quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Querida,

Um dia me levantei e enxerguei na ventura premonitória das minhas pálpebras fechadas que você nao me amava mais. Era um pranto demasiado grande pra se gastar, embrulhei você numa melodia de um desencontro pra que fosse fácil lhe resgatar dos escombros revirados das minhas entresafras. Nunca tive você quanto de fato tinha, percorria meus olhos pela sua beleza que nao era pele e nao era o gosto, só pra lhe despejar por inteiro em palavras que sempre fizeram todo o sentido. Meus versos mais puros dei pra você, os únicos que fiz sem pensar em fazê-los, era inevitável falar de você, responder seus chamados, repousar na alegria modorrenta dos nossos bilhetes. Sinto saudades porque já nao sei pisar neste mundo e os dias em que meus dedos coçavam se confundem com os que você sorria e gritava bem alto. Foi com você que destruí meus futuros amores, eternamente encarcerados no espelho, me deitava contente, rolando no chao desejando arrancar as dobras do seu vestido de que centenas de vezes falei, escondia meus pudores nas nossas frases tortuosas-cortantes, imitava os homens mais velhos, estendia os dedos e me sentia construindo uma vida. No outro dia você me deu um beijo depois de uma estiagem cruel. Nao sofro se sua imagem nao se impoe aos meus olhos, mas já preciso lhe cobrar a destreza dos meus dias. Preciso lhe cobrar meus amores que permanecem trancados nas gavetas das suas pernas.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Eram duas vezes...

Me sinto envelhecer aprendendo a dizer para que tudo que é amorfo num sonho se torne verdade. Falar é também corporificar e dar vida. Todo o azul do mundo cabe num mesmo mar, querida. Somos de terras diferentes e entortamos as línguas em ângulos distintos pra expressar o mesmo amor, mas somos do mesmo pó seco de planos e morte. Estou contra a parede, minha nudez sou eu que analizo numa severidade adulta, estranha, mas esperada. Sei das burlas irônicas de se crescer imbutido em objetivos nao-nossos, é com eles que gastamos a maior parte do dinheiro e do tempo, num rendezvous impossível, jamais tangível.

Querida, as cores daqui sao espertas e me fazem inspirar um pouco do pó raspado dos dias passados. Acho que estava infeliz e triste. Tenho me sentido mais vivo e próspero e forte, talvez. Tenho vontade de me sair bem no cumprimento dessa proposta que me fiz, e vitorioso voltar a mim mesmo. Viver está aí para ser cumprido, burocraticamente, a cada dia e fôlego. Quero estar melhor.

Melhor vos falo.

(nao há til's na terra de Almodóvar)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A espera é pressa

Às vezes eu me revolto e me remonto nessa sacada em que só cabe a minha alma. Faço um café com cheiro de mãe e acendo um cigarro que não mata. É como caber numa moldura de mundo, meu lugar do crime, meu êxtase bobo. A vida se desenrola completa, este é meu discurso de sempre, eu sempre quis ser um ser de amores sinestésicos, lutando contra a ansiedade de viver meus sonhos protocolados. Quando todo o meu mal hálito social apodrece nas censuras do peito, só resta a mim nesta tragicômica sacada do meu ano mais longo, da minha existência tântrica. É como engolir um prato inteiro de saudades, de desejos, um ritual dos filmes e fotos e textos de que fui vítima cega, de que fui vítima doce. Minhas raízes são meus próprios pés imóveis. A noite, um abraço e um beijo. As cortinas se fecham, os arrependimentos se deitam, meus dedos coçam para psicografar este suave infortúnio. A solidão é um cálice que se bebe coletivamente.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

não é porta, nem tenda

quando os miseráveis se encontram sempre parece que é a última vez. repare. tons e amores embalam devagar cada trago que minha lígua avinhada exala. depois a gente se perde e conversa blablás alheios, é sempre bom. a rotina semanal que a gente tenta, explode na confusão de todos, os poucos minutos que nos restam me dá saudade. meu caro, meu beijo-flor.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Uma porta, entenda.

Foi na lógica fria dos meus medos. Fiz o mesmo gesto corriqueiro de evitar amar e quis sair desse prelúdio inconcluso de sonhar em querer bem alguém, mas talvez já não possa com meus mil eus sozinhos, com a retórica lamacenta da poética do abandono, tons de sépia combinam com café, mas em algum momento do meu peito mais aberto: tudo se explode.

Eu iria querer todas as moças do catálogo, eu iria invejar todos os rapazes altos e fortes, era só continuar sentado na esquina da minha bastardice eterna. Meu mundo meu se desfez nas linhas atrozes dos seus versos inteiros de menina-poesia, não era você e nem era agora e por certo não era eu, mas são os golpes, então te amo aos poucos, em goles.

E quando o fim de novo chega, e eu sou tão lábios-secos que ignoro seus toques mais serenos, durmo no sofá da minha solidão precoce, a abandono sem pena, na clausura da sua loucura colorida, das suas novas vidas tão possíveis, dos seus ideais enfáticos, dos seus por mim. Sei que você é tão mais forte do que o meu mal gosto pelos meus próprios ombros. Sei que não dá pra entrar na página virada dos seus cabelos amáveis, sei também que não dá pra lhe encostar nessa porta e abrir só quando eu quiser, quando a arte ecoar no vazio.

