segunda-feira, 3 de agosto de 2009

In-próprio

É. Ele tinha razão.

Não só pela maravilha fluida que é o cinema, um útero cheio de cor, mas pelo rosto febril de um teatro de alma, dessa Leal que dança aí pelo palco mais alto. Ele tinha razão. É chocante, os vultos da sina de escrever em paredes e não conceber uma vida sem contágios, seus mesmos gestos, quem sabe a sede de faltar pudores e tudo poder caber numa poesia ou no vermelho mais quente do seu batom. É isso, fala dentro de mim, viver feito Clarice, (des)cansada de si, num desler que não acaba, minha arte é meu medo rabiscado no pulso, como quem teme não parecer que busca sentir todo o tempo. É dessa gente que eu falo, quando falo de nós na infinita besteira ficcional que a gente se torna, às vezes na mesa, às vezes no peito, para traçar uma história paralela àquele nosso pedaço que é tão ordinário quanto o desse povo que sangra dinheiro. É dessa gente que eu falo, Camila, falo até meus dentes azedarem, eu acredito tanto na força dos ossos dobrados de dores da alma, na inconsciência da noite num copo e na beleza de tudo isso picado e batido. Nem me reconheço falando isso tudo, sem ponto e cruz. O bom disso de aprender com os filmes e livros e bocas dos outros é que a gente se sente subindo sem esforço, como que abraçado por pena, vieram me dizer que nos fins só restam os fins em que me diluo, eu me abri pra receber ela, o Daniel não veio pra festa, ele podia ser qualquer um ou a menina que conheci outro dia no bar, depois de anos de chorinhos virtuais. Eu também vi, vi você, ele tinha razão, seus sonhos, seu jeito de gritar e de amar. Eu busco o amor daquela forma, uma nudez de sala, sempre bege, sempre tarde pra me abandonar nela, pra engolir meus discursos, me entupir de vertigens e pizza. Eu vejo que é forte demais isso de ver e sentir e ouvir também. Acho que é bom. Acho que também, agora, encontrei um leito onde escorrer meus excessos.

Ele tinha razão. Ela lembra você.