quinta-feira, 6 de novembro de 2014
terezinha e seus dois filhos
Com amor, Terezinha fez dois sábios. Cresceram e viveram o que lhes fazia bem. O que não lhes aprazia, faziam -RÚM! (com garganta e uma sobrancelha) e amém. Num instante descartavam um alimento, um brinquedo antigo, um livro a ser lido, um panfleto do ano dois mil e pouco, um bilhetinho, o que fosse. Descartavam. Um casamento, um elogio, uma colher de açúcar excedente, um beijo a mais pra casar, um sul-venir! Obrigado. Azedos, m a s f e l i z e s. Com muito amor, criou Terezinha dois grandes egos, dois pilares, dois autoevidentes. Felizes foram. Um caminho, se não iam por ali, simplesmente não iam, por lá melhor, não que vá por ser melhor, mas porque fui, melhor foi. Assim é. Não havia ali se ali não houvessem e assim por diante, vice-versa, sem muita conversa, porque não cabia. Cresceram gordões e sorridentes, eram cabeças imensas, apaixonantes, seres redundantes, umas humanidades. Mas nada de desconcerto, dúvida, receio, ou vacilo, não. Não havia tempo, havia sim decisão segundo o desejo, e desejo segundo o pensamento e o ar que o ronda, e assim, descartar: moving on, moving on, moving on. Eis que um dia, obra da tradição, já não eram e eram nada. Assim foram. E daí. Expressivos, se moveram, vieram, viraram e viveram, não eram nada, antes de o serem: nada igualmente. E daí. Me comovo ao pensar neles, porque me apertam o peito, também pouco os identifico, se sim ou se não, se os aprovo bem, se foram bons homens. Que penso deles? Pencil. Não sei. Penso que talvez faltaram diálogos e chameguinhos, talvez devessem ter dançado um forrozinho. Talvez fossem paulistas urbanoides, ou goianienses urbanoides, ou anapolinos urbanoides, ou apenas pequenos debi-loides sem muito coração. Quão indiferente sou a essa história. Quiçá a catalepsia e acordassem encalacrados em seus caixões, já transferidos para lá-onde-não-se-pode-ser-mais-nada e se desesperassem um pouquinho -hehe- com tanto pouco o que fazer. Fezes! Fizeram as vezes e quem são eles? Seres humanos diferentes de nós. Que sorte a nossa, não?