Eu sei que você estaria lá, ou quem sabe eu sonhe assim, são das mendiguices de mim. Você que me escuta ativa, rebatendo olhares de mesa, eu queria mesmo me entregar e encaixar nossos ócios e ignorar o trânsito do mundo e chorar nos seus textos e casar você nas queridas dos meus.

Estou meio manco, estou meio bobo e pequeno. Descobri que é assim: incrível, terrível. Eu que encho a boca de amores, estou com as costas cansadas do peso da falta de um lar. Eu não sei entrar nessa fábula imensa de abraços quentes e chás quentes e camas lisas e sexos longuíssimos que são amores longuíssimos.

Você me entende: não é o fim do fim, é o começo. Sou eu corroendo vias de incerteza e evitando paixões no momento mais apaixonante de mim.

Eu me encontro resposta na própria busca.

Olhos já olham antes que haja luz e querer tocar, já é toque.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

ela é um pedaço não o todo

em plena segundona dei o foda-se pra alguns textos e fui pro sofá me emporcalhar. rolei gorda por todos os canais na net mas é dificil ter paciência, parei quando mostrou aquela mulherzinha de começo de filmes com a mão pra cima. alí começava o fim da minha tarde, a mulher foi a Paris, se transformou, e supostamente encontrada por ela mesma voltou pros eua. cansei da lorota e desliguei antes do fim. Fiquei pensando em como eu devo nortear minha vida, preciso sentir os frios europeus, os choros de goya, quero passar a mão de leve sobre o pelo multiplicado do cavalo de napoleão. sentir os músculos e o cheiro velho. eu estou de tpm, minhas cólicas estão me sacrificando, ando muito mal, muito mesmo, de uma forma rara. a faculdade vai no badalar das horas e meu livro parei de ler. eu não faço nada mas sempre estou fadigada, preciso sair, eu quero explodir. ficar aqui dentro me cansa e me paraliza, desenhei uma menina grande com os seios de fora e fumando e mamãe disse:
_é você?

Ela, alta.

Partes demais de um mesmo encontro.

Clara construia seus castelos na fraqueza das nuvens, mas habitava os vastos cômodos com milhares de caixas de seus dias para reler. Sentar e sentir um aperto, aquele apertozinho que seja no peito, quem sabe chorar um pouquinho e soluçar sílabas de afeto ao narrar a história para um amigo que não a conhece. O sorriso alheio a cada página, numa ignorância singela de quem não enxerga nas letras suas próprias cicatrizes, vias estreitas do passado casadas com os feitiços ferozes da memória e da saudade.

Partes demais de um mesmo encontro.

Sucessões ilusórias de sorrisos mal-feitos, expectativas pesadas sobre os seus ombros, paz de esquecimento. Clara só não suportava a angústia dos ciclos, a vida que sai pelos olhos.
Tinha medo do medo tão infeliz que invadia os poros, escapava dos muros altos das ilusões passageiras e a colocava de volta no chão, trazia para dentro de si a verdade gélida nos seus romances plageados e engessava sua dança suave num lapso.

Não se aguentava contida nessa beleza cruel que é doer, na delícia teatral que é se achar infeliz, na retórica reticente dos sonhos da juventude. Não aguentava amar livros e prantos inquebráveis e não ter tempo para devorá-los. Não aguentava diluir certezas em segundos, profanar as muralhas de seus planos incompreendidos e colocar um peso de ponto-final no peito para não saber mais quando se tira.

Clara era perdida nas canções de falácias do seu futuro e nas histórias belíssimas do seu ópio consentido. A rotina de suas horas era uma valsa infinda de mistérios de uma vida que não acaba nunca.

Era importante, e é, que apenas vivesse, e dançasse, e relesse. E vivesse.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Soupirs de jours

Tenho muito.

A essência de me ser cabe nas linhas ruivas do que é dizer, não sei ser mais que isso. Escrevi para você a semana toda, minhas Raízes, escrevi ininterruptamente e era com você que falava quando falava com o ar fresco das folhas desse caminho de sol quente que atravessa minha garganta todos os dias. Era com você que falava na ausência premonitória da noite, era com você nas facadas que me deram aquele filme, eu ensaio nossos diálogos e preencho minhas letras em nossas cartas por todo o dia, é como respirar.

Decidi que escreveria num lapso, como quem sangra, eu-hemofílico. Escrevi um texto sem pontos, não sei se na mente ou no vento, deitado nos ombros sedentos de um travesseiro e com seu quadro de infinitas cores velando meu princípio de sono, majestosamente. Era isso, tratar de correr contra o tempo, os desejos sem pudores, desejos tão saias, desejos tão flores.

Era isso, pensava: seus óculos precisam de olhos novos, conheci uma menina que me arranca o coração do peito, mas não é amor, talvez só mais uma ereção a mais ou a menos. Durmo com meu cofre vazio, só penso nele, me tornei um porco, sonhador como um porco, feliz como um porco, eu quero lhe ver logo e quero ter sede para beber um barril como agora.

