segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Soube parar de remar

Problemas diários, rotina, cóleras.

Entardecer, água, crianças.

Meninas e meninos enfiando o dedo nos olhos pra sarar a dor, zumbis mastigando-vivo, salário.

Carnaval, boquete, cerveja.

É uma graça, não passa de graça/desgraça essas 24 horas de cada dia.

A vida recomeça, todos vão embora, aparecem um pouco e eu continuo aqui.

Sem fazer nada bonito, sem conseguir te escrever, lupe, me veste tua lupa par'eu ver maior.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Sobre parar de remar

Quando começa é um nó desatando devagar. Eu diria que a pressa é um engano e que nunca se está seguro num naufrágio, muito pelo contrário. Se está sempre assustadoramente sozinho e as coisas podem (poderosas, que são) sempre piorar. É o jeito das coisas, o cheiro das coisas, a vontade da vida triunfando sobre o que é pouco e frágil. Ora, eu mesmo sou pouco e frágil, tenho pouca carne e muito ímpeto. Estou sozinho nesse naufrágio anunciado que me seduz e me renova. Ninguém preconizou tal mergulho sem futuro, olhei tanto para o céu, tenho escutado a voz de tantas divindades, mas nada, nenhuma magia pode dizer algo tão completo como a seta que atravessa de um olho ao outro, pulso ante pulso. Eu me assentei de novo na velha metáfora da casa velha, eu de volta a ela, incessantemente, vestido de vã sabedoria. O tempo, a alegria e muitos partos me-acompanham-luz-do-dia. Voltei a falar sozinho. Melhor: não me calo quando penso. Ser só. Ser feio, ser um futuro em gênese. Tantas esperanças habitando um descampado. Preguiça e rede balançando, um banzo de amor ruído... meu coração em retirada, que dúvidas! Que zelos! Que pudores esquecidos, pra trás nos pelos. Amparados pela mão desejosa, um cadáver repousa sobre o outro, como se dormissem. Estão à espera de algo que os anime, um plano de fuga, que arda e acenda ou que se tornem decrépitos, mas juntos. Nos sonhos, se veem. Se falam em silêncio. O passado chegou de uma vez a esses dias que demoram passar na minha vida. Olha só! Tenho vida, uma história e muitos apertos. Vou carregando uma cabeça sobre a minha, decapitada. Nas costas amarro o resto do corpo e depois o ponho de repouso. Uma pietà! Ah! As confluências, as maldições e as pirraças são todas majestosas bruxarias. Vem, vem, sono, vem. Vou escrever um solilóquio, um monólogo ou um hai kai pra exorcizar um sentimento que me é tão familiar quanto remoto. Voltei a ele mais calado, mais velho mesmo, como a tal casa e os ciclos, portanto, veteranos em flagrante numa inspeçãozinha que executo com o tempo começando a sobrar. Fico escoado, num canto, uma aguinha, um caco, um bebê. Um nobre descolunado.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Albertinho Caeirinho

    Pouco me importa.
    Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa. foda-se!

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Uma gota precipita

o céu abaixou com a chegada de grandes nuvens. Uma certeza ainda (e sempre) se mantem intacta dentro de mim, uma frágil certeza atrelada aos porquês arriscando ataques. Uma certeza esquiva, fecunda, ávida e vigorosa. O movimento do lago não é o abalo da vida de um homem. É só o movimento de um lago, um inseto que incomoda, um capim sem-fim que se espalha, revolta, queima, renasce. Tudo parado num fluxo. Nenhum abalo, dor ou comiseração, nada a ver com os homens, os cadáveres apodrecendo, as muitas e muitas centenas de manuais de família. Uma alegria sem pulso desata: sem origem, sem tempo. Alegria sem coração, razão, sangue e que autoriza o dia e as luzes do dia, lar de muitas danças, quantas. Quanta alegria num mundo enlutado, negro e tão atento ao mistério da dor. (Eu carregando uma certeza inflada e competente). O céu vai passeando em seu movimento autônomo. Nós de carona.