sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Amar II

É como no meio de uma bolha, ela é vermelha e enorme, uma bolha enorme, elástica, talvez ela seja até de borracha, mas eu não sei, porque nunca toquei sua superfície interna, ela é milhões de vezes maior do que eu, eu estou aqui, no meio, de novo, aqui, eu conheço aqui, não tem gravidade e eu giro quando me movimento e parece meio como nadar e não importa pra onde eu me mova estou sempre no centro e não toco em nada, não há onde tocar, eu nem me lembro o que é isso, a superfície é distante e aqui é vermelho e imenso, parece até ter uma luz que ilumina, vem lá de fora, quem sabe sombras, quem sabe vozes, meio surdas, e eu me movo, com elegância, com desprezo, ai! eu queria tanto encostar nessa bolha!! ela também sou eu, mas estou preso, no meio do nada, no meio de um ar, de um diâmetro infinito, estou preso aqui nesse núcleo, aqui é vermelho e quente, às vezes parece morno e eu me encolho, me dobro inteiro, e a sensação de não ter um apoio me lembra um pouco como estar nu e é então que sinto um frio esquisito, meio vergonha e tristeza, alguma coisa que me faz dormir e quando abro os olhos estou ali tão longe daquele plástico, daquele tecido das paredes que nunca toquei, até que um dia eu vejo longe lá longe, talvez por baixo ou talvez por cima começa a subir uma coisa, vai engolindo as laterais de dimensões terríveis dessa minha bolha, vem chegando e eu vou fugindo pro lado contrário, é água, vem subindo uma água e eu vou deixando entrar os meu pés, afinal pode ser bom, são só pés e joelhos e não faz mal entrar um pouco, já estou cansado de ficar nesse meio eterno, nesse centro sem tato, afinal está aqui na cintura, qualquer coisa é só sair, é até bom, vem cobrindo meus ombros e eu me sinto até bem, será que metade? será que tudo? e não custa nada dar um mergulho, quem sabe eu fico por aqui e vvvvvv... por aqui é melhor eu vou nadando e até parece que nem é mais vermelho, é meio roxo, mas eu esqueci, esqueci que quando quando essa água toda me engole é tão mesmo quanto nadar no ar e espera.. rrrr espera, eu não consigo respirar e aí já não dá pra subir ou será por baixo ou, aaaa espera, eu não queria entrar, eu só queria as paredes, eu queria tocar lá, sair desse centro, dessa ação tão sem prumo, gggggg, que suave sou eu nesse centro, sufocado e morto, sufocado e morto, ai, ai, ai.