domingo, 31 de outubro de 2010

E há a vida?

O velho era bege e fazia umas esquisitices enquanto caminhava pela garagem. Ele tremia quando se pretendia estático. Ele fedia esporadicamente, quando se pensava sozinho.

O velho era terrivelmente vivido, foi à Londres, matou jacarés, comeu haggis, fez dois partos.

Ele ficou lá com a boca atolada de respostas, mas ninguém perguntou.

E há a vida.

Ela odiava trabalhar e também odiava faltar ao trabalho.
Resolveu tudo com um sutiã mais apertado


no pescoço.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

, (fico)

porque preciso.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

cartas e raízes

se for assim, que essas barras sejam pista livre. que a última bala seja cega, como nós dois, raiz.

minha

cre

vida

sce

está

ndo

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Amar II

É como no meio de uma bolha, ela é vermelha e enorme, uma bolha enorme, elástica, talvez ela seja até de borracha, mas eu não sei, porque nunca toquei sua superfície interna, ela é milhões de vezes maior do que eu, eu estou aqui, no meio, de novo, aqui, eu conheço aqui, não tem gravidade e eu giro quando me movimento e parece meio como nadar e não importa pra onde eu me mova estou sempre no centro e não toco em nada, não há onde tocar, eu nem me lembro o que é isso, a superfície é distante e aqui é vermelho e imenso, parece até ter uma luz que ilumina, vem lá de fora, quem sabe sombras, quem sabe vozes, meio surdas, e eu me movo, com elegância, com desprezo, ai! eu queria tanto encostar nessa bolha!! ela também sou eu, mas estou preso, no meio do nada, no meio de um ar, de um diâmetro infinito, estou preso aqui nesse núcleo, aqui é vermelho e quente, às vezes parece morno e eu me encolho, me dobro inteiro, e a sensação de não ter um apoio me lembra um pouco como estar nu e é então que sinto um frio esquisito, meio vergonha e tristeza, alguma coisa que me faz dormir e quando abro os olhos estou ali tão longe daquele plástico, daquele tecido das paredes que nunca toquei, até que um dia eu vejo longe lá longe, talvez por baixo ou talvez por cima começa a subir uma coisa, vai engolindo as laterais de dimensões terríveis dessa minha bolha, vem chegando e eu vou fugindo pro lado contrário, é água, vem subindo uma água e eu vou deixando entrar os meu pés, afinal pode ser bom, são só pés e joelhos e não faz mal entrar um pouco, já estou cansado de ficar nesse meio eterno, nesse centro sem tato, afinal está aqui na cintura, qualquer coisa é só sair, é até bom, vem cobrindo meus ombros e eu me sinto até bem, será que metade? será que tudo? e não custa nada dar um mergulho, quem sabe eu fico por aqui e vvvvvv... por aqui é melhor eu vou nadando e até parece que nem é mais vermelho, é meio roxo, mas eu esqueci, esqueci que quando quando essa água toda me engole é tão mesmo quanto nadar no ar e espera.. rrrr espera, eu não consigo respirar e aí já não dá pra subir ou será por baixo ou, aaaa espera, eu não queria entrar, eu só queria as paredes, eu queria tocar lá, sair desse centro, dessa ação tão sem prumo, gggggg, que suave sou eu nesse centro, sufocado e morto, sufocado e morto, ai, ai, ai.

Amar I

Assim no meio de uma sala, uma sala braaanca, branca, imensa, eu no centro e de longe eu via as paredes distantes enormes, por todos os lados, essa sala sufocante, esse fim, paredes distantes e brancas e eu sabia que havia chão, porque me tocava e sabia que havia teto, porque longe lá longe, nos cantos distantes das paredes eu enxergava os vértices, como mudanças duvidosas de sombra e eu no centro, num centro eterno, e pra onde quer que eu andasse era centro, não importava porque se caminhasse mais um pouco pros lados, pros cimas, pros baixos, permanecia no centro, era sempre centro, tão longe eram essas paredes e eu me sentia eterno e lento e era um pouco bom, mas sem sentido, era terrível às vezes, eu via aquelas paredes e eu sabia que eram paredes e não teto e eu entendia que eram minhas e eu queria tocá-las, mas por que não descia ao chão? por que não descer e tocá-lo? por que não sentar? mas não, eu queria encostar, assim , em pé com um encosto, e me sentia assim sem amparo, não dava, eu andava, eu andava, eu andava, e estava sempre no meio, no branco, no nada, no não.

sábado, 2 de outubro de 2010

Nós, sujeito.

