sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Desilusão

O mundo inteiro e seus subúrbios estão bem guardados nas rugas secas das minhas tias.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O amor são dois ou mais

Às vezes, sem mais, parava pra pensar e me assustava: meu Deus! meu Deus... será que algum dia você teve alguma noção do quanto eu te amei?

E o mundo nessa sua cabeça poderia ser qualquer coisa que eu jamais entenderia.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Chacina

As questões talvez nunca mudem, ainda que respondidas.

Vale a pena talvez ir matando pouco a pouco alguns exemplares tiranos da perfeição. Vale a pena matar todos os europeus e sua maldita boa vida, praças no verão, prédios históricos, os telefones e o metrô impecável. Todos os mitos, as vilas, os postes. Vale a pena matar poetas e mais poetas, lançá-los em vala comum. Matar Caio Fernando, Gabriel García, os sustos de Lispector. Aniquilá-los! Desgraçados! Nunca vou conseguir ler toda essa dor. Vale a pena ir matando os talentosos, são tantos! Designers moderníssimos, traços, balões em lugar de cabeça, muito sexo explícito, trangressões sem sentido, nonsense com sentido. Com certeza vale a pena matá-los. São uma praga, nós sofremos por eles. Vale a pena assassinar o café, o cigarro, a página amarelada, a fotografia amarelada, o namoro em Paris, o batom vermelho. O batom. Vale a pena destroçar todo e qualquer mochileiro, as trilhas da América Latina, suas veias abertas, Machu Picchu, o deserto de sal. Mataremos a China e a nova onda budista. Os sorridentes. A beleza do cerrado, o céu de Brasília, a casa de Cora. Vamos destruir tudo! Maceió, Bariloche, os alpes suíços, os Jardins de Sabatini, o Everest! São apenas sonhos amargos! Vamos destruí-los! O surrealismo, tão longe, tão longe... Vamos rasgar Limite, esquecer Caetano, o álbum branco dos Beatles e o Dark Side of the Moon. No lixo, no fogo! Vamos trucidar as morenas e as loiras e o queixo de Marlon Brando, todos os Oscars, Golden Globes e joias de família. Todo o dinheiro, títulos e posses, Tudo! T U D O! Tudo o que sei e quero, todos os meus desejos e vísceras. Todo o meu incompleto, meu infinito, meu inalcançável! Todas as minhas questões e medos!! Todo o meu futuro distante, o meu passado aleijado. Tudo o que se arrasta sobre mim e corta. Vamos queimá-los! Matá-los! Nunca poderemos alcançá-los. E se o mundo for belo em vão?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

À meia-noite

Amar pode ser uma grande mentira, pode ser só abstinência. Eu vim andando por essa terra toda, essa poeira brasileira de estrada, é tanto sol e verde e mais poeira que não faz sentido algum perder tempo com o amor. Somos feios demais pra amar, essa troca sem fim de carícias até a pele virar uma crosta, os olhares se cansam, a virília se cansa, e se não tiver todo esse jogo de entrar e sair, amigos também cansam. E é correria demais sobreviver na latrina em que nos botaram pra viver, não existe tempo pro amor! Pelos deuses, não há tempo pra cheiros, não são tempos de beijos! São tempos de cuspes, mais cuspes e escarros pra gente nadar! Não vale a pena entrar nesse filme a essa altura de nós, tanta gente nascendo e arrancando os ossos e assassinando os pais, amar pra quê? Estamos loucos? Estamos pelo menos loucos?

Lânguido

Escute os gritos. O mundo está trepando e isso o move há milênios.