Você, faça o favor de ler devagar, ainda que de baixo pra cima, você que é terrível e diz que não te magoo, você. Lembro de você sentada na cadeira amarela do Pierre e sempre sinto saudades dessa cena que se repete como chuva, sempre a mesma com outros gostos, seus dois olhos lânguidos, guiados pela facilidade cantada das palavras que inventa. Seus dois olhos falados pela voluptuosidade da boca, um perfeito casamento a três.

É isso: as manhãs são quentes demais ou frias demais, não há mais com o que se surpreender, não há mais o que julgar. Eu ouço segredos e penso até em tremer a sombrancelha com os gestos pesados dos nossos preconceitos, mas relaxo nas camas macias de um novo mundo, de um novo jeito que quero entender, aos poucos e pra sempre.

Leia, conto-lhe uma história e só pra você. É a história emendada, assim como os dias tem sido, e por isso escrever que não é mais do que o reflexo, reflete-se idêntico.

Estou com saudades, Raiz.
Viver em preto-e-branco, sair do sistema azul me fez bem, dormir de cuecas afasta o calor, meus caros amigos na minha parede e ponto final.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

"esquema agora é no paco!"

foi aquela anarquia, a gente começou a beber vodka pra esperar a cerveja que o pedro tinha ido buscar. e depois de uma caixa...pelamordedios! caímos, beijamos, trocamos, fomos e voltamos. uma levíssima ressaca moral no domingo mas eu amo ver todos assim, quase ninguém entende que temos que ser assim! não digo pelo excesso de álcool mas prezo fielmente pelos desejos encarnados e escondidos, temos que praticar nossos gritos de socorro pro umbigo, fechar mais os olhos, cantar mais alto. tô me sentindo estranha e um pouco alheia a tudo isso mas fico pensando qual será a próxima coisa a se lembrar. foi legal, mas a gente tinha que ter cantado, abraçado, chorado, qualquer intensidade sincera. e de novo, vocês são todos deliciosos.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

água salgada

Os peixinhos estavam naquele mar. quietinhos como se nada nunca fosse acontecer, não tinham nada pra fazer então foram procriar, treparam, treparam e treparam noites a fio, o coral já estava forrado de ovos e alevinos. e quando cansaram de fornicar, decidiram descer. ir mais fundo naquele infinito e frio universo azul. desceram em níveis, decidiram ir bem devagar porque ficava cada vez mais gelado e também eles eram muito pequeninos pra tanta pressão, poderiam explodir a qualquer momento.
Quanto mais eles desciam mais felizes eles ficavam, era um sentimento de explosão de liberdade, todos eles finalmente se sentiam. O brilho dos animais estranhos que eles encontravam a cada nível dava sentido a cada batida de nadadeira, a massa muscular estava inchando, nunca tiveram tanta força! a respiração estava ofegante, era hora de dar uma parada. ir com calma.
Retomaram a busca de não sei o que. Chegaram num barco de madeira podre, à frente tinha uma sereia que já estava com o nariz e cabelo carcomidos pelo tempo. Deu medo, aquele lugar era estranho e ao mesmo tempo fantástico! Exploraram bem o lugar e viram que eram os únicos peixes daquela espécie alí, foram muito bem recebidos por aqueles escrotos nadantes.
Sentiram a natureza chamando e perceberam que estava na hora de trepar de novo, e assim fizeram até os espermas e óvulos dessa estação acabarem.

domingo, 30 de agosto de 2009

Feio

Querida,

preciso entrar com os olhos na alma e conseguir me dizer o que quero desses dias de rotina lerda, um barco à deriva sem sentido, nem ganho. Ando fraco das pernas e temo pela chuva dos sonhos que podem não chegar, me vejo cada vez mais cativo da força que eles colocam sobre mim, engolindo meus outros planos, os rostos no bar, a vontade falida de sair de casa.

As coisas são tão terríveis de se ver quando não se acredita mais. Tenho conhecido pessoas novas, arquitetado majestosos sorrisos em festas gordas demais, mas não caibo na delicadeza da espera. Não sou sereno e fervo com os braços abertos, meu peito é cheio e morro de saudades de quando éramos sinceros.

Já não sei mais o que dizer e não floreio bonito os textos de sempre. Ontem escrevi no meu diário depois de milhares de anos de ausência e percebi que preciso escrever mais, a coisa mais simples que me vier, e decidi que vou estar mais vezes nas nossas cartas e raízes, porque quero-lhe muito e bem.

Não tenho mais. Tem mais não.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Newsletter ou Como os nossos pais

Você sabe da languidez serena do silêncio, nós estamos perdidos em nós mesmos, fumando ignorância e sobrando pudores. Cada dia deveria ser uma sílaba de uma palavra imensa e sem fim que é viver, essa exclamação que grita. Viva comigo, Raiz, meus ódios e meus lutos, abraços apertadíssimos para tentar romper com tudo que perpetuamos por nossos pais. Queremos ser diferentes e não conseguimos, é a força dos sonhos que se desbota ingênua, é a vontade de deitar no sofá pela tarde vazia, dos raios de desenho animado. É o medinho de não ter no futuro uma mesa na cozinha e feijão na panela, um marido comerciante ou uma esposa com emprego promissor, é o medo de não ser comum, que é o que todos queremos em meio a ressaca de ontem.

