Na minha rua começam as pedras fluindo pra norte, onde já nos perdemos. Um jipe azul fica parado na porta do número 70, duma cerquinha baixa e insegura de madeira, envolvendo as plantinhas da Dona Isabela, todos os dias regadas com o tempo que a excede. A minha rua tem a cara das cidades em que lá nunca fui, em que lá nunca irei. Acho que poderia até ter um nome de um país ou de uma flor: rua hortência ou rua Holanda, sei lá. Que besteira. Tudo porque quando a vejo, vejo que a minha rua já viu você que me lê, e que, porque pode ser que me leia, me cobra outro fôlego, oferecendo novos apertos. A minha rua já nos viu beijar e me viu descendo trôpego nos primeiros dias daqui... passados, passadinhos remotos. Ela é bonita e contém a minha casa, a terceira ou quarta das que já amei na vida. Cá estão. Esta minha rua, esta minha casa e este você: os terceiros ou quartos dos que já amei na vida.
(tudo tão bobo, tudo tão bom)