sexta-feira, 28 de maio de 2010

Depois de sentar e cair,

há algo.

Zero

Esta vida dividida em atas de 24 horas é um afluente que suavemente vai se incorporando ao nosso curso: suave, maliciosa e lentamente. Daí em diante é muito difícil abrir mão dos números, dispensar previsões. Me sinto ridículo quando entendo que já conheço a silhueta dos nossos erros mais básicos, mas as últimas vezes acabam sendo ainda mais naturais que as primeiras. É suave, suavemente assustador, como um dia beija o outro e tudo é belo e cíclico e sem sentido. A segurança prova ser algo muito efêmero para minha natureza de náufrago. Além de tudo as epifanias vão perdendo fôlego, uma refuta a outra, e parecem, cada vez mais, balões enchidos por pulmões cansados. O fato é que, muito claramente, tentando ser sincero, eu não entendo para que rumo tenho ido e isso também me soa repetitivo. Existem referências e precedentes pra tudo que eu queira argumentar comigo mesmo. Eu lamento muito ver que eu preciso de um ponto no fundo, no fundo do fundo pra ir navegando cegamente até ele.

Ai, que aperto. Eu leio o que eu escrevia há mais de seiscentos dias atrás (são seiscentos sóis!!!!) e me sinto ao mesmo tempo distante e repetitivo. Devo me sentir um fracasso? Ao mesmo tempo (assim como quem gosta de repetir e na verdade está confuso) penso: são apenas 18. Em julho serão 19, em julho de 2019 serão 28! Não sei porquê exatamente me sinto uma garota deitada de bruços quando penso isso. É uma forma de menosprezar o que eu muito cientificamente tenho pensado ser um 'problema de pesquisa' na minha vida. Aliás, tudo mentira. Aliás... seiscentos e tantos dias atrás eu me sentia dizendo tanto em/e tão pouco.

Ai, Raiz. Se escrever fosse pensar...

domingo, 23 de maio de 2010

O domingo

Amanhece esplêndido, manhã verdinha e amarela, copa do mundo, copo de leite.

O domingo é bossa nova pura, amar é cotidiano e prazeroso.
O domingo vai nos ajudar com a questão da seca, da secura, das vaginas.

sábado, 22 de maio de 2010

in

é quase sempre assim, quando eu acho que estou seca me afogo.



sinto muita falta

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Dói e não se sente

Andei através de campos abertos inteiros, quilômetros incontáveis, até entender que zilhões das nossas torções internas são intraduzíveis ou desditas, deformadas, se assim insistirmos na tentativa de arrancá-las de seu útero auto-justificável.

É incrível como novos horizontes se dissolvem sutilmente numa borrada aquarela abstrata, abóbora, merda.

Ilusões são manjares servidos em pratos limpíssimos, porcelana de perfeitos vomitórios.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

9

Tudo é uma questão de tempo e hormônios. Não são crises. Nada seria tão bem dividido ao ser narrado. Eu, por exemplo, sei do caráter subjetivo [quase medíocre] que às vezes imponho a tudo que escrevo, mas não posso negar que é tão natural como óvulos descartados.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

8

A ida pro trabalho tem sido mesmo meu nirvana.

Hoje tive uma outra clara e forte sensação, mais uma elucidação repentina que vem em pulsos inconfundíveis, extremamente claros e sóbrios. Percebi quão potente é essa minha capacidade de me envolver na minha própria falsa narrativa de amor e piedade. Não amo tanto quanto de fato penso que amo, na verdade sou um tanto mais egoísta do que a doçura escorreita do meu amor explícito parece denunciar.

Hoje me lembrei com saudade do meu hiato com o mundo. 90 dias que se perderam no tempo, não foram antes nem depois de nada, estão suspensos. Eu estava feliz e meus afetos eram contatos por dar continuidade a almas e almas e vícios e vícios e tédios e tédios, milhares de kilômetros além do oceano.

domingo, 16 de maio de 2010

07

estou pronta para a nova semana que vai começar amanhã muito cedo e vai até a minha morte.
meu domingo foi de muito sono e descanso (eu acho)
quero tentar recomeçar, desafogar coisas minhas, muitas.
amanhã começa tudo de novo, precisamos aprender mais sobre amores antes que sobre domingos e ressacas insuportáveis

hoje faz uma semana de abraços longes, ruminemos.

7

Me imagino na mão dupla: um funcionário público e minha mente um ovo quebrado sem qualquer resquício da vontade de ser que já fui.

sábado, 15 de maio de 2010

6

Estou elétrico. Viver é um prazer alucinógeno, eu aperto às pernas, obsceno, como disse Clarice, o que foi desperto pelo cego e não dorme. Como dizem que disse Clarice. Como dizem sem saber. Acontece! O meu mundo está desvirado, avesso, eu saio de casa e meu peito se afoga de amor pelo mundo, pelo tudo, eu abro o livro e deliro. Prazer demais. Eu vibro, surto, com coxas e peitorais, com almoços e jantares, sujos e líricos. Meu prato do dia é um desfeito, e lindo. Estou nadando no lixo, alegre ignorante, alegre duradouro. Meu prazer não se acaba, se encerra em mim, intransferível. Tudo é pensável, desdobrável, colorível, tudo se engendra e encaixa. Não passo ileso por nenhuma perturbação banal dos sentidos. Cheiro de moça velha no ônibus, gente sem dente, tarde da noite, cara feia de cobrador, moça de salto, descer, subir, ouvir, motor ligado, luz acende, não sou eu, desci, desceram, subi, pensei, cheiro de homem, raiva, pontos e pontos e pontos, para se parar e para se sofrer. Essa é a bola de plástico do dia, tudo enlatado e estático, a gente mal sabe onde colocar todo o capim ruminado o dia todo, cuspir ou digerir?