E se eu fosse respirar isso tudo, cuspiria o tédio de me imaginar num futuro sem sede, coração e flor. E sem a vontade de amar que não deveria, de fato, descer um degrau a cada ano que repousa nas rugas novas dos nossos rostinhos velhos. Viver sempre na mesma retórica é apenas mais uma prova desse medo latente, um espelho que não se conforma, passos universitários rumo a um mar de dinheiro de costas para o que um dia já foi vontade de nadar contra a corrente. Será que é possível? Tenho pensado tanto, será que é? Existe um limiar muito fino entre o peito que se enche de tanto querer e o fato de papel passado, a alforria do destino traçado, nadar naquele rio gelado do outro lado do mundo e não se sentir um eterno inconsequente.

Só estou tentanto ser diferente, ir diferente. Diferenciar.
Ou isso, ou já vou herdar as meias velhas do meu pai e o bom senso cruel de mamãe.

sábado, 8 de agosto de 2009

obedeci

Vivo em pleno desequilíbrio
marcha de câmbio e de polícia
entre atenção e receio
pé direito pé esquerdo
Vivo em pleno desequilíbrio
sem paz, sem colo
sem pais,
só olho.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

In-próprio

É. Ele tinha razão.

Não só pela maravilha fluida que é o cinema, um útero cheio de cor, mas pelo rosto febril de um teatro de alma, dessa Leal que dança aí pelo palco mais alto. Ele tinha razão. É chocante, os vultos da sina de escrever em paredes e não conceber uma vida sem contágios, seus mesmos gestos, quem sabe a sede de faltar pudores e tudo poder caber numa poesia ou no vermelho mais quente do seu batom. É isso, fala dentro de mim, viver feito Clarice, (des)cansada de si, num desler que não acaba, minha arte é meu medo rabiscado no pulso, como quem teme não parecer que busca sentir todo o tempo. É dessa gente que eu falo, quando falo de nós na infinita besteira ficcional que a gente se torna, às vezes na mesa, às vezes no peito, para traçar uma história paralela àquele nosso pedaço que é tão ordinário quanto o desse povo que sangra dinheiro. É dessa gente que eu falo, Camila, falo até meus dentes azedarem, eu acredito tanto na força dos ossos dobrados de dores da alma, na inconsciência da noite num copo e na beleza de tudo isso picado e batido. Nem me reconheço falando isso tudo, sem ponto e cruz. O bom disso de aprender com os filmes e livros e bocas dos outros é que a gente se sente subindo sem esforço, como que abraçado por pena, vieram me dizer que nos fins só restam os fins em que me diluo, eu me abri pra receber ela, o Daniel não veio pra festa, ele podia ser qualquer um ou a menina que conheci outro dia no bar, depois de anos de chorinhos virtuais. Eu também vi, vi você, ele tinha razão, seus sonhos, seu jeito de gritar e de amar. Eu busco o amor daquela forma, uma nudez de sala, sempre bege, sempre tarde pra me abandonar nela, pra engolir meus discursos, me entupir de vertigens e pizza. Eu vejo que é forte demais isso de ver e sentir e ouvir também. Acho que é bom. Acho que também, agora, encontrei um leito onde escorrer meus excessos.

Ele tinha razão. Ela lembra você.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

que seja por vontade ou predestinação aceita

sabe quando nos dá aqueles acessos e a gente começa a pensar na sorte que tem? pois é, ontem a noite não consegui dormir e fiquei pensando, eu estou começando a minha fase, amadurecendo mesmo ainda "bobinha" e "sem limites". É tão bom pensar no quanto é importante te ter por perto, você sem dúvida alguma, é o melhor dia que já ví. Penso tanto na viagem, estou tão seca e pronta, tenho problemas de falta de ar, pode não ser nada ou pode ser a vida batendo ligeira (prefiro estar longe quando descobrir).
Não consigo chorar mais desde aquele dia, eu simplismente não consigo...e olha que eu sou uma manteiga (mas não moro com você em beéssebê, rêrêrê). Eu tenho sorte, tenho o dudu, o thiago, vocês e o resto da vida pra abraçar.
Preciso ir pra descançar os olhos dessa cidade pequena, quero outros rostos, outros medos infantís, quero ter a coragem de dizer o mais sincero adeus, não fugir, e enfim os dois filhos que me fizeram sonhar.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

eu sonho

ando com ainda mais sede, a vaca pode nos levar e nos deixar longe e pensando nisso durmo com os potes. as surpresas de fim de ano devem acontecer, meus ombros doem tanto...meu sono diurno me faz amanhecer com os galos. fui ao clube levar o dudu pra tomar banho de piscina, ele adora! aproveitei e mergulhei, fiquei lá até não aguentar mais. eu queria aquela sensação sempre, leve e moldável. eu tenho que me entregar mais. a gente pode conhecer esse mundo bão, já comprei o filtro solar, sebastião.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Julho

Perceba, Raiz. Como os dias de julho são belos.

As manhãs azulíssimas me arrancam de uma cama no chão - lençóis que se arrastam amassados por horas e horas de férias - e me fazem ver que a TV é pouquíssimo convidativa.

