domingo, 3 de julho de 2011

des illusions, desilusão

E havia este homem que deslizava incessantemente pela superfície de um círculo. Pela parte de dentro, percorria toda a linearidade bidimensional daquele círculo de reinvenções. Vermelho. Quantas vezes já teria colecionado essa volta? Em que ponto havia começado? Ponto por ponto, encontrava as pessoas na encruzilhada possível dos ventres, as mesmas pessoas nos mesmos pontos. Minhas tias, Úrsulas cascudas, me ensinaram que se pode viver pouquíssimo com o pouco de si. Desenhar a vida em possibilidades cada vez menores é também uma garantia de vê-las sempre cumpridas. Meu mundo: meu quintal. Pelo menos o tenho sob a vista. Amei alguns dias desde abril e fiz piruetas maviosas com o corpo e com o espírito. Não sei dizer por onde passei. Sou aquele homem, deslizando na parte interior do círculo, a ponto de se fazer indiscernível se é ele ou o círculo que se move. Virão outros amores e outras dores, são poucas ideias, minhas tias já sabem. Quem nunca repetiu os erros, jamais enlouquecerá. Saibam, no entanto, que não há redenção sem loucura. Podem seguir rezando: não há.

(e tenho dito que por trás do círculo um imenso branco engole a dimensão do aro e envolve toda essa incerteza em imenso vazio fútil. A difícil estrada entre sabedoria e insanidade continua conjugando as vias. Ora seguir e seguir, ora seguir e voltar.)