sábado, 2 de outubro de 2010

Nós, sujeito.

Se as poucas vezes que disseram que se amavam foram pensadas, não sei se a cautela era por se amarem demais e quererem luz sobre os êxtases ou por temerem cair nas redes decrépitas dos excessos da sinceridade. Eram talvez, nem casal. Eram só unidos, atados como que por acaso ou desespero. Quando se deram conta de que o cotidiano é por vezes amargo e os ritos de passagem são frágeis e sem sentido, perceberam que esse gozo furtivo de ser feliz só poderia estar guardado em coisas de uma serenidade inerte, como imagens dentro dos olhos, que assistiam deitados, um em frente ao outro, calculando a imensidão dos cílios, os poros da pele, o frio desse silêncio em que bocas parecem olhar umas pras outras.

Talvez fosse amor, mas seria tão bobo dizer que era. Fazia muito pouco sentido, tanta sincronia, tanto embate. Havia uma vontade imensa de superação, se atropelavam nas revoluções um do outro, forte, grande: e se anulavam. Duas tempestades imensas que juntas eram brisa. Não era amor, porque simplesmente era muito e pouco, aquém e além da palavra hermética, eram fluidos demais, muitos toques, de mãos, de olhos, os rostos colados pelas buchechas, tão mornos.

Acabou assim, sem mais. Você sabe como acaba, como começa, você conhece esta história, essa de não dar nome às coisas. Estou falando de nós, de nós dois, nós todos. Todos vivendo as mesmas histórias, as mesmas coisas. Isso é mais que identificação, menos que mediocridade.

Você sabe, vai doer. Eu sou você.