segunda-feira, 7 de outubro de 2019
Eu me rendo
Tatuagem de Iansã. Adeus a mim. Boa tarde, a morte chegou. Miro o horizonte, grandiosidade facada existencial. Montanha. Pior: montanhas. E ventos! Um viva!!! Vivi. De novo vivo na consciência fria do vento chocando esta minha pele desgraçada pela civilidade. O sonho americano está necrosando o meu peito. Quero ser hippie e fazer pipi nas plantas. "- Che, chega de segurar o pipi." Abre o coração, alma sertaneja, seca e cheia de feridas. Alma goiana paradoxal perto de Deus e distante do universo, o multiverso, o próprio verso poético, o próprio verso que é o avesso... Cáca e pipi... Avesso reverso de dentro da gruta grotesca do anti-eu. Eu me rendo. Mas que bosta esse controle invisível disfarçado de cidadania e e me caindo como uma luva semeando tristeza e dúvida e inventando necessidade ilegais, não legais, aliás nada legais, estou aborrecido com tudo isso!!! Eu me rendo. Me deixe sair. Não foi isso que pedi nas orações, foi? Me enganei. Iansã me abençoe, me solto no vento, me movimenta? Eu desisto da pretensão escolar de dominar a terra e sacralmente me devoto ao que tão pouco produzo, como corpo, como ser, neste destino entre destinos: o ar. Ar. Ar. Ar, por favor, incêndio de ar em mim. Ar ar ar para mover o invisível, para fluir com graça, graciosidade, para nutrir o amor, o amar. Eu me rendo, sobre a montanha, diante de outras montanhas escancarando a pequenez dos meus maiores anseios, vertendo lágrimas de sais antigos de dentro de mim para que finalmente sequem e sumam no vento de axés.