pobre coitado como eu, me indagará: e anda lendo o quê? Responderei que ando lendo qualquer coisa entre chinelo velho e vontade de ir ao teatro um pouco mais. Letrado, pensará o meu amigo questionador, Letrado, sim. Este senhor tem olhos bem cansados.

sábado, 11 de junho de 2011

Buracos

A intimidade é furacão derrubando casas e mão dos deuses: reconstrói. É burra. Os rincões mais obscuros se arrebentam escancarando mil portas, luzes de cinco sóis inundam os porões sujismundos da alma. Os limpam. Os sujam mais. A intimidade vira líquido denso, pasmaceira alegre, doce sabedoria da insistência. Desierarquiza as linguagens, inutiliza a fala. Impõe pavor nos corpos, vontade de dilacerarem-se no abraço mais carinhoso até um peito projetar-se no outro e tudo implodir. Arrancar pedaço. Mais perto, dentro, rasgando, sangrando, nas orelhas, nos cus, as narinas querendo inspirar espíritos. Ai que letras, nos olhos, tudo bem rápido, tudo varia, tudo entendido na gramática dos gestos. Se fosse uma cor, seria soberana nos arcos. É roupa. É nudez. Vai ficando maior e maior. Que medo! A velocidade dos códigos dos nossos órgãos tão íntimos, tudo vai ficando imenso, inapreensível, vão sendo ares e ventos, cochichos internos. Coça. Desesperada e simples, ela reinventa o mundo dentro de todas as impossibilidades possíveis. Se subleva da nossa condição. Desumana. E quando a incongruência de dois universos vira qualquer coisa que comprova o vazio da imensidão, dorzinha obsoleta, olha pra esses olhos vazios, que não sabem nem gaguejar. Olha! Olha! Vai embora e dá lugar a mais dedos e mais neurose. Tudo de todos nas minhas mãos pra me amparar nessa loucura furiosa. (por favor)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A serpente

Era má, Gaivota, a serpente. Era má. Certo dia, deslizando pelas campanhas imensas daquela terra donde nunca saíra, refletia sobre transformar o mundo, as sociedades, os tempos. Ideias rarefeitas, inoperantes. Gaivota já sabia que morreria ali mesmo. O tempo mata as vontades. Sabia também que não fazia nenhum sentido rastejar, rastejar, comer, rastejar. Sequer piscar era um direito dos seus! Pra quê? Pra quê mundo? Ficava na beirada de um horizonte vendo terrão até no limite do outro: território do absoluto e do homogêneo. Maldita vida sem vida. Não hei de agir?

Pra quê? Pra quem?

E tinha ser tolo que lhe tirava a paciência e a fazia pensar em sequer se reproduzir. Pra quê!? Vivia transcendendo, mas não saía dali. Se soubesse que o horizonte não acaba nele... Nisso nunca pensou. Bobinha. Via uma folhinha verde do lado de uma amarela e já desatava a pentear a mente: tantas associações geniais. Ninguém soube. Só eu e eu nunca contei pra ninguém. Nem lembro mais. Folhinha verde, folhinha amarela, ourinho, chuvinha, tristeza crua, felicidade madura, azul, verde, amarelo, irmão e irmã. Besteira! Parava de pensar. Não dava conta: pensava no parar.
Gaivota passou a vida assim que não fez nada de útil. Só pensou. Pensou demais! Morreu perplexa. Tadinha.

sábado, 4 de junho de 2011

Crepúsculo

Guarda-chuva rodopia vagando na praia. Terminou o amor. É tudo sem direção nem prumo, será que isso ajuda a crescer? Cada conversa faz brotar um universo, uma vergonha, fecha três mil futuros. Terminou o amor. Deus do céu, que maluquice. Algodão se despedaçando sozinho. Cozinha inteira suja de bolo de chocolate. Os móveis todos de cabeça pra baixo. Termina. Na rua, um carro batendo no outro, todos batem! Chove telhado, de baixo pra cima. Nunca vou ser famoso, se continuar sendo louco. Terminou, terminou. O mundo não vai nos admitir assim, eternamente jovens. Deixa eu envelhecer, preciso das coisas no lugar. Cérebro estourado, tem nada a ver com coração não. Olha lá. O negócio vai voando na praia, a praia imensa. Uma hora eu paro e fico sóóó olhando...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Meu bem