São dias de tardes macias, úmidas, que acariciam a face e esfriam a pele como num sopro pra sarar feridinha. Tardes que morrem no café das 6, perfurando as janelas felizes com raios laranjas tortos e um adeus que grita.
São pôres-do-sol fantásticos, majestosos, esquecidos da própria beleza. Desarmam nossas certezas pouco sinceras e pausam o rio fútil que corre na mente, pra estampar a felicidade nos olhos. Podem ser vistos por dentro de nossas imensas pupilas brilhantes e fundo no infinito, correndo vivo no sangue, até se esconder por trás do último prédio ou montanha, a caminho do Japão.

São dias de noites frescas e vivas, ensaiando a aurora do dia seguinte, preparando o céu com estrelas contadas a dedo, sorteadas por glória, estancando segredos de inverno e emoldurando namoricos na grama.

Julho é a casa dos meus sonhos, a valsa das minhas cores.

Sinto,
e muito.

domingo, 12 de julho de 2009

amanheci cedo

Sonhei com a madrugada de ontem, acordei e comecei a lembrar. Fazia algum tempo que eu não doía assim, estou derretida. No meu choro eu vomitei minha escolha de uma forma simples e explosiva. Raiz, estou cansada e quando me olhei hoje no espelho tive uma surpresa. Meu rosto estava um pouco inchado e muito branco, de alguma forma eu me vi tão diferente, mais viva. Confesso que eu estava esperando algo muito ruim e tive até orgulho de me permitir a passar por toda essa transição totalmente vulnerável e cardíaca. machucaram meu coração, e feio. a única coisa que sobrou pra ele foi meu agradecimento, as incertezas são piores que a áspera tendência que escolhemos. ...dói, a cada minuto eu me arrepio por dentro.
Eu vou sentir até a última gota, vai ser um gole azedo que eu vou apreciar devagar.

Todos, todos ali juntos, até a vizinha veio (haha, duas horas e meia da manhã a mulher levanta da sua cama quentinha sai de casa naquele frio pra reclamar de barulho, foi sem graça, haha)
Eu estava com as minhas melhores partes, me deram colos e lenços.
eu sabia que você viria aqui me ver...só estava esperando o sol dar uma baixada.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Finzinho

Sumi, Raiz.
E dessa vez quero mesmo voltar. Estou com saudades e ando assumindo que a cama daí está mais quente, nossos retratos talvez sejam mais fortes, não sei.

Eu ía lhe escrever antes mesmo de ver seu recado. Falamos rapidinho, num traço de linha agora, virtual, como tudo tem sido. Ando fraco, raiz, estou acreditando que meditação ou qualquer coisa de maluco possa me salvar dessa insegurança.

Eu quero um colo, você conversando e olhando pro meu cabelo, a vida vai ser mais piedosa com meus ombros e eu terei de nascer mais responsável no mês que vem.

Já vi que a porca vai ter que engordar, ou não haverá chá das cinco em Liverpool ou em nós.

cadê teu suin?

meu bem, espero que as coisas estejam nos conformes. você deu uma sumidinha né, baby?! venha aqui, preciso saber de você...

sábado, 27 de junho de 2009

E eu dos meus

Raizes, meus dias tem sido de rins, médicos e noites mal dormidas.

É estranho, a vida ciano-branca de hospital, nossos parentes entubando sonhos e descobrindo que são frágeis e se amam. Meu pai arrancou um rim e abriu os olhos: a vida corre depressa. Fumar é um risco necessário ou um luxo amigo? Acho que só nós sabemos errar.

Passei anos relendo dores e sorrisos bêbados e ainda nem cheguei aos vinte, tenho medo. Estou conhecendo a impossibilidade do abraço e uma vida de medidas mal pagas na qual muitos me engessaram.

Estou vivendo a tristeza de não entrar na bolha porque não sei o que pensariam de mim. Talvez me chamariam de filho ingrato depois de duzentos anos de sim, senhor. Quero a paz dos fracos, mas me sinto cada vez mais livre para correr no vento, uma guerra de minutos.

Quero vê-la nos risos exalados desse nosso novo Rancho.
Nossas férias serão no mar. Amar.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

meu amor, vim te falar dos meus dias

ei, raiz! hoje uma dorzinha me ocorreu, saudade. o começo das amizades, das paixões e dos vestibulares. está tendo um evento aqui "bolha cultural" e eu fui com a ana paula (uma antiga amiga), leandro, isa, betinho e jéssica. tinha uma menina lá que nos lembrou a priscila namô do lobosque. fiquei pensando..."gente! que vontade de diminuir dois anos pra voltar aos começos" quando o pau brasil era bem bacana, éramos juntos demais, ninguém tinha grana pra entrar e a gente fazia alegria do lado de fora, passando frio e cigarros. todo mundo ficava de boa mas sempre um bebia demais e esse ser quase sempre era o lobosque e a gente sempre tinha que leva-lo pra casa mas as vezes o leo levava (uma vez ele me disse que vomitou no carro dele), ah! o lobosque ficava me pedindo por favor pra ter um filho com o leo só pra ver o que ia virar
"nossa thais, vai ser muito bom, imagino ele pequeninho loiro com o cabelo todo bagunçado e sendo meio bobo da cabeça! e eu vou ser o padrinho dele, por favor thais, por favor!"
eu ficava achando ruim ele ter que voltar de taxi, e aí eu acabei de lembrar de outra história, a gente tava no alkimia e o lucas ligou pro mototaxi, quando o cara chegou eu estava pra lá de bagdá e fiquei falando pra ele não levar o lú pro mato e estupra-lo e por aí vai...
alkimia, que dor de lembrar de lá. o nosso reveion não deu certo, queríamos tanto que fosse lá né, baby. me deu infecção alimentar passei mal, muuuito mal durante três longuíssimos dias. você e a nalú tiraram uma foto me imaginando no meio, achei tão cute :)
hoje mudamos de caras e bares, pierre é o nosso lar e ir lá sem você e nosso pessoal é desconfortável.
vamos nos fazer feliz nessas férias,
sinto (muito)

domingo, 21 de junho de 2009

Fisgadas

Quero amar alguém.

