sexta-feira, 17 de junho de 2011
Quais livros ver, quais árvores ler.
As mentiras me ajudam a ser mais verdadeiro. O que é que estou fazendo todo esse tempo que ainda não li os clássicos todos, os simbolistas, os realistas, toda a geração de 30? Cadê eles todos em mim? Tenho vintinho na cara lisa, já li céu demais, rostinhos bonitos, já li com os dedos nos cantinhos dos corpos, leio, leio, leio, sem emagrecer. Leio e não fico forte. Quantas tardes desperdiçadas. Quantos não-mergulhos. Se o mundo se estabelecesse numa lógica identitária do não, ai dele. Eu sou tão não-fiz o que quis. E o que faço agora? Estou não-lendo, não-dando atenção à minha mãesinha, não-ajudando projetos e propostas das quais tanto não-duvido. Ai, meu português, uma lente vocabulosa do mundo, língua de articulações. Eu decodifico as árvores, a rachadura da parede, mastigo, rumino todas essas imagens e elas assim metabolizadas se transformam em paisagens dentro de mim, meus mapas, carregados de história. Quem vai me dizer que não li ou que não-li? Eventualmente, aos 50, um colega de intelectualidade, outro pobre coitado como eu, me indagará: e anda lendo o quê? Responderei que ando lendo qualquer coisa entre chinelo velho e vontade de ir ao teatro um pouco mais. Letrado, pensará o meu amigo questionador, Letrado, sim. Este senhor tem olhos bem cansados.