já tinha amanhecido quando fomos dormir, olhei pra janela e o sol já me
incomodava. você já tinha dormido, olhei pra sua boca semi-aberta. figura doce
e calma, daria um belo quadro.
leve movimento labial pra respirar melhor, e pensei na sorte de estar
ali, não deu vontade de ir embora. fiquei percebendo seu corpo, como ele se
encostava em mim, na dramática poça fria de suor que se estacionava na minha
pele cada vez que você se mexia.
tão medroso e inofensivo, como aquela tensão na superfície da água que
exige toda a delicadeza do mundo pra ser percebida. a linha tênue desses dois
mundos, da gente, nossa casa.
de repente me percebi imobilizada, como se não fosse possível nem
respirar, ventou frio pela janela e um arrepio sutil subiu pelos seus ombros,
pensei em te acordar e dizer que eu sabia que ia fazer frio.