Sinto isso o tempo todo, a cada raio fino e laranja de sol. Sinto. Quero alguém que me abrace em curvas, deitado no sofá da sala, a luz da TV é um pretexto, o chão silencia a delicadeza dos calcanhares, a toalha não toca, acaricia.

Quero alguém que me arranque os ombros, que distorça meus sonhos num grito lento, que beije meus olhos. Quero alguém com uma saia que voe, em mil cores. Que o sopro em sua pele seja o meu arrepio, que um rio de saudade rasgue nossas horas de sono.

Quero amar. Um café que desça bem rápido e um cigarro que faça sentido.

sábado, 13 de junho de 2009

café e seus euros

um dia irmos embora mas por favor, por favor! não agora.
te dou todas as minhas lágrimas se quiser, vou escutar aquela música que me faz chorar e sentir finalmente o amor que há nessa cidade das luzes.

meus juramentos em 10x

Eu não consigo desviar os pulsos, eu sou uma manteiga derretida que não tem muita coragem. se eu pudesse abortar meu coração, ele ficaria quentinho e febril aqui dentro, sempre.
Sinto as formas do que eu sonho por uma ilusão modelada em fumaça que me seduz e encanta minha razão (acho que é isso que me faz sobreviver).
fraca, manteiga derretida, do tipo que curte uma dorzinha. nas costas, na canela, tórax. ah, vamos escutar uma música boa, gastar tempo em coisas belas, esquecer dessa chatice, finalmente fingir que não sentiremos falta. esquecer e começar o novo!

ontem:
minha mãe: hoje é dia dos namorados e você está em casa olhando pra minha cara, e riu...

será? acho melhor começar a juntar uma grana.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Para a Europa com Lispector

, e então será como nos sonhos mais altos. Você fumando embalada num cachecol-arco-íris, a vida em preto-e-branco, óculos escuros à sombra da torre Eiffel. Tomaremos vinho em alguma rua tortuosa da Itália, um luxo desnecessário, um romancinho desfarçado.

Riremos dos neo-zelandeses passeando pela praça onde os Beatles cantaram, piadas incompreendidas. Tiraremos fotos de orkut e de gaveta, e pra pôr em murais eternos guardados no peito. Seremos felizes pobretões lavando pratos e pagando parcelas infindáveis de passagens de avião.
Seremos.

E quando chegarmos ao êxtase do soprar do vento que tanto nos leva de sede, saberemos que ainda há muito por onde andar, e nos perceberemos inchados e tortos de tanto amar e viver. Apertarei as mãos e direi o seguinte:

domingo, 7 de junho de 2009

Assim.

Sabe, Raiz. Nós somos felizes. Amamos gestos e vivemos amando, noite após noite e após dia. Sangramos dores em letras, somos pseudo-poetas, dos mais verdadeiros possíveis. Vivemos esquadrinhados por cores bonitas, admirando balanços de árvores, fins de tarde costurando um pôr-do sol.

Somos jovenzinhos amáveis, vestidos por ilusões bonitinhas. Sonhamos alto. Você pinta quadros suaves que coloco sobre minha cama, eu lhe desejo boa noite, você sorri dentro do meu peito.

Somos leves. Nos encaixamos em abraços e primaveras nascentes.

Tenho achado viver tão bonito. Hoje.
Hoje, não morre.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

alkimia

aquele dia foi tão bom, aquele lugar era tão bom. eu me lembro, era o comecinho da nossa primavera, né, baby?! numa fúria incostante eu rabisquei seu nome nos braços da nossa poesia. e aqui estamos, sobrando distância e mastigando chiclé de menta nessas entrelinhas.
ah, recebi o cachecol. meu cheiro ainda está aí?
agora você vai trabalhar de homenzinho,
e eu vou te esperar de sainha, cigarro e batom vermelho
beijitos
raiz.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Uns ais

São tão curtos estes dias de quase inverno. Nós somos um vão de vontades indizíveis, a força dos sonhos que são sabor só pelo fato de dizê-los.

Uma música dessas de alegrar o peito, meio linger, que não se cansa de repetir nunca, vai costurando ponto-a-ponto uma história de passos mal vistos, mas que sou eu, um querer tanto ser algo que vou sendo sem saber. Umas saudades estranhas, tão piedosas, vão se encrustando na pele, essa memória que repousa nos móveis da casa, um pó de sempre.

Raiz, descobri que vivo mesmo de sentir, o tempo todo. Sugando cores e inventando paixões. Me lembro de você gritando em sorrisos esplêndidos, quero tanto me emocionar, riscar uns braços em fotos escuras.