Conheço você, que essas mensagens vêm da alma, pelos canais do interstício desse mundo. Vêm cheiros, vêm as surras que mamãe lhe dava, chorãozinho, seu bebê. Quando é de nos encararmos nos olhos, comendo feiúra um do outro, leio toda essa agonia disfarçada. Eita leitura. Fiz pouco caso do nosso estudo adiantado, pensei ter feito trabalho de aluno misturado. Era não. Nem sabia que aprendi, fiquei bobo. Misturei besteirinha de bom gosto do capeta na nossa pureza, vendi a alma pro cão. Cãozinho. Conheço você, dengo. Essas mensagens vêm esmiuçadas no segredinho do mundo, rodapé da feira diária. Ninguém nota, mas tá lá. O que vamos vivendo tem jeito de não parecer nada, mas vai ver pra ver: tem coisa. Sente que aperta esse disritmado e entende que os sentires são todos de bom grado. Assenta paz nesse peito jovem, tem novidade que vem pra queimar, tem novidade que é só jogo de dormir abraçado e falar nadinha que o valha. Foi que nem fiz na vez que veio antes e deixou marca, vai ser assim também quando o futuro abrir página. Conheço você, hortelã, coisinha. Ai! E foi por causa de estar perto. Foi passando, escorrendo pelo silêncio significado, vê se não é coisa que prova nossa esperteza? Coisa boa. Gostei de você demais.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

segundos

passa todo dia santo ou não pelos mesmos lugares
pensa em quase todas as pessoas
marca mais seu corpo
compartilha mais segredos
planeja o dinheiro pouco
se tapa do sol
se estapeia nas luas
chupa mais um pouco
e
sente.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

As brumas

O mundo diluído na aspereza do nada,
E sublimes infinitos que jamais diminuem.
A vida nos vazios, nos entres, mas de silêncios ruidosos,
Sagrada atenção ao corpo, à alma,
E ao fio da morte contruindo estradas.

O tempo longo entre as sílabas,
O tempo oportuno: não há.
O tempo que viveu minha mãe sem meus olhos,
Janelas se abrindo para o sol
E água da chuva banhando os pastos.

Incontáveis vidas sem mim.

O vazio do desejo,
E desesperados amores degustando feridas.
Crostas na pele, carícias cíclicas.
Trabalho da terra desocupando sementes.

O infinito para fora,
Interior que desabrocha: necessário.
Meu coração em retirada
E sutis linguagens de olhos secos sem pranto.

O mundo em nada: áspero.
O mundo assentado na delicadeza do tudo.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

homoafetividade

só lembrei....


HAHAHAHA

conspiração!

essa noite meu filho felino lindo brincou/sumiu meus brincos vermelhos vinho. tive que estrear o da sacolinha branca :)

coisa boa e rápida ontem, foi-se que nem perereca jogada na panela quente pra brazillla.

mas entendo, esses cansaços ainda vão nos ressuscitar.

domingo, 8 de maio de 2011

Fantôme

Velho homem acorda sobre a água, chorando grama seca. Sobe as escadas rolando, pula três árvores e mastiga a terceira. Beija os lábios de Sara (ou era ele? ou era ela?). Caminha três dias em linha reta, grama seca, grama seca, tem cruz na estrada indicando parada. Ele para. Um pássaro faz rodear em volta dele. Eu e você vamos enxergando pelos olhos do pássaro e vamos embora pra cima pra cima, tão alto, de nuvem, de espaço, que a gente até esquece. É sonho, minha tia: sonhei que esqueci.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

F. Salésio

Fresca manhã desfaz a noite
O sol penetra no escuro dormido das nascentes
Colore o corpo alegre das árvores
Traz novo fôlego à sisudez da terra

No breu lá em baixo
O céu se aumenta de infinito

em mim.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Amanhã não serei eu

Aos que andam desprevenidos, insuspeitos, confiantes: a vida a qualquer momento vai arrebentar o chão, desfigurar o céu, todo vulcão, sem pudor, despertará.

Sábios desprevenidos, se preparem (e se perdoem) para viver os pecados dessas tempestades. São cheiros e olhares, são sexos gêmeos, são pais e pais sem filhos. É carne sem memória, são dores e drogas.

