sábado, 19 de junho de 2010

The flow

Suddenly you realize that all the people you have to face in the world are those inside these thousands of mirrors. There are shadows below your eyes, and goodbyes above your hands. We are riding on a double road and both are terrible and they never end. Plants and news are raising from the ground and you want them to cover you while sleeping. They are warm and they bring out your secret wishes which are also secret dreams, we can never avoid them, we can never slaughter them. They are us. They are us.

That's why the roots are mistaken for lungs.

And I
...........can't
...................brea t.. h... e


...........................................................................yet.

Casulo

Estou aqui, e quando saio não voo.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Das Leben der Anderen

Caía uma chuvinha irritantemente fina, eles gritaram juntos, disputando sair pela mesma porta o mais cedo possível, na angústia de se acabarem um antes do outro. A porta em si havia sido um grande sonho. Três degraus que os levariam facilmente à rua e isso poderia ter sido um plano pra facilitar o abandono assim como a feitura do amor às pressas, a vida às pressas, ainda que ter para onde voltar seja sempre de um conforto vagaroso e envolvente. Ela saiu primeiro, por fim, eu de longe enxergava suas frases mudas sob a chuva, um pranto inquebrantável. Ele a puxava pela manga da blusa branca, sem roupa íntima pra cobrir os peitos sadios. Ele com aquela feição do desespero irreparável, tentando arrancar pedaços da vida dela, e espalhar ali pela calçada. Tudo feito sem nenhum plano, ela dobrada sobre si mesma, despejando os lábios sobre o queixo, destroçada. Antes essas faces do desapego me remetiam muito a sofrer. Hoje acho belo e explosivo. Ela foi desenrugando a roupa ensoupada em gestos de desprezo, praguejando ao avesso do fluxo do peito. Ele seguia seus passos decididos como se soubesse onde iam. Passaram por mim despercebidos enquanto eu trancava o meu carro pela terceira vez só pra que pudesse me manter ali, espectador da tragédia. Raios imensos de sopro e de fim tomavam meu corpo embriagado, era lindo! Era imenso! Ela se agachou quando atravessaram ingênuos o pandemônio na avenida. Havia um jardim do outro lado cujas árvores em círculo fechavam uma arena onde vinha morar o sol nas horas vivas do dia. Ela parou de repente como se sentisse que chegara. Éramos três nos molhando da mesma chuva. Ela chorava mais do que nunca e eu já rangia os ossos de júbilo, mordendo o forro fino da camisa, entortando os dedos no meu sadismo. Sorria. Ela quebrava-se toda em cacos imensos, eternamente engasgada, queria dizer. Ele a olhava implorando piedade, os olhos murchos e frescos. Olhando de perto, cortando seus corpos desnecessários, mirei a fragilidade das mãos trêmulas querendo ser tocadas, os braços estendidos e a coluna emborcada. Ela engasgada começou a falar. As melhores frases não vêm na hora mais densa, vêm ao fim do dilúvio, serenas e inadiáveis, pensei. Está perdido. Eu li em seus lábios finos, traduzindo aquela dor tão sincera no meu contentamento distante. Está perdido. E nada mais cruel e óbvio, que beleza nesta amargura! Que pureza nos meus impulsos! Entrei no carro e dei a volta, rodeando os dois, meu gran finale, minha panorâmica desértica. Eles estáticos e abandonados, tão fora do trilho, tão deformados. Olhei pras minhas próprias pálpebras embebidas no meu olhar de fascínio, fechei-as e mergulhei nessa lembrança doce, meu êxtase. O mundo gritava na aspereza dos seus acordes dentro de mim e eu sorria insanamente vivo.