Eu sei que quando me sentei aqui me deu uma vontade de chorar...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

bendito benedito

o pão tá cada vez mais caro, minha mãe mais carente e eu cada vez mais anestesiada.
quer coisa melhor que o pós-sofrer-de-amor?
a gente precisa, somos fracos, fortes e filhos do norte (espasmos).
Sou fases. sou criança que sempre acha que haverá alguém pra me amar
Sou faces. cresci, talvez ninguém queira se ajoelhar diante de mim com um anel
somos isso, somos aquilo, não passamos de detalhes.
ando pensando menos nesses amores, ele está evaporando e eu também.
estou meio chata, uma leve tpm.
eu sou errada, raiz.
ah, a vida é mesquinha! eu quero aquele tênis da moda e unhas bem feitas.

sábado, 23 de maio de 2009

Relatório

Sempre um ponto no eixo entre o que fui e o que gostaria de ser. A sensação de se estar cavando buracos de ar, reescrevendo as mesmas frases, ruminando os gostos indefiníveis. Peças que não se encaixam nunca, noites que seguem noites, com alegrias memoráveis, mas sem força pra nadar até o dia seguinte. Meus doces pontos de rotina. Meus mundos divididos com meus sorrisos preferidos, caras e bocas, incompatíveis todos com os personagens que não me canso de criar. Um tamanho inconcreto de ser que ainda procuro manter por dentro, ainda que me canse esse rosto furado, amo por amar. Tudo faz sentido em segundos menores que uma gota de prazer, mas ainda queremos discutir, destruir, questionar, rejeitar. O prato feito.

Estou cansando desses ciclos, raiz. Estou cansado de me cansar da beleza dessas dores, do não dito, do que não se expressa, do que não sei.

Estou sem dedos pra dizer fim,

terça-feira, 19 de maio de 2009

Por amar demais (ou não)

É curto.

Abro os olhos, arrancado desse fundo sem fundo que é estar dormindo, amarroto minhas roupas em mim, sigo cansado pro matadouro, aprendo, discuto, comovo, irrito, volto.
O almoço é em casa quando não é fora. É fora quando não é mesquinho. É mesquinho quase sempre.

Chaves de sonhos não giram nas portas, não acho a agenda pra engolir meus planos, o tempo passa, esses passos latentes de clichês irritantes se casando com tudo que a literatura me conta e... quero férias.

Desamarroto os pés dos ovos do chão do dia e despenco na cama, no fundo sem fundo.

O amor, que é meu mote, embrulha estas costas magras, e chora.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Tão logo

Escrevo de volta, como quem rebate às cegas um beijo, só pra dizer o quanto preciso desses seus riscos, seus olhos.

Eu não sou desse tipo de felizes, que os dias passam leves, que as frases saem fáceis, que os pontos soam prontos, sempre. Sou menor do que aquilo que me envolve, um espasmo, sou um gigante perdido em poucas horas. Vivo desemparelhado do tempo, ando amando quando o amor seca, falo em feições distorcidas e me estranho sorrindo demais, num nonsense de Brilho Eterno.

Amanheço um ócio, anoiteço um sol. Fins com força de enredos, as pirraças de sempre e uma insatisfação tão rotineira, tão egoísta, tão sem gosto. Sei que me entende.

Beber desses livros de saber-se tudo e ainda ter sede, me encantar com quadros antigos, rostos e saias, desprezar novos amigos e consagrar os velhos num jazigo no peito. Sou eu, de sempre.

Quero viver meus borrões, tudo isso me consola.

E é belo, Sandra, belo demais.

postal

"Tenho 30 anos, sou quase solteira, às vezes vejo os caras do bar. meu irmão já não vejo mais, não fui no natal dos meus pais, minhas artérias não aguentam. Sinto falta dos meus sobrinhos, dos olhinhos (ah...). Na adolescência maluca me apaixonei, mas ele não, então fui embora. Grávida. Comprei cigarros picados e passei frio. Crescí meu filho numa realidade barata e tranquila. Amei, sim e como amei as viajens, os cachorros, eles e elas. Vamos nos sentar naquele bar, vou escrever as poesias mais sinceras e novas por todo seu braço meu velho amigo raiz.
um forte abraço,
Carla"

segunda-feira, 11 de maio de 2009

até chegar aqui

luiz, envelheci. Encarei a rua na volta pra casa, não disse nada. go go Johnny, Johnny B. Goode...
Só vim embora, os dias estão cada vez mais secos, tenho que beber mais água. O cigarro já está acabando de novo, não quero tentar. Essa minha preguiça é diária. Minha carne se viciou e os beijos afogados já não são mais escondidos, meus desejos estão se devorando, e todo o resto que se exploda (mentira). Você sabe, sou vulnerável à mim. e ainda não disse tudo, meus filhos! e os meus filhos? eles serão de um amor ou de uma mancada. droga!preciso de xilocaína no cérebro.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Para quem silencia por um coração

Um encouraçado eterno. A arma mais digna de se viver. Estar nessa magia de não se saber o quê. Um coração que arde mais do que nos deram nesse amontoado de letras pra falar, um dia que não se abre, um após o outro. Amar.

