sábado, 15 de maio de 2010

6

Estou elétrico. Viver é um prazer alucinógeno, eu aperto às pernas, obsceno, como disse Clarice, o que foi desperto pelo cego e não dorme. Como dizem que disse Clarice. Como dizem sem saber. Acontece! O meu mundo está desvirado, avesso, eu saio de casa e meu peito se afoga de amor pelo mundo, pelo tudo, eu abro o livro e deliro. Prazer demais. Eu vibro, surto, com coxas e peitorais, com almoços e jantares, sujos e líricos. Meu prato do dia é um desfeito, e lindo. Estou nadando no lixo, alegre ignorante, alegre duradouro. Meu prazer não se acaba, se encerra em mim, intransferível. Tudo é pensável, desdobrável, colorível, tudo se engendra e encaixa. Não passo ileso por nenhuma perturbação banal dos sentidos. Cheiro de moça velha no ônibus, gente sem dente, tarde da noite, cara feia de cobrador, moça de salto, descer, subir, ouvir, motor ligado, luz acende, não sou eu, desci, desceram, subi, pensei, cheiro de homem, raiva, pontos e pontos e pontos, para se parar e para se sofrer. Essa é a bola de plástico do dia, tudo enlatado e estático, a gente mal sabe onde colocar todo o capim ruminado o dia todo, cuspir ou digerir?

Cuspir ou digerir, pelo amor dos deuses!!!????