Cuspir ou digerir, pelo amor dos deuses!!!????

sexta-feira, 14 de maio de 2010

06

fase de se soltar,

pule, lupe,
pule.

05

eu não sei.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

5

Preciso me encontrar.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

04

Acordei cedo para taxiar minha mãe, voltei e dormi
Fiz um almoço guloso de tão bom!
Fiz planos de estudo mas não passei da regra número 1 (ok, foi um começo)
Fiz compras e organizei todos os armários da cozinha. Mudei muitas coisas do lugar, coisas que já estavam lá a MUITO tempo. Coisa boba que me deixou receosa, mas o fiz com vontade. Mudar museus é uma coisa que não se faz todo dia
A dor nos ombros veio e me curei com (vício) maçã
Reclamei pra mim mesmo a quantidade de livros caros que eu MUITO desejo
Pensei no tanto que eu quero fazer uma coisa depois de formar, no tanto que viver ludibriado torna TUDO caro, no tanto que sou um furacão simples e no tanto que o frio está seco, adoro quando ele vem, mas não estou sentindo o que geralmente sentia.

Agora vou

Te abraçar, ler algumas coisas, ficar em dúvida e ainda ter medo antes de dormir.

4

Hoje uma sensação que venho tendo há um tempo clareou na minha mente, ganhou corpo. Descobri que necessito, que é mais forte do que preciso, saber como anda a rotina das pessoas que amo e que, consequentemente, necessito fazê-las saber da minha também.

Tudo é um fluxo imensamente rápido, que tardes tão bonitas e fugazes, que detalhismos.

Essa cidade é um corpo sem alma, Raiz. Isso nos afeta e anestesia.

Sobre a sensação, me deixe saber mais e ver mais. Te abraço quando te leio.

terça-feira, 11 de maio de 2010

03

hoje foi bem mais produtivo que ontem e isso me faz bem. mergulhar nesse turvo rio exige muita paciência, não dá pra digerir tudo num gole.
se no fim do dia nada voltar ao normal conseguirei dormir antes das duas.

3

Eu ando escorrido por essa rotina de trabalho que parece me consolar, assim que vai me engessando numa estabilidade adulta. Ganhei meu primeiro salário e isso me fez sentir estranhamente superior. Um nojo.

Hoje, quando vivia minha jornada heroica dentro do ônibus, fiquei devaneando sobre os fios soltos da vida e aquilo em que não há como não se pensar, e se pensamos, faz parte de uma narrativa totalmente efêmera e esquecível.

Um burburinho de imagens, vi um outro ônibus vazio estacionar ao meu lado, pensei em solidão, surdos-mudos conversavam na minha frente, eu tenho sempre vontade de ler e uma preguiça gigantesca de abrir o livro. Penso sempre que quando for girar a catraca, algum breque repentino do motorista vai me fazer cair pra trás e ter que pagar a passagem duas vezes. Quando deslizo pelo corredor do coletivo, sempre miro as cadeiras mais altas que me recordam vagamente um passeio de infância. Sentar mais alto consiste também em não ter cabeças na frente, então vou lambendo as paisagens dessa minha capital sem jeito dentro de mim. Eu desço e continuo pensando, esse trajeto é um excesso de oportunidade pra se pensar. Eu quase me sufoco.

Hoje é um dia em que eu sei que amanhã posso ser exatamente igual.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

02

hoje sou um rio morto, um rio inconstante que borbulha parado.
Ando mais por dentro que por fora.

01

sobrevivi à br e chorei até chegar em casa. simplismente porque me deu vontade de explodir.

domingo, 9 de maio de 2010

2

"Tudo muda quando se reage a paixões."

Isso foi das coisas que você disse que mais me fizeram arder. Tudo muda. Hoje é um dia que a beleza do mundo me é uma incógnita, ela está aí e me chama, eu estou livre de tudo, eu sei que posso. Existe um trabalho secreto, silencioso, algo entre nós, um líquido que escorre entre nossas existências carregando consigo o sumo das nossas implosões, delírios, gritos mudos.

Hoje gostaria de deitar e me entregar a uma paz pesada, ao sono, que medo, que coisas tão duras de se viver.

sábado, 8 de maio de 2010

1

Minhas raízes,

eu lhe prometi rasgar meus novos diinhas dessa semana de recomeços e começo honrando minha palavra desde agora, que ainda lhe sinto perto.

Estou entre a calça-volume e o peito cheio. Supero dramas idílicos em segundos e essa sabedoria ainda vai me arrancar poucos gritos.