Eu já sei que às vezes se anda tão bem feito, casado com vírgulas, todos as caixas tem nome, mas nos dias das viagens mais longas o mapa se desprende dos riscos, o curso que se segue é o não seguir, o pouco que se ganha é o troco. Nos resta, meu bem, abrir as portas do peito e encarar velhos lapsos de lucidez como degraus nessa escada: a coisa de pele, o beijo nos olhos, o néctar. Eles vão nos ajudar a viver.

E quando estamparem nos postes a face de um "adeus, nos perdemos pra sempre", me encontre naquela varanda de ontem: nos achamos de vez.

O avesso é o avesso. Sofrer é gozo.
Sei que me entende.

sábado, 2 de maio de 2009

raiz

te escrevo não para te fazer sentir melhor ou pior. apenas para você me sentir sem especificações. você sabe, ando morta, meus dedos estão enrugando e é lindo viver essa dor. essas anestesias são só detalhes, estarei melhor, quem sabe...sei e sinto.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

No caso de eu morrer bem cedo,

não chorem.

Quis dias mais bem feitos, goles mais doces, mas não me amem nos retratos mais do que nesses poucos abraços. Não me entendam, não cantem um falso acorde que recorde meus sonhos. Não teçam histórias belíssimas, não endeusem meus feitos, não canonizem meus dias.

A vida é um gole só de tanto ser. Coisa de pele que não respeita o seu dinheiro excessivo e o meu pouco amar. Vida vazia em bares que nos fazem falar. Desejos verdes, soltos, escondidinhos nos ossos, um eternamente quis te beijar, um dia na chuva e o outro na cama. Tanto não de se fechar por dentro. Saudade que mata e não leva, a vida em letras borradas, o peito que arde, o amigo que dói, meus pais tão tiranos num altar que não cai. Incomplitudes sem fim... e morro.

Desculpe, meu bem. Deixei tanta coisa espalhada na casa.

Apague a lareira, responda minhas cartas.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

me acompanha?

eu quero um suco, um surto de surdez, sinto um desespero uma inquietação. quero abraçar quem me acorda e tudo sem açúcar, por favor.

domingo, 12 de abril de 2009

Nós, em vida

Portas fechadas em dias de festa. Um beijo negado. Caixa das cartas pra esquecer.

Somos eternos privados do gosto, escravos do torto, dolorosos amigos, gente sem jeito, fala amarrada, vida vazia, segredos em casa, cegueira. A vida, meu bem, está sempre a um palmo de nós. Tecemos nossos tapetes belíssimos, engenhosos cuidados com aquilo que não se viveu, e não pisamos neles.

Essas coisas de pele resgatam o fôlego uma vez ou outra pra gente brincar de amar, como jovens idosos que somos, a face sorri num gesto forjado pra ganhar alguns novos amigos: ninguém vive sozinho.

Matamos tudo que brota fresco no peito, que era pra se viver com glória, como numa manhã amarelinha de domingo, pra trocar por umas poucas migalhas de medo e tempo-que-passa,
sempre e sempre, mais um pouco.


(repito)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Em si.

Reinar absurdamente nesses sonhos não é vivê-los cheirosos no dia seguinte. Sei desses abraços tão doces, sei daquilo que queria que fossem meus amados amigos, mas choro ao vê-los concretos.

A vida vai corroendo alegremente esse envelhecer com graça que não ocorre e felicidades são furtivas demais pra poetizar.

Aprendo saudade, terra, cegueira e nojo.

Quero alguém que me abrace como quem morre.

sábado, 28 de março de 2009

Pálido-rubro

O efeito é sempre doloroso.
Dormir encostado nesses postes de luz baixa, felicidade que se insinua, querer descansar dessa vida de poucos bons fôlegos na memória, uma ingratidão tão nossa. Meus dias.

Estou sem gosto. Um insípido fugaz. Cultivo os hábitos mortos de ouvir um samba e beber um pôr-do-sol com novos amigos cor-de-nada, perco a afeição pelo lápis, volto aos velhos questionamentos desse ser eternamente um ponto no eixo entre um passado amadíssimo e o sonho doce no há-de-vir.

E a face estranha diz que é de amor e peito aberto que vou conseguir dobrar os dias e fazer desse oco, terra fértil.

O tempo surpreende os passos e devagar os raios renascem cá dentro, sinfonia que começa com a flauta.

É por isso tudo que sigo: dia novo, cores novas, olhos e um sorriso de moça.
Deliciosos clichês e o efeito de sempre.

domingo, 22 de março de 2009

Raízes

As formas das nuvens formam esqueletos guerreiros de espadas na mão.
O sol agora vira bolha e não deixa meus demônios dormirem, a luta que se trava estala gravetos e mergulha em meus porões. Uma guerra, um farol, minha alma.

Minhas casas, ao longe, e a solenidade de minhas idas e vindas me fazem e refazem em versos de mim.
É nesse leve balanço dos tremores de estrada, em busca do amanhã, que saboreio as saudades de um futuro meu, se abrindo em leque.

Apesar de tudo, estou no centro de um destino de fábulas.
Apesar de tudo, sou mar.

As ondas quebram em cor, enquanto outras vêm pra recompor seus hiatos.

Thais e eu.