É o fim do mundo.
Pra se perder. Pra se entender. Pra libertar.

sábado, 9 de abril de 2011

A porta leva à porta

Eu tenho dificuldade de trabalhar a recíproca. Tudo funciona em mim movido por dentro, mil essências e mil capilares se estendendo pela fragilidade da pele, pela branquidão dos olhos, explodindo em pedacinhos de raízes vermelhas, nos olhos, nos olhos. Tudo alcança a dimensão incrível de ouvir e chega no peito, um caminho impossível, sem pontes, sem eixos. Tudo tem mensageiros no olfato, a sisudez do olfato, o fechar de olhos no olfato. A cada passo caminhando descalço, a temperatura depreende seus códigos imensos pelas aberturinhas da pele, essas primeiras bocas, primitivas bocas, remoendo conversas por dentro do corpo, comunicando calafrios, safadezas, intenções infundadas. Bela mentira, os canais dos órgãos se traindo tão rápido, falhando incessantemente em traduzir a mensagem primeira que nasce em cima ou em baixo, quem é que sabe onde nasce? Leveza. Três mil vezes errei e ainda me sinto levemente insistente.

domingo, 3 de abril de 2011

Livre!? Não. Livre.

As coisas da vida são maiores do que as coisas da vida.

Amar talvez seja assim como um corpo sem roupa. A roupa ao lado do corpo e vice-versa. Frágeis. Corpo sem roupa e roupa sem corpo, caminhando lado a lado e na medida mesma do gesto de um, assim é o gesto de outro.


É algo assim como o incontato, o descontato. O centro do som.

domingo, 6 de março de 2011

oi

Nenhuma conversa leva a nenhum lugar. Só mesmo o português para conceber que nenhuma palavra leve a lugar algum com qualquer que seja o fim.


Nessas cartas já houveram tantas mutações. Minhas, suas e nossas. O pouco tempo que a gente se esbarrou antes da sessão de cinema atrasada me diz que precisamos de uma boa tarde de café.

Minha ausência não é desespero, nem dor, simplesmente acontece, vida.

Eu sei, meu caro, que não ando vista, mas acredite, essa foi a melhor forma de me vestir.

Ainda sinto


Thaís.

sábado, 5 de março de 2011

Meus conceitos hão de se tornar mensagens

linfa.

infla.

in - alf (auf).

fal(l)in(g).

(a)f(u)nila.


(l)(auf)(u)(g)(a)



segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O futuro a (----) pertence

Why do not give up, when fighting is no longer an option?

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Tenho vergonha de te amar

Todas as janelas guardam milhões de almas. Atrás do vidro uma cadeira e se o dia for cinza e se o continente for Europa e se a rua for limpa: pior ainda. A paisagem é sempre, eternamente, a mesma. Tantas janelas, esquadrinhadas por tantos tijolinhos e tudo isso é tão distante de mim e de você que cada vez mais o concreto infla e todos os voyeurs dentro de todas as janelas que tudo guardam me olham com a grandeza cruel do mundo, me cobrando a coragem que não tive e que nunca terei de te amar.

Olha só. Meus olhos já viram tanto e meu coração segue tão bobo.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Stand clear

Anyone can be anyone to anyone. This said, why do we still love some?

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Esqueceríssimo!

A rotina do medo não é difícil de se viver. Eu fluo tranquilo por ela há anos. O medo está bem além do que se espera, é bem mais forte, não tem nada a ver com ignorância, deus do céu, nada a ver com fragilidade. O medo deve tudo à consciência, ao conhecimento, à convicção e a todas essas coisas que comem a vida de dentro pra fora, de dentro - pra fora - dentro - fora - dentro - fora (dois lugares cada vez mais distintos). Medo é descobrir demais, é uma ingenuidade corajosa. Eu domei o medo e hoje sou um solitário na guerra, entusiasta do susto. Aqui - lá - aqui - lá - aqui - lá. E lá se vai perdendo eu o contatiiiiiinho que ainda tinha com o mundo e seus faróis.

