quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Soupirs de jours

Tenho muito.

A essência de me ser cabe nas linhas ruivas do que é dizer, não sei ser mais que isso. Escrevi para você a semana toda, minhas Raízes, escrevi ininterruptamente e era com você que falava quando falava com o ar fresco das folhas desse caminho de sol quente que atravessa minha garganta todos os dias. Era com você que falava na ausência premonitória da noite, era com você nas facadas que me deram aquele filme, eu ensaio nossos diálogos e preencho minhas letras em nossas cartas por todo o dia, é como respirar.

Decidi que escreveria num lapso, como quem sangra, eu-hemofílico. Escrevi um texto sem pontos, não sei se na mente ou no vento, deitado nos ombros sedentos de um travesseiro e com seu quadro de infinitas cores velando meu princípio de sono, majestosamente. Era isso, tratar de correr contra o tempo, os desejos sem pudores, desejos tão saias, desejos tão flores.

Era isso, pensava: seus óculos precisam de olhos novos, conheci uma menina que me arranca o coração do peito, mas não é amor, talvez só mais uma ereção a mais ou a menos. Durmo com meu cofre vazio, só penso nele, me tornei um porco, sonhador como um porco, feliz como um porco, eu quero lhe ver logo e quero ter sede para beber um barril como agora.

Você, faça o favor de ler devagar, ainda que de baixo pra cima, você que é terrível e diz que não te magoo, você. Lembro de você sentada na cadeira amarela do Pierre e sempre sinto saudades dessa cena que se repete como chuva, sempre a mesma com outros gostos, seus dois olhos lânguidos, guiados pela facilidade cantada das palavras que inventa. Seus dois olhos falados pela voluptuosidade da boca, um perfeito casamento a três.

É isso: as manhãs são quentes demais ou frias demais, não há mais com o que se surpreender, não há mais o que julgar. Eu ouço segredos e penso até em tremer a sombrancelha com os gestos pesados dos nossos preconceitos, mas relaxo nas camas macias de um novo mundo, de um novo jeito que quero entender, aos poucos e pra sempre.

Leia, conto-lhe uma história e só pra você. É a história emendada, assim como os dias tem sido, e por isso escrever que não é mais do que o reflexo, reflete-se idêntico.

Estou com saudades, Raiz.
Viver em preto-e-branco, sair do sistema azul me fez bem, dormir de cuecas afasta o calor, meus caros amigos na minha parede e ponto final.