Se as poucas vezes que disseram que se amavam foram pensadas, não sei se a cautela era por se amarem demais e quererem luz sobre os êxtases ou por temerem cair nas redes decrépitas dos excessos da sinceridade. Eram talvez, nem casal. Eram só unidos, atados como que por acaso ou desespero. Quando se deram conta de que o cotidiano é por vezes amargo e os ritos de passagem são frágeis e sem sentido, perceberam que esse gozo furtivo de ser feliz só poderia estar guardado em coisas de uma serenidade inerte, como imagens dentro dos olhos, que assistiam deitados, um em frente ao outro, calculando a imensidão dos cílios, os poros da pele, o frio desse silêncio em que bocas parecem olhar umas pras outras.

Talvez fosse amor, mas seria tão bobo dizer que era. Fazia muito pouco sentido, tanta sincronia, tanto embate. Havia uma vontade imensa de superação, se atropelavam nas revoluções um do outro, forte, grande: e se anulavam. Duas tempestades imensas que juntas eram brisa. Não era amor, porque simplesmente era muito e pouco, aquém e além da palavra hermética, eram fluidos demais, muitos toques, de mãos, de olhos, os rostos colados pelas buchechas, tão mornos.

Acabou assim, sem mais. Você sabe como acaba, como começa, você conhece esta história, essa de não dar nome às coisas. Estou falando de nós, de nós dois, nós todos. Todos vivendo as mesmas histórias, as mesmas coisas. Isso é mais que identificação, menos que mediocridade.

Você sabe, vai doer. Eu sou você.

A inutilidade de dizê-lo

Eu enxergo cada detalhe dessa nossa comunhão unilateral, sou só mais um dos que te ama, sou só mais um que estuda e brilha e chora e reclama do corpo. Mais um que morre e fuma (nessa ordem), sou mais um entre tantos e isso vai me enlouquecendo gradativamente. Não fui eu quem inventou estas letras nem estas palavras, tudo estava pronto. Tenho que duvidar de tudo: do que sinto, do que escrevo, da lógica interna (quase um líquido) que escorre por mim enquanto penso no que falo. Nada disso é meu. Quem sabe se eu teclasse assim uns ashesnklcs,s sduilwçklaslllsslsl assim ao sabor do meu humor e talvez fosse algo de uma linguagem mais pura, mais minha, e eu acreditaria que sairia de mim na direção mais certeira, uma direção que não teve outros autores, inventores, só eu que teclo desenfreadamente, crendo que tudo o que sinto e tudo o que teclo só podem ter uma relação de algo tão íntimo com algo tão íntimo que não podem ser menos do que: EXPRESSÃO. Mas não. Tenho que escrever. No meu português, com letrinhas em fila (alguém me disse que isso também era como sentir). É por isso que escrever nunca enxuga a enxurrada do mundo, porque são pontos e vírgulas e regras de uma constituição que tinha tudo pra falir com nossos ardores, com nosso tudo! kljçasjlksljk, queria dizer de outra forma: sinto tal, sinto isso, sinto aquilo. Escrever assim, legível, compreensível, literário, me faz e fará algum dia ser isso: um mais. Mas se eu hei de batucar no teclado uma canção do meu ritmo próprio, sem ordem na fila, sem ordem na ideia. Oh! kjjkskljaslwlsdklj\ezlkaleo, você escutaria? Você entendeu?

porque precisamos ter mais atenção, disponibilidade e carinho, como com flores.