João ninguém quer ser ouvido

Ninguém quer ouví-lo. Mas ele fala. Na maior parte do tempo o hábito de se trair revela a mais pura das intenções, mas a crença de que se pode ser tudo (aqui e lá) corre pelas veinhas fracas desse moleque de barba precoce. Ele pensa mesmo (mesmo!) que pode ser daqui e de lá e convencer ambas as plateias. Ele pensa que os funerais reunem inimigos. Eu arrepio, e amargo, porque cada vez que o olho, temo que seja verdade o pressentimento vago, que um dia eu tinha, de que eu era mesmo, desde sempre, mais sábio e mais triste do que ele.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Para se ler com sotaque (daonde?)

Oiticicado pelo Brasil, andando pela rodoviária de Brasília, aquela bela cloaca, vejo uma mocinha morena vestida de gari (devia mesmo ser gari) abrir a balinha de centavinho pra chupar, amassar o papel na mãozinha e jogar o inútil no chão. Pensei: nem ela!



Seria o brasileiro um santo?

sábado, 29 de janeiro de 2011

Ardentidia

Era um belo fim de tarde no lago, quando descobri que a minha (c)alma nunca iria chegar.

As horas do dia têm suas caras pra mim, eu as sinto com seus poderes únicos, irreproduzíveis. Minuto a minuto mutáveis. Percebo nos silêncios e nas transições desse trabalho velado, que o Sol tem um respeito para cada uma das horas e cada um dos seus choros.

Meio dia, sempre vejo, é quase ensurdecedor. Ele é longe demais das beiradas do dia e as coisas batem frio no coração com ignorância e desespero.

A tarde amanhece, às duas, sempre outonal. A tarde é um espírito envelhecido que não tem pressa, nem ilusão. Suave e ensolarada, espiã dos apartamentos altos com senhoras frustradíssimas trancadas dentro, cruelmente extensa: a tarde e seus lanchinhos, seus chazinhos, seus expedientes fechando e dando lugar ao santo prostíbulo da noite.

A minha alma nunca terá zelo, calma então... a noite estuprou tudo que eu cultivei por anos, casto, dormindo cedo. Arranquei roupas e fedi, entortei rosto, comi esterco. A(`) noite. É um pote com lama grossa e pantanosa, quando se coloca a mão pela primeira vez parece que sequer afunda. Depois é moroso e sensível o trabalho bendito da noite, suas amarras e seus gastos sem fundamento.

Cada hora tem seu aviso de corra, de morra, de não. É possível, quem sabe, entendê-las, fazê-las fluidas, mas não adianta fugir:

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

saia da minha casa

é tudo que quero dizer quando peço insistentemente que entre.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Enquanto não venho, venho.

- Oi, férias.

- Oi, chuva.

- Tá que chove aí?

- Chove o universo, o céu vira um pretume, mas passa e os pardais praga começam a cantar de novo.




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domingo, 16 de janeiro de 2011

quero ser feliz de vez em quando

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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Eu nunca

Não me lembro de ter sido adulado.
Não me lembro de quando gritei e fui ouvido.




Sou adesivo.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

querer, ser. crescer.

Eu estou aqui, antes da próxima vez que estiver e quem eu quero ser? Pergunta forte, eu tomo café de manhãzinha com o cheiro do meu gato novo pela cozinha, saio e levo minha bolsa marrom debaixo de chuva pra ser quem? Eu me desdobro em amar gente querida, eu colo nesses meus amores como quem acredita em algo maior do que nós, eu me dedico, eu sorrio e até desculpas eu peço, quem serei eu com isso? Eu sou quem? Quem sou esse que quer escrever sem mesmo saber se ajuda, esse que tem saudades de Madrid e do rio Tocantins, se tanta água, parto e caixão os bem separam. Pra quê? Pra quem? Pra onde? Por que silêncio se não me importo? Quem quero ser me explicará? Quem serei que ainda não sou? Onde nos encontramos? A que altura da vida ou do peito? Por quê?: tanto chão, tanto não, tanta palavra pensada... quem serei eu quando sentir saudades do que sou hoje? Quem quero ser quando (me ver) morto? Pergunta forte, não dá pra querer acima da velocidade cruel do ser. É correria demais.

Não se quer sem ser, não se é sem querer. Vida: se não posso lidar com o inexplicável, toda a minha existência tem o tamanho e a pobreza deste instante e já não posso querer mais nada.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Vinte

tro ano. Neste ano serei maior do que o ciclo que arrasta a um ou