quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A espera é pressa

Às vezes eu me revolto e me remonto nessa sacada em que só cabe a minha alma. Faço um café com cheiro de mãe e acendo um cigarro que não mata. É como caber numa moldura de mundo, meu lugar do crime, meu êxtase bobo. A vida se desenrola completa, este é meu discurso de sempre, eu sempre quis ser um ser de amores sinestésicos, lutando contra a ansiedade de viver meus sonhos protocolados. Quando todo o meu mal hálito social apodrece nas censuras do peito, só resta a mim nesta tragicômica sacada do meu ano mais longo, da minha existência tântrica. É como engolir um prato inteiro de saudades, de desejos, um ritual dos filmes e fotos e textos de que fui vítima cega, de que fui vítima doce. Minhas raízes são meus próprios pés imóveis. A noite, um abraço e um beijo. As cortinas se fecham, os arrependimentos se deitam, meus dedos coçam para psicografar este suave infortúnio. A solidão é um cálice que se bebe coletivamente.