segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Conversation about time:

- Where am I?

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

quero nada, quero nada

começa com uma azia, piora com o cigarro,

remédio não é alimento.

mete o dedo COM FORÇA na guela, vomita aquela gosma brilhante e peluda. Finalmente volta a realidade.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Tauto

Há aqueles que nunca se leem. Eu não. Me leio e aprendo comigo constantemente. Ao estado divino da minha loucura devo um respeito igual ao que ofertaria a um gênio.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O não A


Um homem entra numa via sem volta e sofre tortura das maiores do universo: concebê-lo.

Após poucos minutos, talvez milésimos em que se expôs a essa violência totipotente, sai da máquina dando passos esparsos e lentos, sem nenhum medo da vida. Não reage a absolutamente nada, mesmo seus átomos estão congelados em solene espera. Passa pouco tempo, nota-se a fração do quadrante superior direito de seu rosto começando a se desdobrar para fora da face, a tez se abrindo em linhas e cortes e se desencaixando do todo. É como uma peça de uma montagem de blocos empilhados que de repente tomba para fora da montagem, o olho, desde a altura da têmpora fica pendurado ao lado do alto da bochecha como se fosse um pedaço de pele morta, mas rígida, como se de porcelana pintada, desdobrado sobre a cútis viva.

Como que se derretendo em sólidos.
Como que desmontando-se.

Assim que caíram os primeiros blocos a estrutura do corpo se rompia em peças que tombavam sobre outras peças e percebemos que todo o corpo havia se desmontado em um quebra-cabeças, em que um elemento debruçava-se sobre o outro reajustando a figura e provocando um movimento de reconcepção infinito. O movimento sobre si mesmo, eternamente, por toda a dimensão sombria dos anos. Castigo absurdo. Coitado! Obra inacabada. O homem que concebeu o universo percorreu todas as vias do inconcebível se montando e desmontando numa eterna composição frustrada, que nunca se adequa, que não se goza. Apenas move-se.






(à bulangéria, às flores e à parede branca da casa da Isoca, lisonjeada por não mais o ser)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Fado e facto


Eu amo.

Estes vales longos da minha rua. As pessoas que me presentearam com suas vindas, e idas. Ninguém sabe da minha felicidade vazia de sentido. Esta cidade cheia de encantos particulares, meus amigos novos, minha embriaguez severa portuense.

Voltem e não voltem para essa rua bonita. Minha Oca, meus doentes, meu número setenta. Do que tento falar, são o que tentam todos sobre suas próprias janelas, a inspiração de viver para sempre se dependesse só da grandiosidade delas, das inconcretas conclusões que temos quando lançados ao mundo através delas. Santas protuberâncias: janelas, sacadas, varandas, abismos. Hão de matar-nos e reviver-nos. Eu hoje sei que não faz sentido ser sóbrio num mundo de delírios de Liziane Guazina, maravilha brasileira. Não vale a pena ser lúcido, ou menos que embriagado. Reconheço tamanha proeza da vida.

Um amálgama: eu, esta terra, todos os efeitos da nossa reciprocidade. Tudo me é salientado com ares de despedida, porque amo, claro, posto na cruz pelo tempo.

Quanto mais tenho mais, mais sei que menos terei mais.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O mundo que bonito o vê


Tenho já o percorrido.

Novos cantores, muitas cores, os abraços dos sem sexo. Pulinhos. Minhas coisas favoritas.
O mundo de alegria já começou, em linhas de quem escreve e não é escritor, chegou à maneira de meninos moles, molinhos. Está com a gente em casa velha, porque gosta. Drogados legais. Filhos abrindo os olhos dos pais. Pais menos sábios.

Eu vejo um mundo que acha bonito o mundo. Sem promessas que não irão ser. E no antigo hábito cristão, o triunfo pagão da virada dos anos, um minuto há de bons mulhomens sobre a Terra, recalcados de boas intenções, uns apertos efêmeros tomados por : só encanto desincronizado de relógios. Depende de onde se está, o ano dura mais ou menos, um dia a menos ou a mais em vizinhos de um mesmo mundo onde tudo dói de tão igual. Entre a ponta de um ano e outro, tudo que não se sabe é possível e a juventude é só mais um dos dons.

Eu vejo um mundo encantado pelo mundo. Nas cartas dos meus amigos, na rapsódia involuntária dos velhos portugueses sentados nos ônibus, cheíssimos de rugas, mais velhos que o mundo todo, ora, ex-conquistadores. Vejo nas desavenças, no rio, esteja sóbrio ou ébrio, eis uma conclusão agradável. Que ama a si, e muito ama, o mundo em que estou. Um imenso e imensurável prepotente que nos acolhe e bem.

(começo a entender grandes poetas sem consagrá-los. Redundante, portanto.)