sexta-feira, 11 de abril de 2014

Dream Cracker


poderia ser assim, como eu mesmo faço, e olha que sou um pouco preguiçoso: você cultiva suas coisas, seus prazeres, se mantém atento ao mundo e aos outros, ao mistério. Identifica interesses, serve e segue. Uns pensariam nas casas para nos abrigar, cuidar e confortar e abrigar também nossos sonhos e carências e abrigar nossos segredos, nossas intimidades, nossas coisas, coisas, coisas, matéria. Abrigos! Outros iriam pensar fabulosos jardins, jardins que condensariam a beleza banal da natureza, jardins inventados que a homenageariam, citariam, que concordariam com essa vastidão de coisa planta. Passearíamos de vez em quando por ali - ou sempre, possuídos de encanto, um mundo encantador, por que não? Com ruas verdes de Hamburgo no futuro, ou de uma Brasília sem asfaltos, viadutos e gente explodindo corpos com máquinas de ferro. Um mundo sem a invenção do trânsito, do tráfego de motoboys e do telejornal. Ah! Que raridade seria. Que lullllxo! Outros amigos estariam a serviço da seu tempo e da sua condição (humana) e fariam danças e teatro e música e etc. que saíssem de si, de seus corpos e daquilo por que entendem seus corpos e semeariam a questão e o hábito de olhar pra si e para o tempo fecundando o tempo, sem temê-lo. Criariam momentos de culto ao isto-que-é, encantos e potências, úteis e inúteis, arte. Outros fariam deliciosas comidas, porque se come o mundo assim desde sempre, mas não se come da mesma maneira, são muitos sabores, e cozinhariam, fritariam, cortariam, serviriam a todos com alegria e paixão e amargura e diferença, sem jamais pensar na vontade boba de entupir ou corroer uma garganta ou um estômago ou uma veia ou rim. Se pensassem no entanto em fazê-lo, havendo necessidade ou desejo, por  motivo que haja ou se invente, saberiam exatamente o que, como e quanto para destruir, devorar ou deturpar (ou mesmo divertir) qualquer coisa de um corpo humano que será interessante de se brincar com. Brincaríamos com o corpo, sendo ele e plenamente, do pipiu às bucetinhas às bucetinhas-pipiu e às boquinhas, traqueias e coisas sem nome pra sempre sem nome sem querer ter nome, mas que sentem vermelhinhas tudo / e que se movimentam. Pulsam e sentem tudo que a maravilha material pode ver e ter em si. E uns seriam bruxos e truxos incríveis e mentalmente gordos e alegres e se interessariam em mexer no corpo da gente para mudar os rumos de uma coisa que queremos que saia dele ou entre nele, ou para transformar uma sensação ou um estado e fariam bruxarias nas nossas próprias casas, seriam tratados por seus nomes ou por nomes que inventamos para chamá-los e tomariam café ou qualquer coisa antes durante e depois de nos ajudar a sair da cama. Nossos empregos seriam um ciclo de coisas que se promovem e se completam, eu não teria preguiça de trabalhar o trabalho como vida. As brigas e as monotonias não seriam tudo porque tudo estaria acontecendo e não seríamos obrigados a enfrentar a depressão com coisas depressivas como andar no metrô cheio de gente depressiva e passar por paisagens depressivas e propagandas depressivas e cansativas e deprecansativas. Tenham seus hotéis, seus iates, inventem os iates e os hotéis e me deixem ficar neles e me deixem comprá-los e venham ao teatro e comamos juntos, mas se não nos conhecermos, fique de boa e respire o mundo, não me espanque, não me estupre, não me estoure, não me roube nem me devaste, não apague o meu encanto, não me enlouqueça, não me mate em vida, não mate a vida sem admirá-la, não canibalize sem venerar quem devora, seja a coisa, tire essas coisas da cabeça, respire, esqueçam as gravatas, em que ano foram inventadas? Por quem? Para que? Por que não vão nadar no mar de gravatas e trabalhar de sunga ou maiô, por que não se cansam desse mundo cansativo, amante do desencanto. Esse mundo anti-imaginativo, de gente que odeia gente, em busca D Q??? ????? ?? ? ??? ? …