segunda-feira, 29 de agosto de 2011

nem é saudade, você está em brasília, normal e incomum

continua aqui meu antigo vício por essas nossas perdas tão livres,
estrofe por estrofe, pulo e cavo,
virgulo, do verbo virgular e
pontituo, do verbo reticêncionar.

olho meu vô na mesa e penso se ele imagina que eu.
vou pro trabalho planejando férias.
nas férias eu tenho idéias mirabolantes pro trabalho.
sou aqui agora, mas amanhã viro suco.

a labuta humilha meu prazer de dormir depois do café da manhã, chega dói.

choro, mas é de sono.

sábado, 27 de agosto de 2011

Próxima paragem

Toda vez que eu estou por viver uma coisa nova, eis-me você: velho e atrasado. Presença sua, como unhas coçando as costas sobre o pano: sensibilidade indireta. Eu te sinto pelas beiradas, nas caras dos outros, nos ecrãs, te vejo deslocado nos sonhos, você vira meu primo, meu pai, um objeto de inércias ainda mais profundas que essas suas. Eu te encontro nas perdas, tais os extremos, nas vontades de envio que não envio. Te levo a passeio, olha lá, vai indo nem é mais você.

Fica maior do que tudo, fica idílico, desvanesce.

Eu vou te matando de amores, pra seguirmos vivos.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

tigum

sonhei que tinha te levado pro aeroporto em bh.

sábado aqui, domingo aí. beijos recebidos e reciprocados, te amo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Pinto de cima

Caminhos tortuosos do grande mundo. Marlene, chopp de um litro, piolho e tem que ser.

Acordo de uma vez para estar aqui.



Me desejo os melhores dias que já vi.

Um beijo, minha querida Raiz.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

derramados

lembra quando a gente riu na escada falando que ia morrer de felicidade, meu cérebro explodiu!

ao festejo do nosso vermelho de carícias e ao seu destino oPorto sem n de navio

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Festina lente

O amor é um fruto de susto: não há tempo pros planos.
O tempo é pras saudades, pros reumatismos...

No amor, tem-se pressa.

domingo, 14 de agosto de 2011

Décalage

Ergo-me de solavanco, sou forte quanto nem me lembro.

Sai dos meus poros, pouco do mundo.
Desaloja os meus recintos, pobreza.
Desocupa meu solo, desata.
Quero render alimento.

Sai, amor de engano, que polui meu canto com vão mistério.
Sai, amor errante, zombeteiro, nebuloso.
Quero cada letra, quero gritos. Sou homem.

Tenho missão, não me envenena.
Chora, comove: tu.
Quero amor a minha língua, quero meu lixo visto, sou fraco.

Fala por mim, corpo
(que eu sinto tantas coisas que tenho que contar).
Traduze meu abalo, meu universo.
Desabita-me, sucesso, logro.
Habita-me, sorrateiramente, arte.

Socorre minha memória, zelo.
Zela pelos meus pais e pelo meu desafeto crescente.
Perpetua meu sangue quando ferve de comoção por meu povo,
ei-lo: é um.

Salva do afogamento as lágrimas que verti de pureza.
Salva meu entendimento repentino,
salva meu delírio esclarecedor.
Os necessito.
Mesmo que o dia vire, salva-os.

Escapa do meu sonho, resto de cansaço, o tempo me esqueceu sentado aqui.
Me deixa operar, primo, construa comigo minhas casas, o amo.

Abre seus becos e bocas, rua, atende seu filho,
me encaixa gente viva na história, preenche-me.
Mata os difuntos acesos, meus excessos, minhas bestas erudições.

Toca-me, mundo, que és bonito.
Toma-me como parte, partilho.

Sofra comigo, levanto-me, curo-me.
Mereço ser homem novo,
Sou homem novo.

Escuta-me, coisa qualquer, espírito, que seja.
Falo, evoco, invoco,

me desconsolo:
sou abismo que me separa de minha própria existência.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Endoudei (ou Poema em linha torta)

Corpos mapeiam corpos,
entrepartidas,
entradas e saídas.
É a sinfonia do novo mundo impondo novas associações à ortodoxia dos sexos:
vão queixos roliços roçando virílias,
e pernas se fecham pinças nos troncos, nos falos e nos pescoços.
Boquinhas delicadas deglutem mensagens que o dia ainda não deixa ver.

Costumeiras transgressões.

Salve século vinte mil em um,
onde é que foram parar pudores, pastores e fogueiras?
tudo na cama dos coroinhas,
tudo nos ateliês dos desáineres, os paulistas, os multi-artistas.
Tudo é puta poluição e a palavra já não tem poder.
Tudo é choque, polícia e punição.
O cinema resolveu a falta de tempo,
a literatura resolveu o excesso.
Eis que estamos no limbo,
Delírio banal.
Eu faço o que quiser e (pena) não se fala mais nisso.

Afagos de um coração anoitecido

Ela, bonita ela, que se contrói em mim, penteia meus cabelos e me faz amar.
Recheada de porões, mas que tapa todos eles com dentes pra ninguém tentar.
Sobe embriagada pelas minhas pernas e se faz pecado no que posso lamber, sentir e negar.

Bebo pra sufocar a plasticidade de tudo, fumo pro tempo passar.
Cegos me interrogam pra saber o que há de mal, sem saber que distância entre meus olhos e suas bocas não passa de ar.
Vivo pra perdoar todos os meus pecados, simples, porque não nasci pra rezar.

Vou atrás dela, minha vida doce que se esvai nos dias sãos e que não espera a dúvida pra chorar.

ar, ar e ar. Bestial e já suficiente ar.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Alegria criadora é autóctone


a sinceridade aproxima, é flor virando fruta.

aquele começo e toda beleza ingênua que o suporta e autoriza dão lugar a um espaço de inquietação.
acho que isso sim, seja, talvez: começar.






foto: Guilherme Fraga

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Oitenta e sete

Sou um velho que abandonou a casa e ganhou a rua por conta de um delírio. Sequer tranquei a porta, senti que voltaria logo. Abandonei meus móveis, a compania inerte do ar assentado da casa, as canções ecoando repetitivas e insuportavelmente acolhedoras. Sou um velho em chamas que perdeu os pudores e por alguns dias visitou centenas de cidades imaginárias. Perdido e voluptuoso. Rompi com a moral dos meus remédios, chinelinhos e chás. Sou o velho dos monólogos de espelho e à parte: às paredes. Voltei. Enquanto meu amor foi correndo forte demais nas veias enrijecidas, de muitos anos cansadas, o chorume escorria na beirada das pás dos tratores, nos lixões, e soldados viravam fotos nas guerras. Eu só amava. Um país entrava em colapso, dona Fulana pisava no continente asiático, era a primeira viagem que fazia sozinha, a primeira alegria que sentia sozinha. Eu só amava. Daí voltei, quando um dia me disseram que fim. Voltei com meus cacos. Vestido de frívola sabedoria, voltei à casa velha. Meus móveis iguais, eu os reparo carinhosamente. Lentamente. Suave, vou me recompondo ao corpo: eu-casa. Estremeço só de pensar na saudade estrangeira que me habita. O silêncio é leveza, no coração sinto muitos apertos. (Sinto). A solidão me é tão mais familiar que o amor.